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Deitaram o Pai Natal no presépio no lugar do Menino Jesus

Arrancaram o Menino do regaço da Virgem Maria, Sua mãe
subtraíram-No ao abraço de São José, Seu pai
e puseram a criança nua
a dormir ao relento
numa noite fria 
no meio da rua

        Quem?
        Os donos do mundo, quem haveria de ser?
        e todos nós também que estamos a promover
        tão desalmado acontecimento
        embora sem o saber

Arregimentaram depois um machucho velho
barbudo, imundo, anafado
que apelidaram de Pai Natal à margem do Evangelho
converteram-no em mito comercial
e deitaram-no na manjedoura vazia
para vender a palha do berço sagrado
e o esterco do curral da apostasia

        Que Deus nos valha!

O vento da guerra perpassa agora por toda a Terra
e a Paz jaz sepultada em túmulos de dor
lado a lado com o Amor

Na Europa governada por pilatos devassos
relapsos, cobardes, coniventes
já livremente acometem os ogres de Herodes
e demais facínoras dementes
que escarnecem da Virgem Maria
tratam São José com aleivosia
vilipendiam Cristo e a Cruz
e assassinam santos inocentes
tentando matar à nascença a Divina Criança
o pequenino Jesus

        É tempo de choro e de ranger de dentes
        de clamor e indignação
        para quantos em cujo coração
        ainda pulsam o Amor e a Liberdade

Já esmorece a luz da Esperança 
já enfraquece a força da Verdade 
já a democracia dá sinais de derrota
impera a corrupção

        De novo chora a Nação
        tarda a revolta da Razão

Ó povo! É a hora!

Boas Festas
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.

A prenda

Por razões culturais, mais do que religiosas, dezembro continua a cheirar a afetos. Em tempos onde os valores se misturam, emergem radicalismos com os quais nunca pensaríamos voltar a ter de ser confrontados. A cada alvorada somos surpreendidos por mais uma novidade que vai desvirtuando o sistema de valores que alicerçam a dignidade do homem e interpela sobre este existir.
Neste momento, sobressalta-me a forma como os dados pessoais de cada indivíduo estão a ser monitorizados e a celeridade com que diversas plataformas da administração pública cruzam informação. A título de exemplo, e depois de outros, está o governo a testar uma aplicação direcionada para a administração escolar que também irá recolher dados do ministério da saúde, possibilitando aos serviços administrativos conhecer, entre outros dados, o tipo sanguíneo de um aluno. Esta visão da realidade que se vai construindo silenciosamente, afigura-se-me como atentatória das liberdades e garantias conquistadas nas últimas décadas. Não admira pois que se queira tapar o “sol com a peneira” quando se propala a proteção de dados, se pedem autorizações para as pequenas coisas e se escancaram as portas para o essencial da vida.
Este afã da devassa da vida de qualquer um, não é só bandeira das televisões, mas o próprio estado passa a intrometer-se nos pormenores do quotidiano, repercutindo-se na vida de cada um, e condicionando a dinâmica social, sendo que, quanto mais reduzida for a comunidade, mais impacto tem o factor condicionante.
Nesta era de cruzamento de dados, lembrou-se a governação de alterar o Código dos Regimes Contributivos do Sistema Previdencial de Segurança Social mediante o Decreto-lei n.º2/2018 de 9 de janeiro. Em termos gerais, altera as taxas contributivas dos trabalhadores independentes mas também procede a alterações no que respeita à acumulação da atividade independente com a atividade por conta de outrem. Em linguagem corrente, pretende-se que quem trabalha por conta de outros mas, em vez de ir para o sofá depois das horas dadas ao patrão, considera que faz sentido fazer algo de útil e, ao mesmo tempo, daí tirar algum rendimento, passe a pagar mais uma contribuição.
Tendo uma perspetiva nacional, pode ter-se uma leitura não coincidente com a que se faz quando a análise se foca numa dimensão regional. Sem grande margem de erro, na realidade transmontana, mais de noventa por cento dos contribuintes que se encontram nesta situação são-no porque, ou por herança ou por amor à terra, são proprietários de pequenas parcelas. Das mesmas podem retirar um rendimento que, na maior parte dos casos, nem dará para pagar os custos de produção. Mas, o certo é que se o rendimento mensal médio for igual ou superior a quatro vezes o valor do indexante dos apoios sociais, fica o trabalhador sujeito ao pagamento de contribuições.
Em termos concretos os efeitos já se fazem sentir: recebida a informação da segurança social em julho, já há quem no mês seguinte tenha ido alterar a sua situação nas finanças. Agora que a entrada em vigor do diploma se aproxima quer parecer-me que muitos mais irão fazer isso. 
Se com esta prenda, é que o governo pretende dinamizar as terras do interior e combater o seu abandono, garantidamente errou a estratégia. Mais uma vez a discriminação positiva ou a atenção especial para com os territórios de baixa densidade não passam de figuras de retórica. Também não me parece que venha a ser criado um regime de exceção para quem trabalha a terra e ao mesmo tempo seja trabalhador dependente – não só não há dimensão, como quem nos representa não colocará esta questão na sua agenda.
Se as terras ficam a monte multam por não estarem cultivadas, se estão cultivadas pagam porque tiram proveitos. É caso para dizer: com prendas destas, o melhor é dedicarmo-nos à pesca.

