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Vimioso vence duelo de candidatos

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Ter, 10/10/2017 - 16:15


O Vimioso venceu, no domingo, o Grupo Desportivo Mirandês por 2-1 no pontapé de saída da Divisão de Honra da A.F. Bragança.
Os comandados de Duarte Fernandes acabaram por levar a melhor no confronto entre dois dos candidatos ao título distrital.

São Pedro procura casa em Lisboa

Ora viva minha prezada gente. Há quanto tempo! Como vai essa saúde? E a família, tudo em ordem? Espero que sim! Ora parece que este ano o ditado que diz “em Outubro, fogo ao rubro” até soa a piada de mau gosto. Em vez de andar sossegado pelas lareiras anda aí à solta a dar trabalho e chatices fora de tempo. Isto hoje em dia já não está para ditados. Não dá para lhes fazer a atualização, por isso ficam descontinuados. Nem para ditados nem para castanhas! Compreendem agora para onde é que vai grande parte da taxa aeroportuária. São Pedro, ele mesmo, tomou-lhe o gosto. Chinelo no pé, barba bem aparada, smartphone, chaves do carro, maço de tabaco e óculos de sol em cima da mesa da esplanada, “era mais uma, se faz favor”, babes ao fundo a molharem os pés na orla da praia, isto merece uma foto, #não é fácil, #autumn of 2017. Sempre foi meio céptico, mas encontra-se completamente rendido às evidências, há quem diga que está a atravessar uma crise de terceira idade, outros dizem que foram os copinhos de chocolate da ginjinha de Óbidos. Primeiro a Secretaria de Estado do Turismo enviou-lhe uma carta, obrigado por toda a consideração e amabilidade que tem tido connosco nestes últimos anos, dentro seguia um bilhete de avião para vir cá em baixo ver isto com outros olhos. Tempos depois mandaram fechar o gabinete para lhe renovar o visto. Peixinho grelhado, copo de vinho branco, toucinho do céu. “Esta gente estraga-me com mimos”. Sacrilégio é não dar uma ajudinha para continuar a fazer de Portugal o país mais cool da Europa. Com o seu charme de sessentão renascentista tem sido visto no ginásio, consta que disse que o budismo até é uma cena fixe que não impõe nada a ninguém e que se não tivesse medo de agulhas até fazia uma tatuagem de uma daquelas mãos com olhos no meio das costas. Está a levar isto de ficar entre nós muito a sério e aos poucos vai ficando entendido na matéria, na sua opinião não havia motivo para grande penalidade, prefere o pão de Mafra ao pão alentejano, o bitoque não é bem nem mal passado e o café é sempre curto em chávena escaldada. Se for para ficar cá a viver ainda está indeciso entre um apartamento remodelado com ampla vista para o Tejo ou uma moradia na margem sul mesmo junto à praia. Diz que já andou a ver casas muito bonitas do outro lado do rio, mas todas têm o inconveniente de ficarem de costas para o Cristo-Rei e “isso é uma coisa que dá azar”. Enquanto e não, está a partilhar um quarto através do Airbnb, reconhece que podia estar num hotel com outras mordomias, mas assim “conhece-se pessoas e é mais humano”, embora o colega de casa agora tenha trazido a namorada para viver come ele e ela “deixe o lavatório cheio de cabelos”. Já sabe pedir “água com gás” em português, para meditar e encontrar-se com Deus gosta de ir à Boca do Inferno, não é particular apreciador de bacalhau e diz que acerta “quase sempre” no preço da montra final. Mas além de andar por cá a levar uma vida santa São Pedro também tem de mostrar serviço. Está responsável por não fazer cair uma gota de chuva e deixar o Verão ficar por cá até lhe dar na real gana, ano após ano. Se os governantes nos vendem lá fora como o país com “mais de 200 dias de sol por ano” com São Pedro entre nós podemos ir até aos 300. Nem precisamos de chuva, só serve para espantar as pessoas. É como mudar de canal e aparecer a Teresa Guilherme. Para justificar o investimento está com algumas ideias em carteira: primeiro essa coisa do 21 de Setembro, dos solstícios e equinócios tem de acabar, isso é muito pré-história, não reflecte os tempos modernos. O Outono não precisa de 3 meses para nada, pode ceder um mês ao verão e ainda lhe sobra tempo para andar a varrer folhas do chão. Depois também não tem jeito nenhum fazer a juventude começar as aulas com mais um mês de calor intenso pela frente. Um aluno não se consegue concentrar quando poderia estar lá fora a apanhar umas ondas e a curtir um festival de verão para ser forever young. Festivais de Verão até Novembro claro, permitiria realizar mais uns 120, pelo menos. Noites e festas temáticas, publicidade com gente descascada, bebidas que não são carne nem peixe, etc, toda uma indústria que poderia ser melhor aproveitada se não fizéssemos de conta que o Verão acaba mais cedo. São Pedro até costumava ser amigo dos agricultores, dos pastores e de todas as coisas campestres e com cenários bucólicos, mas isso já foi chão que deu castanhas. Pode ser que seja só uma fase. Forte abraço!

