Portugal não está em guerra, felizmente, ainda que violentos conflitos armados grassem por perto, dentro do seu próprio espaço vital democrático.
Portugal não está em guerra, mas é como se estivesse, porque desde há bastante tempo a esta parte, demasiado dir-se-á, que vem sofrendo os malefícios próprios de tempos de guerra, como sejam atrasos sistemáticos no crescimento económico (mesmo sem o esforço de rearmamento que agora se projecta), redução drástica da sua população nativa e residente, emigração de milhares dos seus filhos e empobrecimento inaceitável de grande parte da Nação.
Há mesmo quem considere, de igual forma, a significativa perda de soberania resultante da adesão à agora denominada
União Europeia, ainda que, no meu entender, esta seja aceitável e positiva, desde que colocada em pé de igualdade com os demais parceiros, como se tem verificado.
Dir-se-á, portanto, que os políticos portugueses têm vindo a governar Portugal como se este estivesse em guerra, ainda que de facto o não esteja, tantas e tão sérias são as crises em que sistematicamente enredam o Estado. Georges Clemenceau, primeiro-ministro francês do tempo da Primeira Grande Guerra, proferiu, na altura, uma frase que ficou célebre e que passo a citar: “A guerra é um assunto demasiado sério para ser deixado nas mãos dos militares”.
Ideia que recrio, com a devida vénia, adaptando-a à situação de crise sistemática em que o regime político português se afunda: “Governar um país é um assunto demasiado sério para ser deixa- do nas mãos de políticos profissionais”.
A verdade é que, lamentavelmente, a esmagadora maioria dos portugueses tem andado alheada da governação, deixando o seu destino exclusivamente nas mãos de maus políticos profissionais o que, quanto a mim, está na base do larvar desastre nacional.
O elevado número de abstencionistas, entendidos como todos aqueles que, voluntariamente, se privam ou desistem de direitos políticos, cívicos ou sociais fundamentais, com destaque para o sagrado direito de votar em todos os actos eleitorais, que também é um dever inalienável é, por isso, a todos os títulos condenável.
Ainda que, quanto a mim, as explicações para este insucesso sistemático devam ser pro- curadas no quadro do Regime Político vigente que, como se sabe, está inexoravelmente ferido da hegemonia partidária, que promove a baixa qualidade dos políticos e a pobreza da vida política nacional, o aviltamento da Justiça, a ineficiência dos Serviços Públicos e a corrupção generalizada. Os resultados estão à vista de toda gente, por mais que os políticos se esforcem por disfarçá-los!
Não basta que os cidadãos votem quando e como os políticos entendem. É-lhes exigido mais!
Devem ir mais fundo na defesa dos seus direitos, começando por reclamar o fim dessa fatídica hegemonia partidária, por forma a que também cidadãos independentes possam concorrer, em eleições legislativas, em pé de igualdade com os partidos, como já o podem e devem fazer, agora com mais força, nas eleições autárquicas, o que tão positivos resultados tem dado.
Sobretudo agora que os políticos mais afamados enchem a boca com reformas, cada um tentando mostrar ser mais reformador que o outro, muito embora coloquem de lado a indispensável Revisão Constitucional, tenha ela que amplitude tiver, o que não deixa de ser significativo e muito estranho.
É que, sem uma adequada Revisão Constitucional também as indispensáveis reformas do regime que dela dependem, com sejam a Justiça, a Regionalização, a Lei Eleitoral e Autárquica, e tudo que tem a ver com o eficaz combate à corrupção, não terão sentido.
Isto demonstra que as reformas que os políticos projectam são as useiras e vezeiras injecções de dinheiros no aparelho de Estado, abrindo portas a mais empregos para amigos e correligionários e às emblemáticas negociatas regimentais, que tanto têm prejudicado o país.
A possibilidade de cidadãos independentes, isolados ou associados, também poderem concorrer, em eleições legislativas, espontaneamente, em representação dos círculos eleitorais a que pertencem, sem a obrigatoriedade de se constituírem ou espuriamente militarem em partidos políticos, é a mola real para salvação da democracia e o progresso nacional.
Sabemos bem que é isto que os políticos profissionais não querem, nem permitem que aconteça. Contudo, não devem os portugueses perder a esperança de que, fruto das circunstâncias eleitorais e quando me- nos se espera, alcancem o poder governantes verdadeiramente reformadores, patriotas e democratas.
Este texto não se conforma com o novo Acordo Ortográfico.
Vale de Salgueiro 12 de junho de 2025.