Tanto com tão pouco. Tanto para tão pouco

No encerramento do Conselho Raiano, dedicado ao Ensino e ao Futuro dos Territórios Raianos levado a cabo pela Rionor, a Presidente da Câmara de Mirandela, Júlia Rodrigues, enquanto anfitriã da última jornada, ao agradecer a presenças das entidades presentes (o Ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues e o Consejero de Educación de la Junta de Castilla León, Fernando Rey, entre outras individualidades dos lados de cá e de lá da raia nordestina) reconheceu e elogiou o muito que a Rionor faz, com os poucos meios que tem. Não sendo grande novidade para todos os que, de alguma forma, acompanham as actividades da Associação com sede em Rio de Onor, não deixa de ser relevante e é, de alguma forma, reconfortante ver reconhecido o esforço, empenho e resultado que a equipa liderada por Francisco Alves está a levar a cabo de ambos os lados da fronteira que o nordeste partilha com Castilla León. E é bom acrescentar que muitas das actividades que a este nível são concretizadas implicam um trabalho imenso de bastidores que sendo invisível para o público em geral, raramente é conhecido e, logicamente, ainda menos reconhecido. Curiosamente, num dos intervalos das jornadas rionorenses comentava exactamente este tema com o Norberto Veiga, a propósito do trabalho intelectual que implica, para a maioria de nós, muito suor, esforço e dedicação. Por coincidência, nesse mesmo fim de semana, remexendo em papéis velhos encontrei, por acaso, vários textos meus, com mais de trinta anos. Manuscritos, obviamente, e muito rasurados com leitura difícil a que, quando tiver tempo, me hei-de dedicar. Contudo saltou-me à vista e reconheci, de imediato, o primeiro esboço de uma descrição em que comecei a trabalhar no princípio dos anos oitenta e que apenas foi publicada integrada no meu romance, A Morte de Germano Trancoso, com mais de três dezenas de anos passados. Teve, obviamente, incontáveis versões, sendo que de muitas delas, por causa da facilidade de escrever, modificar e copiar, em computador, não ficou qualquer registo. Não se perdeu nada! 
Disto o que é importante relevar é que ao constatar que com poucos recursos se fez muito, é bom não esquecer que é necessário acrescentar ao visível a imensidão do que fica escondido e, muitas vezes perdido, para que se consiga algum valor ao produto final.
Das jornadas em si, a douta comissão designada para tal, trará a público as respectivas conclusões. Sem me querer antecipar não ignorando a qualidade dos respectivos membros não quero deixar de trazer aqui uma pequena provocação que a escassez de tempo impediu de levantar na altura. Um dos temas mais falados e defendidos por todos os intervenientes foi o da cooperação. É uma realidade inelutável. Cada vez mais o que se faz de bem feito e com valor, resulta de trabalho cooperativo e coordenado. É assim no trabalho mas também na investigação e inovação, onde residem, cada vez mais, as mais-valias importantes para o desenvolvimento futuro. Sendo assim, porque é que os exames continuam a ser individuais e não se valorizam adequadamente os trabalhos de grupo? Já agora, numa altura em que os diplomas deixaram de ser a garantia de uma ocupação futura, porque é que o ensino continua virado e focado na obtenção do certificado final de aprovação?
BOAS FESTAS!