 

NÓS, TRASMONTANOS, SEFARDITAS E MARRANOS - Beatriz Pereira (n. Mogadouro, 1665)

Nasceu na vila de Mogadouro pelo ano de 1665. O pai chamou-se Belchior Fernandes e era “caseiro” na quinta do Vimieiro, termo da Torre de Dona Chama, Mirandela, de onde foi para Mogadouro casar com Beatriz Lopes. Esta era filha natural de uma Catarina Martins e de Francisco Lopes Pereira, o Papagaio, de alcunha, mercador, casado com Maria Dias. Embora fosse filha natural, o pai nunca a desamparou e sempre a reconheceu e tratou como filha e a casou e lhe deixou em herança as casas e propriedades que tinha em Mogadouro, nomeadamente uma Quinta que ainda hoje é conhecida pelo nome de Quinta da Papagaia e então se nomeava Quinta do Souto. (1) Para sua casa, a trabalhar com ele, entrou até o “genro” Belchior. E quando Francisco Lopes Pereira, por 1654, foi para Madrid, Belchior acompanhou-o. E em Madrid, no hospital real, este acabaria mesmo por falecer.
Criada em Mogadouro, (2) contando cerca de 20 anos, Beatriz Pereira foi para Castela onde casou com André Vareda, que ela tinha na conta de cristão-velho. Em volta deste homem há, no entanto, uma verdadeira nebulosa. Uns dizem que é natural de Roma, outros de Pádua e Gaspar Lopes da Costa, irmão de Beatriz afirma que ele era natural da vila de Mogadouro.
Facto é que, a vida de Beatriz e Vareda foi um constante peregrinar de terra em terra. E se por 1685 ela estava ainda solteira e “órfã de pai e mãe” a viver no Mogadouro, já em 1690 aparece casada, ocasionalmente “assistindo” em Lisboa onde lhe nasceu o filho José da Costa. Três anos depois morava em Castela, na cidade de Cádis onde nasceu o filho João de Vareda. Por 1698 viajava pela cidade do Porto, “pousando” em casa de sua cunhada Beatriz Lopes da Costa a quem foi pedir 4 000 cruzados, que esta recusou emprestar-lhe. No ano seguinte estava ocasionalmente em Lisboa, hospedada em “uma estalagem junto às Portas do Mar”. Teria então casa montada em Badajoz onde, pelo ano de 1700, Brites Pereira deu à luz a filha Luísa Maria Rosa. Quatro anos mais tarde a terra de morada era Viana do Castelo onde nasceu o filho António Lopes da Costa. Passou de novo pela cidade do Porto “pousando” então em casa de seu irmão Gaspar Lopes da Costa.
A partir dessa altura, fixariam residência em Lisboa, na freguesia de Santo Estêvão, e pelo ano de 1713 / 1714, sofreria dois grandes desgostos. Um deles foi a morte de seu marido e o outro derivou da prisão do filho João da Costa ou Vareda (3) pelo tribunal do santo ofício.
Os anos seguintes foram para ela de alguma dificuldade económica e grande perturbação religiosa, vendo-se Beatriz seguir a pé, descalça, em procissões e romarias cristãs ou metida nas igrejas a rezar, o que muito escandalizava os seus correligionários. E acontecendo adoecer-lhe uma filha, Beatriz não se atrevia a ir ter com sua “tia” Beatriz Pereira Angel, filha do Papagaio e de sua mulher, (4) a qual era rica e morava em Lisboa. E indo pedir apoio a D. Paula Manuela, esta respondeu:
- Como queria ela que a dita sua tia Beatriz Pereira a socorresse quando cada dia lhe iam dizer várias pessoas que a encontravam fazendo romarias, descalça, à Madre de Deus, ora estando encomendando-se ao Menino Deus?
Argumentou primeiro que fazia aquelas coisas de cristã “para remir a miséria e vexação em que se achava”. Depois emendou e disse “que ela fazia as romarias para ser bem reputada da sua vizinhança”. Facto é que a tia a socorreu “pois dali por diante, ainda que a dita tia Brites Pereira Angel a não queria ver, lhe mandava assistir na doença da dita sua filha Luísa Maria Rosa, com médico, botica e meia galinha cada dia e lhe prometeu que lhe fazia os gastos do enterro se a mesma falecesse”.
Não sabemos se foram as dificuldades económicas que, por 1717, a levaram a mudar-se para Chelas, a viver em uma quinta, duas léguas distante de Lisboa, servindo ela e a filha em casa de D. Maria Bernarda de Vilhena.
Em 15 de Maio de 1719, embarcou com a mesma filha (Luísa Maria) para o Brasil, aportando na cidade da Baía em Julho e seguindo a morar na roça e casa do filho José da Costa. A viagem foi no navio Santo António de Pádua, dirigido pelo capitão António Antunes de Araújo.
Ali viveu por 7 anos e meio, até ser presa pelo santo ofício, dando entrada na cadeia de Lisboa em 22.11.1726. Começou por negar as culpas de judaísmo que lhe imputavam mas acabou por confessar que fora doutrinada quando tinha uns 20 anos, em Mogadouro, antes de ir para Castela, por Francisco Lopes, (5) mercador, casado com Leonor Dias. Depois, em Cádis, uma Isabel Vargas, originária de Vila Real continuaria a sua doutrinação judaica.
O processo de Beatriz tem algum interesse para o estudo do urbanismo da vila de Mogadouro. Veja-se, nomeadamente a informação que nos dá sobre as casas de sua morada sitas “abaixo da cadeia, que tinham quintal e dois poços, e pela parte donde ficava a cadeia partiam com casas de um irmão dela, Gaspar Lopes da Costa e da outra parte com umas casas caídas que haviam sido de duas pessoas da nação, e que o quintal partia com outro de Maria Machada”.
Igualmente interessante para o estudo da comunidade marrana da Baía que se juntava em grupos familiares alargados para a celebração do Kipur. Neste caso, no ano de 1719, por exemplo, em casa de José da Costa e Ana de Miranda, sua mulher, juntaram-se: Beatriz Pereira, Gaspar Fernandes, Luísa Maria, João Gomes Carvalho, António Lopes, Carlos Pereira, Gaspar da Costa e Miguel Nunes, que todos os 10 ali permaneceram todo o dia, conforme testemunho de Ana de Miranda, transcrito no processo da sogra, Beatriz Pereira.
Sobre o inventário de seus bens, para além da casa e da Quinta da Papagaia atrás referida, vejam a rúbrica seguinte, deveras interessante para se fazer um retrato da sociedade esclavagista da época:
- Tem uma escrava chamada Teresa Pereira, que terá 13 anos, a qual mandou vir de Angola com outra mais que mandou vir da Costa da Mina e faleceu, para com elas pagar uma dívida de cem mil réis a uma filha de D. Lourença de Soto Maior chamada D. Maria Bernarda de Vilhena, assistente nesta cidade (…) em razão de lhos haver emprestado sobre sua palavra, e lhe dizer, quando ela declarante foi para a baía, que dos cem mil réis, lhe mandasse duas escravas pequenas, e declara que a escrava que faleceu estava já por conta da dita credora e portanto é a mesma que perde, e a outra escrava a mandou ensinar a fazer rendas e estava com ânimo de a remeter.

