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Município de Freixo está a desenvolver estudo para construção de barragem de regadio

Ter, 06/12/2022 - 11:47


O município de Freixo de Espada à Cinta quer que seja construída a barragem das Ferrarias, para regadio. A albufeira ficará entre Fornos e Lagoaça, mas ainda não se sabe quantos hectares poderá abranger. Está já a ser feito o estudo de viabilidade, que deverá estar pronto no próximo ano.

Chimpar relhas e estadulhos

Bons dias, gente m a d r u g a d o r a ! Que estas palavras vos encontrem de saúde a desfrutar dos ares inspiradores do outono trasmontano. Ares que se desfruem bem pela fresca porque nas horas de calor a inspiração é mais vagarosa, letárgica. Logo desde manhã muito cedinho porque a por manhã é que se começa o dia. Um passeio matutino pelo termo por entre escovas, leitaregas e queirolas. Não há nada melhor, são puros remédios que não se vendem na farmácia. Assim como não se vendem lampaças das quais os pais e avós de outrora faziam curativos chás. Gente que possuía uma sensibilidade e sapiência da ervanária local que merecia ser registada, catalogada. Hoje não venho evocar medicinais saberes, mas sim usos e desusos, trago na maleta palavras que deixaram de andar nas bocas do mundo. Começo por saudar os autores da vizinha Folha Mirandesa e destacar que adiante se farão aproximações ou se revelarão contiguidades com os vocábulos mirandeses, uma vez que as lhonas de hoje têm como ponto de partida a aldeia de Avelanoso que partilha ancestrais termos (tanto no sentido territorial/administrativo como no linguístico) com o mirandês e as suas terras. Aliás, é uma das Três Marras juntamente com Alcañices e São Martinho de Angueira. Marras e marrões que ninguém ousou chimpar. Não quero entrar a partir, mas começo já por aí, chimpar (tombar, derrubar, fazer cair). Os mais velhos diziam aos garotos: “não és capaz de o chimpar” ou “vê se chimpas aquele”. Noutros tempos desafiava-se um jogo da luta, uma espécie de judo trasmontano em que o objetivo era agarrar o outro e fazê-lo cair. Também se usava “chimpar o fito”. E não haveria de faltar vontade de chimpar alguns xodairos, pessoas pouco recomendáveis de levar e trazer, alcoviteiros de meter o nariz em vida alheia. Muito pano para má-língua lhes dariam as rexertas, moças irrequietas, indomáveis, particularmente guichas. Jovens que certamente ouviriam dos seus pares expressões como “estás muito jónica” (referência à elegância da arquitetura clássica) ou “hoje andas muito à balalaica” (vestida com roupas novas). Indumentárias novas ou domingueiras que não se recomendavam para os trabalhos do campo: nem para acarrejar o pão (transportar centeio, trigou ou feno em carro) ou limpar augueiros, muito menos para esgadanhar gatunhas (plantas invasivas) ou para lavrar. Por falar em lavrar, atente-se nas palavras que se perderam sulcadas pelo tempo e pelas charruas dos tractores. Queiram pegar em papel e caneta e apontar o que andava na ponta da língua de quem sabia manusear arados e conhecia as suas peças como a palma da mãozeira, rabela, relheiro, relha, orelheiras, pespeneiro, tesa, teiró, cunho e timão. São dez palavras que foram para as queirolas (urze rasteira predominante em altitude nas serras) e saíram inteirinhas da língua portuguesa como um beldro (porção de lã que se tirava como um manto aquando da tosquia das canhonas). Uma dezena de vocábulos que chimparam de uma assentada com o descostume dos arados de tração animal. Assim são as línguas, com células que morrem e outras que nascem ao sabor da vida e do quotidiano. E no quotidiano de hoje já não se leva o burro à feira de maneira que arriaram os atafais, a albarda, a silha e a cabeçada. Também os carros de bois são agora, quando muito, meios de transporte de valia decorativa ou museológica de modo que descontinuaram: estadulho e estadulheira, aceda, cabesnalha e picanços, espichões e coucelhões, meões, cambos ou cambões, travessanho e angarela, caniças ou caniços, estrado e barbiões, gancha e endireiteira, e, por vezes, lúrias ou engrideiras (cordas). Mais um alqueire de palavras (só aqui estão vinte) que sumiram das bocas do povo, dos falares característicos de algumas comunidades, cambiantes sociolinguísticos próprios de uso circunscrito a pequenas delimitações geográficas. As mesmas dificuldades se colocam à língua mirandesa cujas peculiares palavras se referem a plantas e animais, hábitos ou objetos que maioritariamente já não se utilizam ou vivenciam. O mirandês é expressão de um contexto cultural e socioeconómico que sofreu alterações mais profundas nas recentes décadas do que durante largos séculos anteriores. Por isso, o esforço diário do mirandês é o de se recriar, de se reavivar, de se quotidianizar, respeitando a força resistente da sua identidade, mas sem cair no erro de se tornar um bem museológico ou apenas a romantizada expressão de uma realidade pretérita. Em Avelanoso, carear o gado (evitar que fuja para outros locais que não aqueles onde o pastor quer que ele fica) já não é uma preocupação tão grande dos pastores como era dantes em que se cuidava cada metro quadrado do termo. Pastores que não pernoitam nas terras no Verão e, por isso, não têm as pastoricas (pirilampos) como companhia, nem lobos a uliar. Continuam a abundar lampianas e urretas, bulhacas e bubelos, caneleiros e leitaregas, embora mingue quem saiba ler a literatura que a natureza escreve através delas. Onde haja leitaregas há pouca acidez, são indicações que os terrenos dão a quem as sabe interpretar. Lampiana é a parte menos funda de um lameiro, mais inclinado e mais seco onde a erva cresce menos. São falas doutas, embora não sejam minhas, mas emprestadas por meu pai. Justiça seja escrita. Urretas, marras e praineiras, rocos e pulelas, hedras e granheiras. Palavras que ainda se esforçam para não definhar, mas sobretudo palavras de que os tempos se ocupam de chimpar. É a vida, são as línguas. Um forte abraço!

