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Acordo de reestruturação financeira da Sousacamp assinado esta terça-feira

Ter, 19/05/2020 - 17:26


O processo foi atrasado pelo impacto económico e incerteza provocados pela pandemia de Covid-19, mas está marcada para esta terça-feira a assinatura do contrato da reestruturação, que implica um perdão de 54 milhões de dívida, que corresponde a 75% do valor total de créditos que se aproxima dos 7

Abril e Maio, sempre!

Bons dias, boa gente. Espero que não vos falte saúde nem força para atravessar estes dias singulares. Há datas e valores que nos devem acompanhar todos os dias, mas queria fazer referência à entrada no inspirador mês de Maio, soalheiro e granaio. Abril e Maio significam dias de cantar a liberdade por entre semanas de liberdades restringidas. Ainda assim não pode uma pessoa que escreve textos, nem jornalista ou editor de jornal esquecer a data que há quase 50 anos nos deu a liberdade e a naturalidade com que fazemos estas coisas. Uma data cuja vivacidade das memórias se vai desvanecendo e que um dia tanto descaso terá como a Implantação da República e antes dela a Restauração e outros acasos que cicatrizam, caracterizam e até aqui trouxeram este povo. Por isso, assinale-se a liberdade. Queria ter dito viva-se ou celebre-se, mas no meio deste clima, até a liberdade fica temporariamente sem grande celebração. Pese embora o modesto aniversário, assinalemo-la efusivamente dentro de nós, o dia de mudança que nos abriu as portas e nos permitiu fazermo-nos gente. De nada valiam histórias nem impérios se éramos um povo miserável e medieval onde crianças morriam ao nascer por falta de tudo o que faz a dignidade. Onde os poucos rapazes que ficavam eram encaixotados para a guerra e lhes amputavam anos de vida em defesa de impedir os outros de defenderem o direito de terem mão na sua própria terra. Deus nos livre de franciscana e analfabeta miséria por mais trambolhões que dêem as economias e já agora que nos livre também de violências e prisões por mais agrestes que sejam as pandemias. Mas um Deus da igualdade, fraterno e solidário, não o Deus castrador, coercivo e de dantescos infernos que então se apresentava omni-presente como capataz de um regime pobre e podre. Um país terceiro-mundista desprezado por todos. Um país cujos tempos vincaram uma imagem atrasada aos olhos de outras nações e da qual ainda hoje lutamos por nos libertar. Um país onde nas aldeias do Nordeste vizinhos pediam de porta em porta por um cibo de pão ou um por um pauzito de lenha para se aquecerem e onde já depois de Abril quando os médicos iam falar às pessoas sobre planeamento familiar, de lá saíam corridos à pedrada por se atreverem a querer contrariar as mais elementares e aleatórias leis divinas. Não queria falar tanto do passado, embora seja importante não caírmos no esquecimento do que fomos há tão pouco tempo. Depois de Abril as portas foram-se abrindo, entrámos na Europa e por aí fomos aprendendo a construir a democracia e o desenvolvimento. E assim, nos tornámos um país que hoje, apesar das suas limitações e dependências, não deve nada em organização, conhecimento ou competência a nenhum outro país, tal como estes tempos em que todos enfrentaram um mesmo desafio vieram demonstrar. Até em termos de fazer a democracia temos já uma maturidade assinalável. Uma maturidade que nos permite dar ao luxo de nos dias populistas de hoje ter o equilíbrio convencionado e a educação suficiente para não embarcar em extremos ou saber colocá-los no devido lugar. O lugar do ódio, o lugar da segregação, o lugar da desigualdade. O lugar de tudo aquilo que não queremos nem precisamos. E mais, com a cereja em cima do bolo democrático que Voltaire defendia que é dar voz a alguns lobos em pele de cordeiro para que possamos perceber e distinguir quais são os valores e as ideias salubres das não potáveis. Sem medos, sem nos deixarmos contaminar, com equilíbrio e confiantes em quem somos e ainda mais nas novas gerações que despontam. Mas sem esmorecer nas medidas preventivas nem fazer descaso da história recente. É por isso que quando alguns escribas associam Abril a “traição”, como aconteceu neste jornal, se lhes deve dar viva voz para que a pobreza dos seus ódios e a exiguidade dos seus espíritos escorram até se perderem no bueiro dos dias. Brindo à sua liberdade de com ela fazer o que lhe aprouver e de com ela espingardar na direção que quiser, mesmo que o seu espírito pouca mais liberdade lhe saiba dar do que andar a disparar sempre nos mesmos e a desdizer até as datas que lhe permitiram que o possa fazer de pleno direito de forma pública e desimpedida. Que assim sempre seja a nossa sociedade. Viva a nossa democracia! Viva a liberdade de todos mesmo que por hora condicionada ao parapeito da janela ou da varanda. Viva a natureza em força que nos traz o mês de Maio e a força da natureza humana que não pode mais ser amordaçada ou tolhida. Não em Portugal. Somos nós os teus cantores da matinal canção, pois sempre no mês do trigo se cantará. Abril e Maio, sempre!
PS: “Numa sociedade saudável não deve haver apenas uma voz”. Nunca, acrescento eu. Que voem livres estas palavras desabafadas para uma clandestina e segredada posteridade que um jovem médico deixou cair há meses por entre o seu leito final.

