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A proximidade é a melhor terapia

Qua, 17/09/2025 - 12:03


Há muito que no Interior do país se fala de dificuldades de acesso a serviços essenciais. Saúde, transportes ou educação parecem, demasiadas vezes, bens de segunda categoria para quem vive longe do Litoral. Em Freixo de Espada à Cinta, as distâncias não se medem apenas em quilómetros, mas também em tempo, dinheiro e desgaste físico e emocional para algumas famílias.

Até agora, dezenas de pais eram obrigados a percorrer, semanalmente, longas viagens até Mirandela, Mogadouro ou Bragança para garantir que os filhos pudessem ter consultas de terapia da fala. Um percurso que, somado ao esforço financeiro e à exigência logística, acabava por pesar duplamente, nas contas da casa e no rendimento das próprias crianças, que, muitas vezes, chegavam cansadas às sessões.

Foi neste contexto que surgiu a decisão do município de Freixo de disponibilizar consultas de terapia da fala a mais de trinta crianças do ensino pré-escolar e do primeiro ciclo.

Uma medida simples na aparência, mas transformadora na prática. O facto de estas consultas passarem a acontecer nas próprias instituições escolares, no ambiente familiar das crianças, representa uma viragem significativa. É aqui que a proximidade se revela um fator de inclusão e de justiça social.

Num tempo em que se discute a desertificação do Interior e a dificuldade em fixar população, políticas como esta são prova de que os municípios podem e devem ser parte da solução. Ao comparticipar 75% das consultas já este ano, e ao assumir a intenção de, no próximo ano letivo, cobrir a totalidade dos custos, a autarquia está a aliviar o orçamento familiar, mas está também a afirmar que, independentemente do código postal, todas as crianças têm direito às mesmas oportunidades de desenvolvimento.

Este investimento tem um impacto enorme. Para as famílias, significa menos horas de estrada, menos pedidos de folga ao patrão, menos contas para pagar ao fim do mês. Para as crianças, significa mais tempo de qualidade, mais atenção nas sessões e maiores hipóteses de superar dificuldades de linguagem numa fase crucial do crescimento. E para a comunidade, significa um reforço da confiança de que o Interior pode ter respostas à altura das necessidades.

No distrito de Bragança continuam a faltar médicos de família, consultas de especialidade, transportes públicos regulares e condições para fixar jovens profissionais. Mas, ao mesmo tempo, iniciativas como esta mostram que não estamos condenados à resignação. Quando há vontade política, parcerias bem estruturadas e uma verdadeira sensibilidade para as fragilidades locais, é possível aproximar serviços das pessoas e reduzir desigualdades.

A história de Ângela Araújo ou a de Rita Pires, que conhecemos nesta edição, mães que se viam obrigadas a perder horas na estrada para dar aos filhos aquilo que no Litoral está a curta distância, não deve ser encarada como normal. É um retrato de como o país continua a tratar de forma desigual quem vive fora das grandes cidades. Mas também é, agora, um sinal de que é possível mudar essa realidade.

O desafio que se coloca é garantir que medidas como esta não são exceções dependentes do ciclo político. É preciso que se tornem regra. A igualdade de oportunidades não pode ser um slogan vazio, tem de ser um compromisso diário.

Em Freixo a terapia da fala já não se mede em quilómetros, mas na proximidade que faz a diferença.

Resta que este exemplo lembre que as soluções estão muitas vezes mais perto do que parece. Basta que haja coragem.

 

Carina Alves, Diretora de Informação