PAF

PAF não é, aqui, o acrónimo da Coligação Política (PSD/ CDS) que em 2015, tendo ganho as eleições legislativas, acabou na oposição por causa do acordo que ficou conhecido como A Geringonça. Não é esse o objetivo deste texto, pese embora o ineditismo do sucedido. PAF, neste caso, refere-se a Pedro Álvares de Freitas, um ilustre transmontano, seiscentista, originário de Vilar de Nantes e abade em Torre de Moncorvo. Ernesto José Rodrigues escreveu no Jornal Nordeste (“Por um diálogo inter-religioso segundo a Formosa Pelicana), advogava a atribuição do nome de D. Luís de Portugal a uma das ruas da vila de Torre de Moncorvo. Subscrevendo a proposta deste velho e fiel amigo, acrescento a adequação de incluir na toponímia moncorvense o ilustre prelado que após um doutoramento em Salamanca veio para a Terra do Ferro, antes de seguir para Tomar, empossado como prelado, tendo sido igualmente Reitor de S. Nicolau, em Lisboa e desembargador do rei, desde 1595. Faleceu em 1599 tendo sido sepultado na cidade dos Templários, no Convento de Cristo, em notável e rico túmulo onde, a par com as suas armas, gravadas numa das faces da pirâmide que encima o seu caixão, tem o seguinte epitáfio: “Sepulcho de Pedro Alvares de Freytas Prelado q foi nesta v.ª de thomar deixou três missas cada semana com responso nesta sepultura para sempre...” As poucas referências encontradas sobre este enigmático personagem, apontam para um homem poderoso, no seu tempo. Em Tomar sucedeu a Pedro Lourenço de Távora, no ano de 1580, pouco depois da morte do Cardeal D. Henrique. Tendo tomado o partido de D. António I, ganhou, obviamente, o desagrado do soberano Filipe, Segundo de Espanha e Primeiro de Portugal. Porém, tal como o pretendente ao trono, filho da moncorvense Violante Gomes (A Fermosa Pelicana), afrontou, sem receio, o todo- -poderoso monarca. Filipe II, agastado com a defesa pública das aspirações do Prior do Crato quis livrar-se do prelado e, no mínimo, afastar a sua afrontosa influência. Incapaz de o depor do lugar que ocupava, nomeou para o seu lugar o Dr. João de Resende, cónego da Sé de Leiria, tendo promovido a elevação a bispo de Cabo Verde ou S. Tomé do rebelde transmontano. Porém, Pedro Álvares de Freitas não aceitou a promoção nem permitiu a substituição decidindo manter- -se no lugar que ocupava. A essa altura já era inquisidor do Santo Ofício tendo, nessa qualidade tomado, juntamente com Manuel Álvares Tavares e Heitor Furtado de Mendonça, a decisão, rara e corajosa, à época, de inocentar Aires Fernandes, o Dinga Dinga, levantando o sequestro que a Inquisição fizera da sua fazenda. Nas suas armas estão incluídos os motivos das dos Camões pois este personagem foi primo de Luís Vaz de Camões por ser filho de Álvaro Anes de Freitas e de Mécia Vaz de Camões, irmã do pai do grande poeta português. É razoável pensar que este influente religioso tenha exercido a influência suficiente para poupar o épico poema à sanha censória do Santo Ofício pois apesar de algumas exclusões, Os Lusíadas foram preservados no essencial, fenómeno tão estranho para quantos estudaram a época que deu origem à teoria, já abandonada, conhecida por “lenda dourada” defendendo que Frei Bartolomeu Ferreira (primeiro censor de Os Lusíadas) seria um censor benévolo, de grande tolerância, erudição e apurado gosto literário o que, analisando, outras atuações do clérigo inquisidor, não corresponde minimamente à verdade.