* Leitor de Português na Universidade de Sun Yat-sen
Cantão Guangdong – China

O 25 de Abril

Eu não conheço o Sr. Henrique Pedro. Conheço a sua escrita que leio aprazivelmente neste jornal. Porque neste País que maltrata a sua língua aqueles seres empenhados em a defender, o caso de Henrique Pedro, merecem atenção, entendo por bem tecer considerações acerca do seu artigo relativo ao acto restaurador da liberdade de expressão de pensamento, da assumpção de podermos votar de acordo com os ditames desse mesmo pensamento, defender opiniões e conceitos contrários aos de outrem, em suma: a possibilidade de respirarmos sem receio de um espirro suscitar perseguições e entrada, pelo menos, nos arquivos da PIDE. Ora, o acima referido não o conquistámos como conquistámos possessões em várias partes do Mundo, foram os militares de Abril que corporizo no meu antigo vizinho e estimadíssimo amigo Fernando Salgueiro Maia, e não nos militares do exército fujão, assim apelidado por Marcelo Caetano.
O Sr. Henrique Pedro no seu artigo fala em três golpes de Estado no dia em que fui de Santarém para Lisboa às seis da manhã com a finalidade de ouvir uma aula teórica do sábio Padre Manuel Antunes, duas práticas sob a égide do agora Professor Doutor José Matoso, filho do autor de um célebre manual de História Universal, livro único do terceiro ao quinto ano do ensino liceal e na esperança de poder assistir à consumação dos zuns-zuns soprados e ouvidos na Livraria Apolo situada nos rés-do-chão do prédio onde vivia, frequentada amiudadamente pelo Maia, o Palma (morreu general), que o general José Carlos Cadavez conheceu pois o Fernando Salgueiro Maia comprazia-se em levá-lo à livraria vigiada pela PIDE, por isso mesmo o nosso conterrâneo capitão José Augusto Fernandes, comandante da PSP escalabitana, pisou o risco e fez o favor de me avisar. O Comandante Carrazedo (era a sua alcunha) posteriormente à acção vitoriosa viu-se confirmado no cargo e, nessa conturbada, veio posteriormente a comandar a PSP dos distritos de Évora e Portalegre, sendo estimado na cidade do gótico enquanto nela viveu. Se o Sr. Henrique Pedro reparar os militares referidos neste texto verificará serem plurais no pensamento, até opostos, iguais na qualidade de oficiais do exército. 
O seu artigo carreia palavras a justificarem a sua asserção, não contrario a tese apesar de nas dezenas de livros lidos que possuo sobre a revolução (termo em sentido muito restrito no meu modesto entender), os depoimentos e relatos ouvidos e comentados pelos principais intervenientes no processo contrariarem o expendido pelo também colunista do Nordeste.
O golpe resultou, os desvios e entorses sofridos provocaram dor mental e sofrimento físico podem não ter logrado a plena e conveniente reparação (o Maia foi removido para os Açores pelo seu amigo Ramalho Eanes) enquanto outros foram catapultados e exerceram funções derivadas da aplicação dos conceitos – em terra de cegos…, dos enganos comem os escrivães –, são consequência de mesmo nas revoluções sem sangue e dos cravos muitos dos seus filhos são vítimas de si próprios como o genial Francisco Goya lembra pungentemente no quadro Fuzilamentos de 3 de Maio.
Admito, aceito, azedumes contra a data que se tornou universal gostem ou não os seus compungidos detractores, admito, aceito pontos de vista a colocarem em causa posições e atitudes de bazófias e arrogâncias de quem devia ser humilde, já não aceito agressividades a atingirem o calafrio da utilização de armas e ataques físicos a defensores dos ideais expressos no manifesto do MFA sem deixar de considerar um hediondo desastre: a chamada descolonização. 
O seu artigo tem o mérito de permitir-me após a menção da data colocar o advérbio SEMPRE. Por tudo, até pelas desilusões Sempre.