Qua, 10/12/2025 - 14:49
No distrito de Bragança, terra de gentes que sabem o peso da distância e o valor da palavra escrita, ameaça instalar-se uma sombra medonha, a da desinformação por abandono.
A Vasp, empresa que há décadas conduz pelas estradas do Interior o sopro diário das notícias, reconhece agora que as rotas de Bragança e de outros distritos do país se tornaram financeiramente frágeis. Custos que sobem como invernos teimosos, vendas que descem como folhas em outubro, receita que já não cobre o caminho percorrido. E, no meio desta equação, territórios como o nosso são os primeiros a perder. A empresa fala de compromisso com a coesão, mas admite cenários de redução e até de suspensão. Cada hipótese tem o peso de um portão que se fecha devagar.
Tudo isto não é um detalhe técnico, nem mero ajustamento logístico, é um golpe na espinha dorsal da nossa ligação ao país, ao debate público, ao próprio exercício da cidadania.
Em Vimioso, onde se pode sentir a falta do jornal diário, e em Freixo de Espada à Cinta, que pode juntar-se a esse silêncio, a ausência da imprensa não é metáfora, é realidade que fere o direito constitucional à informação. E é fácil esquecer, em gabinetes distantes, que há lugares onde a internet falha, onde o rumor ainda substitui a certeza, onde o papel impresso é, todos os dias, a única janela para o mundo.
Os autarcas avisam. O Sindicato dos Jornalistas alerta para o impacto na profissão e na própria democracia. O PCP questiona o Governo. Mas o tempo da região é outro. Aqui, cada semana que passa sem resposta pesa mais do que em qualquer grande cidade. E já sabemos, mesmo que a promessa venha... fica sempre suspensa como nevoeiro que não se desfaz.
Bragança, esta província de braseiros nos invernos e sombra fresca no verão, de aldeias que resistem e de cidades que se reinventam, não pode ser penalizada por viver longe do centro. A distância não pode justificar desigualdade. A interioridade não pode ser confundida com irrelevância. Se os jornais deixarem de chegar, perde a democracia, empobrece o debate, cala-se a pluralidade. E cada habitante fica mais só, diante de escolhas que exigem informação.
Cada jornal que chega ao balcão de uma tabacaria, cada revista colocada na banca de uma vila pequena, é um gesto de resistência. Um lembrete de que a democracia também se alimenta no Interior, também se escreve, também se lê.
Por isso, este distrito ergue a voz, não se pedem privilégios, mas sim justiça.
Que Governo, distribuidores e editores encontrem, com urgência, a solução que nos permita continuar ligados ao país e ao mundo. Que o amanhecer em Bragança nunca chegue sem jornal, porque, sem ele, o dia nasce mais curto e a cidadania mais pobre.
O Estado não pode ser mero espectador. Sem uma política clara para a distribuição da imprensa, o mapa do país volta a desenhar-se segundo as velhas linhas da desigualdade, o litoral com acesso pleno e o interior reduzido a notas de rodapé.
Carina Alves, Diretora de Informação.



