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O beijo

Pergunta para queijinho - quem foi o da ideia de dar beijos na boca? Uma dúvida que me tem inquietado. Quem, quando, porquê, onde, como, com quem? Não corram já para a Internet porque, logicamente, já fiz isso e estou pronta para vos deixar um resumo. Ora, se isto vem ou não da Pré-História, ninguém sabe. Pelos vistos, o pessoal das cavernas estava muito ocupado a desenhar mamutes e esqueceu-se de documentar nas paredes os beijos, se já os havia. Portanto, podemos deduzir que os homens não davam um beijo de despedida às mulheres quando saíam para caçar. Ou isso, ou correr com setas atrás de mamutes era algo mais digno de registo. O que entendo perfeitamente. Ou então talvez os beijos fossem dolorosos antes da invenção das escovas de dentes, com hálito a mamute. Adiante. Os Egípcios, também nada. E são os Hindus ali por volta de 1200 A.C que detêm o título de serem os primeiríssimos a falar por escrito de um beijo na boca, onde aparece uma frase que ainda hoje faz todo o sentido: “Amo beber o vapor dos teus lábios”. Algo assim. Apontem, é alta dica. Bom, encurtando, depois veio o Kama Sutra, os soldados beijoqueiros de Alexandre, o Grande espalharam o hábito por aí (parece que faziam e gostavam) e, ali pelo meio, já algures Idade Média, aparece o “beijo à francesa”, o tal beijo de boca aberta com língua (pelo menos, é isso que “beijo à francesa” quer dizer). Apesar de desconfiar que já metia língua antes dos franceses. Porque, convenhamos, eles já apanharam o beijo assim com alguns séculos de existência. Ora, mas nada disto responde à minha inquietação. Quem é que, pela primeira vez, olhou para outro alguém e pensou “devia colar os meus lábios naqueles lábios, para exprimir coisas”? Depois, acredito que tudo tenha sido uma evolução natural, de explorar os recursos disponíveis. O beijo que é o início de tudo. Tanto que todos nos lembramos, com mais ou menos embaraço, da nossa estreia. E, sem ele, não há nada. É o primeiro contacto mais íntimo. A primeira descoberta. Uma forma bastante elucidativa, agora que está introduzido na sociedade, de demonstrar o que estamos a sentir, o que queremos. E muito mais eficiente do que palavras. Tão avançada vai a História do beijo que o que não faltam são beijos famosos, eternizados no cinema, na pintura, na música, na literatura... Recordo um talvez menos óbvio, o primeiro beijo do Harry Potter, com a Cho Chang. Quando ele conta aos amigos, tem que responder à pergunta: “Como foi?”. “Molhado... É que ela estava a chorar.”. “Beijas assim tão mal?” Isto para lembrar que cada um tem as suas preferências na hora do beijo. E temos a lista do que torna um beijo mau, bom ou assim-assim. O beijo que, tanta vez, é um medidor de química - se não conseguem acertar línguas, vão conseguir acertar-se na vida? Acho que é uma pena o inventor do beijo, seja lá ele quem for, não ter patenteado a ideia. Porque, provavelmente, mudou o Mundo e a forma como olhamos para a boca. Em especial para aquelas que andamos mortinhos por provar. Merecia ter estátuas em todas as esquinas. O beijo, que é como soprar a nossa alma contra a de outro ser. Podia finalizar a falar do melhor beijo da História. Mas isso ia dar discussão entre nós, caros leitores. Não me parece algo consensual. Portanto, vou antes despedir-me a dizer-vos qual é o pior beijo da História - aquele que, apesar de muito desejado, nunca acontece.

VENTOS DO ORIENTE (DO EXÉRCITO DE TERRACOTA AO DEALBAR DA A.I.)

No final do século III antes de Cristo o primeiro imperador da China Qin Shi Huang mandou construir, em terracota, um autêntico exército composto por perto de dez mil soldados, mais de uma centena de carros de combate e meio milhar de cavalos. Ficaram enterrados, durante dois milénios, com a única função de “guardar” o túmulo do soberano de “possíveis” inimigos que, depois de morto, quisessem vigar-se das derrotas infligidas em vida. Não está feita, ainda, a contabilidade do gigantesco esforço humano, a desmesurada conta de horas de trabalho manual, a quantidade incomensurável de meios e recursos mobilizados para satisfazer o desejo de eternidade de quem, durante a sua existência, conquistou tudo quanto se propôs conquistar e venceu tantos quantos se lhe opuseram. A vontade do governante, teve início por sua iniciativa direta e prevaleceu muito depois do seu falecimento. Dois milénios depois, o novo senhor do Império do Meio veio empreender, trabalho ciclópico, mas de componentes, objetivos e mobilização humana de sentido completamente diversos do seu ancestral predecessor. A menos de mil quilómetros de Xian, na província de Shaanxi, onde foi erguido o mausoléu de Qin Shi Huang, está a ser construída a barragem Yangqu, no sopé do Tibete, sob o leito do rio Amarelo e que ficará concluída já em 2024. Para além da partilha da mesma nacionalidade, tudo o resto separa estas duas marcantes obras. Esta última não se destina a guardar o cadáver de nenhuma personalidade relevante, pelo contrário, irá fornecer água, fonte de vida, a uma população genérica e comum, de mais de cem milhões de habitantes. Se todos os guerreiros integrantes dos batalhões de barro cozido foram personalizados, individualmente, não havendo dois iguais, os módulos que vão ser sobrepostos para construir o paredão de 180 metros de altura de suporte à albufeira, serão totalmente padronizados, pela razão que a seguir se explicita. E essa é a maior diferença entre os empreendimentos em questão. Os engenheiros da Universidade de Tsinghua propõem-se levar a cabo o empreendimento hidroelétrico de forma totalmente automatizada, sem recurso a qualquer intervenção humana direta. Toda a atividade das escavadoras, camiões, tratores e demais equipamentos serão comandados e manobrados centralmente por competentes e poderosos computadores correndo algoritmos adequados de Inteligência Artificial. O muro que irá represar as águas crescerá por camadas colocadas por uma super-estrutura, em tudo semelhante a uma impressora 3D. É o futuro que, ainda há pouco assomava a ocidente, no continente americano mas que surge, pujante, na Ásia, onde o sol nasce. Nesta área que, inevitavelmente, marcará e condicionará o futuro próximo, Portugal tem já o seu lugar nas carruagens da frente do comboio do progresso. Dois investigadores de renome mundial, Joe Paton e Zachary Mainen organizaram, na zona ribeirinha do Tejo, um evento a que assistiu o Presidente da República e que irá marcar esta atividade nos próximos tempos. Pelas antigas instalações da Docapesca, a convite dos dois cientistas do Centro de Investigação da Champalimaud (que, recentemente apareceu, com inteira justiça, incluída no grupo dos dez centros mais importantes, a nível mundial, em Inteligência Artificial) passaram vários e importantes investidores internacionais em novas e imergentes tecnologias.