Notas e Bibliografia:
1-ANTT, inq. Lisboa, pº 8766, de Gaspar Lopes da Costa; inq. Coimbra, pº 6790, de Francisco Lopes Pereira. ANDRADE e GUIMARÃES – Nós Trasmontano… jornal Nordeste nº 1082, de 8.8.2017 e n º 1090, de 3.10.2017.
2-Ao falar da sua genealogia, o filho João Vareda disse que sua mãe era “castelhana, não sabe onde nasceu, mas criou-se em Madrid” – informação da Drª Carla Vieira, a quem agradecemos.
3-IDEM, pº 7264, de João Vareda. Por 1712, em Lisboa, fazia “contas mui grossas e importantes” para um “judeu de sinal chamado D. Joseph Cortiços” que se encontrava em lisboa reclamando o pagamento de dívidas da fazenda Real “e lhe ficou muito obrigado o dito Cortiços, pela clareza e brevidade com que lhas fez (…) e vendo-se ele declarante nesta Corte pobre e desempregado e destituído de meios com que se pudesse sustentar, se resolveu passar para Holanda; e chegando a Roterdão, esteve ali 5 dias e passados eles, foi para Londres onde se encontrou com o dito judeu Cortiços que nos primeiros tempos da sua assistência o socorreu com alguma coisa e depois o desamparou…” Depois de processado, João voltou para Inglaterra onde vivia, casado com uma sobrinha de Luís Álvares de Oliveira.
4-IDEM, pº 8338, de Beatriz Pereira Angel; ANDRADE e GUIMARÃES – Nós Trasmontanos… jornal Nordeste nº 1084, de 22.8.2017.
5-Francisco Lopes terá o sobrenome Oliveira e será filho de Baltasar Lopes de Oliveira, irmão de Belchior Lopes, morador em Carção e “procurador” da firma dos Mogadouro em terras do Nordeste Trasmontano. ANDRADE e GUIMARÃES – Carção Capital do Marranismo, Bragança, 2008.