Água mole – Ponto de vista dois

Falei do que me parecem ser os benefícios dos fenómenos migratórios. Mas convém tentar ver outras coisas. Mesmo que existisse uma política global, séria, sistemática de recrutamento e integração de imigrantes, isso não isentaria de obstáculos. Repito o que disse noutra altura: viver nestas sociedades ditas ocidentais, não é pera-doce. É certo que vistas de fora elas reluzem e atraem. Mas o relativo desafogo material de que desfrutamos leva-nos couro e cabelo, pagamos com língua de palmo o relativo bem-estar, a ordem, a segurança. Noutras partes do mundo a existência, embora menos segura, é mais relaxada.
Não podendo acolher todos os que de alguma forma se sentem insatisfeitos nas suas terras, porque são muitos, a europa pode integrar uns quantos milhões. Mas duvido que aqueles que a procuram para refazer as suas vidas no aspeto material tenham consciência daquela realidade. E quanto a saberem que ela é apenas a parte visível de uma história de dois mil e quinhentos anos, nem se fala. Além do mais, para os corajosos o panorama não é cor-de-rosa. Esperam-nos pelo menos duas ou três gerações de sacrifício, com dificuldades maiores ou menores em assimilar a língua, a cultura, a mentalidade dos residentes, enquanto vão cortando o cordão umbilical com as de origem, processo penoso que pode não correr bem, e por vezes não corre. Durante esse período, o mais provável é que a grande maioria dos recém-chegados ocupe posições sociais de pouco prestígio e baixos rendimentos. Sobretudo as segundas gerações, já cidadãos de pleno direito mas ainda com hesitações quanto à identidade, podem ter tendência a sentir-se desenraizados, injustiçados, revoltados. Um caldo de cultura propício ao germinar de marginalidades, delinquências ou até crime, como mostram os milhares que se juntaram ao daesh. Ou seja, mesmo uma situação ideal já implica transtornos que bastem. Tudo se complica, obviamente, no caso das deslocações selvagens em massa como as que estão a acontecer, dado o seu potencial desestabilizador.
Uma parte dos intelectuais europeus interiorizou os abusos da exploração colonial, que são factos inegáveis (com a escravatura em plano de destaque), em forma de má-consciência, sentimento reforçado pela noção das regalias de que nesta parte do mundo hoje desfrutamos e que contrastam com as condições menos favoráveis em que vive parte significativa da humanidade. Ora, como é sabido, toda a culpa redunda em desejos de expiação, sendo compreensível que, para muitos, esses complexos latentes sejam despoletados ao depararem-se com aqueles botes a abarrotar de pessoas ameaçando ir ao fundo no meio do mediterrâneo. São cenas que impressionam quem quer que tenha alguma sensibilidade. A este propósito penso nos documentários do início do século passado que mostram imigrantes de toda a europa a chegar à ilha nova-iorquina de ellis. Mesmo à distância não há frieza que resista perante o retrato vivo da pobreza, da fragilidade, da humildade humana. Porém, essa visão romântica contrasta vivamente com a que mostram muitos migrantes de hoje.
Não é o caso de pôr em dúvida a sua qualidade de vítimas, particularmente de redes de tráfico que os exploram e enganam. No entanto, para além de tomarem decisões voluntárias, há em muitos deles uma série de sinais que intrigam e retiram seriedade àquilo que nos é apresentado como problema humanitário. A começar pelo facto de se tratar de gente com muito bom aspeto, que domina as últimas novidades tecnológicas, se exibe em festa para as câmaras mal acaba de saltar a rede em mellila com a ligeireza de quem acaba de ganhar uma competição e, enquanto executa os mesmos trejeitos mímicos de quem está num reality show, deixa imediatamente clara a exigência de um país preferido: germany! england! 
E há outras estranhezas. Conhecemos bem a máxima “quem não tem vergonha, todo o mundo é seu”. Ora, quanto a isso, fico com a incómoda impressão de que a globalização deu a muita gente a sobranceira ideia de que “é tudo nosso”. Afeta-me um pouco que cheguem repletos de direitos, exigindo, manifestando-se, lamentando as fracas condições que encontram pelo facto de terem pago não se sabe a quem uma certa quantia em dinheiro. Coisas que não podem ser encaradas à la légère. E ao exprimir os seus receios perante elas, o cidadão europeu comum não precisa de ser xenófobo ou racista.

Tradição e originalidade nos presépios

Qua, 26/12/2018 - 09:54


Olá, como estão os leitores da nossa página?
Estamos a viver o Natal de 2018 e, para mim, o 29.º no seio da Família do Tio João. Na sexta-feira passada fiquei muito sensibilizado com a atitude de uma pessoa que ao ver um invisual que queria passar a estrada na passadeira da Av. Sá Carneiro, junto à entrada para o túnel sem que os automobilistas parassem, foi mandar parar os carros e ajudou-o a atravessar em segurança.
São estes gestos que nos sensibilizam para o espírito de Natal, que deveria ser todos os dias do ano e não só nesta quadra.

Nunca mais é Natal!?

Seg, 24/12/2018 - 11:56


Calha este ano que a edição próxima do solstício de Dezembro sai no próprio dia de Natal, adaptação cristã de celebrações que, pelo menos desde o Paleolítico Superior, são observáveis entre os humanos, na sua relação com o pulsar da natureza, resultante da percepção que lhes era possível dos ritm