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AINDA A COVID (lições e ensinamentos)

Enquanto em Xangai vinte e cinco milhões de pessoas foram, de novo, enclausuradas em casa, por cá, tiram-se as máscaras. O alívio desta medida está expresso pela ministra da Saúde, Marta Temido, numa fotografia divulgada pela comunicação social e é, claramente, partilhado por todos. No início de 2020 as medidas eram as mesmas em todo o mundo. A diferença de atuações deve- -se a realidades que, partindo do mesmo ponto comum (a existência de uma pandemia altamente contagiosa e desconhecida até então), chegaram a pontos bem diversos. O alívio nas medidas de prevenção é possível pela criação, nos dois últimos anos, de um ambiente com um expressivo maior nível de segurança. Devido às vacinas! Sobretudo, devido à rapidez na sua obtenção, de forma eficaz e segura. Tal deveu-se não só ao enorme investimento de capital, mas também e sobretudo à colaboração ativa das entidades reguladoras que aceitaram, na área da saúde, o conceito de sandboxes regulatórias. Numa conferência na Faculdade de Medicina do Porto, promovida pelo Health Cluster Portugal, Francisco Serdoura do colaboratório 4LifeLab veio esclarecer o conceito. As entidades reguladoras são essenciais para garantir a segurança dos produtos desenvolvidos pelas farmacêuticas e demais laboratórios. Para isso fazem cumprir um rigoroso e securitário pacote legislativo. Porém é possível criar um ambiente especial, limitado, a tal caixa de areia experimental, onde é recriado o ambiente real mas onde as regras podem ser quebradas porque toda a evolução da experimentação é acompanhada, em contínuo, pelas autoridades reguladoras, que são chamadas para o grupo e consultadas, previamente sobre todas as ações que, propositadamente, saem fora das regras estabelecidas, para que nessas exceções, não haja qualquer risco para os participantes. Consegue- -se assim uma maior rapidez no complexo e moroso processo de investigação e comercialização de novos fármacos. Esta é, nos tempos atuais, uma das componentes do sucesso na atividade das empresas farmacêuticas, como bem explicou, na mesma conferência, Francisco Rocha Gonçalves da Sanofi. Há também a capacidade de desenvolver, de forma rápida e segura, novas tecnologias de produção dos medicamentos e testes de diagnóstico, como, igualmente, ficou evidente durante a pretérita (assim esperamos) pandemia. Mas não só. O uso de tecnologias de informação permite o acesso a uma quantidade crescente de dados e, sobretudo, ao seu tratamento adequado. Os Biobancos (em expansão acelerada) e demais repositórios de informação clínica de doentes permitem traçar perfis de doenças e indiciar caminhos de sucesso para o tratamento de doenças e patologias. Mas, a enorme dimensão dos registos e das propostas disponíveis traz um problema: como, na maioria dos casos, se navega em águas ainda desconhecidas, não se deve descartar nenhuma das hipóteses que contenham possíveis soluções promissoras, mas, sendo tantas e com tantas alternativas em cada uma delas... é impossível segui-las a todas. Daí que a maior das preocupações dos responsáveis por estas áreas seja a de... ERRAR DEPRESSA! Na inovação, é o aparecimento e reconhecimento do erro que propulsiona o sucesso. Quanto mais rápido acontecer, maior será o êxito! Ora aí está uma lição para os poderes públicos com funções executivas.

Discussões das boas não são as modernas

“Dá-me um bom motivo para não te desligar o telemóvel na cara agora mesmo?!”. Bem, se calhar aí não posso ajudar. Mas acabei de dar um bom motivo para atenderem chamadas longe de mim. Mesmo quando estou com auriculares nas orelhas. Posso nem estar, em boa verdade, a ouvir nada. E ser um engodo para vos espiar (riso maléfico). Juro que não fiz por mal. Estava sentada, sozinha, numa noite destas, no café. Pedi a bebida escura com o mesmo nome, “café”, que bebo forte e sem açúcar. E esqueci-me de tirar os fones dos ouvidos, apesar de ter desligado a música para conseguir pedir o dito café à menina que estava ao balcão a trabalhar. E com coisas aos gritos na nossa cabeça, por norma falamos muito alto, por isso carreguei no “off”. “Tendo em conta o que me disseste na nossa última conversa, achas que devo falar contigo?”. “Ui, isso foi dureza!”, pensei eu. E imaginei inúmeros cenários, que incluíram aquelas coisas extremamente sinceras que dizemos com os copos, mas que depois “nem era nada assim”. Só que está dito. A título de exemplo: “Comi o teu primo”, “O rabo da tua amiga é melhor”, “És chato e deixas-me entediada”. Pergunto-me, contudo, se essa conversa terá sido presencial ou através de um ecrã. É que o hábito de discutir pessoalmente está um bocado, diria eu com muita pena, em desuso. Vemos por aí em memes a circular na internet que os mortais temem a frase “temos que falar”. Mas isto pode ser dito por escrito, e vai dar ao mesmo. Na loucura, um áudio. Um monólogo, onde podemos falar, falar, falar e falar sem sermos interrompidos. Porque, ali estamos nós, a debitar “informação” para um aparelho electrónico. Perde-se a graça da argumentação na hora, sem grande tempo para pensar, tudo a quente, no verdadeiro calor do momento. “Devia ter-lhe dito X e Y! Não me lembrei, nem estava em mim!”. Agora, nestes novos termos discussionais (sim, esta palavra nem existe, lidem com isso) perde-se o imediatismo. Nem abrimos logo as mensagens, para não dar uma de ansiosos, ouvimos os áudios umas três vezes, só para ter a certeza do que fomos insultados. E para contra- -atacar temos todo o tempo do mundo. Até podemos pedir sugestões a um amigo, para pôr mais pimenta. Odeio discutir. É algo para o qual tenho pouco à-vontade. Por isso, partir para a discussão é o meu último recurso. Quando a minha paciência já expirou e a troca de ideias minimamente saudável já não vai lá. Mas nisso sou da velha guarda. Ao discutir via digital perde-se muita coisa, como quando adaptam os livros para filmes. E é fácil cair em erros de interpretação, por melhor que seja o Português do vosso opositor. Se calhar, preciso de me modernizar. Se calhar, discutir por mensagens escritas ou de voz até é uma forma de poupar tempo. Podemos estar a discutir enquanto fazemos o almoço, matamos o tempo de uma viagem ou trocamos de roupa para sair de casa. Podemos mesmo estar a ter várias contendas em simultâneo! Estas discussões tendem a acabar com um bloqueio nas redes sociais e respectivas plataformas de conversação. Ok, mais suave do que uma restrição judicial. Pelo menos, mais imediato e menos burocrático. E com menos chatices legais. Engraçado como discutir assim parece ter um tom mais definitivo do que a própria morte. Andamos a levar a vida online muito a peito. Discordam? Venham cá dizer isso a olhar na minha cara, se tiverem coragem!