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COVID-19

Centro de Saúde Alfândega da Fé

279 460 000 - 279 460 004 - 967 274 869

 

Centro de Saúde de Bragança I - Sé

273 302 420

 

Centro de Saúde de Bragança II - Santa Maria

Unidade 1 - 967 274 885

Unidade 2: 967 272 124

 

Centro de Saúde de Carrazeda de Ansiães

925 800 905

 

Centro de Saúde de Freixo de Espada à Cinta

279 658 240 - 967 274 909

 

Não vamos, mas vemo-nos!

Ter, 24/03/2020 - 10:28


Olá familiazinha querida!

Nós cá vamos muito recatados, porque como dizem os antigos “todo o cuidado é pouco”. Esperamos que os nossos leitores estejam a respeitar todas as indicações de prevenção contra o Coronavírus, esse invisível inimigo público, que não obedece a leis nem a planos de contenção e que não precisa de passaporte. Estamos a passar por um momento muito difícil e complicado, devido a esta maldita praga.

Fiscalidade - Exigibilidade do IVA - O caso dos fruticultores e viticultores

O Código do IVA determina qual o momento em que ocorre o facto gerador e em que se verifica a exigibilidade do imposto (e, consequentemente, a obrigatoriedade de emitir fatura). Como regra geral, nas transmissões de bens, o imposto é devido e torna-se exigível no momento em que os bens são postos à disposição do adquirente. Esta regra tem criado alguns constrangimentos, especialmente nos produtores agrícolas que entregam os seus produtos a cooperativas e organizações de produtores e só mais tarde, o seu valor é determinado. Esta temática já foi clarificada por doutrina administrativa, resultando da mesma a possibilidade de recurso ao procedimento previsto para transmissões de bens de caráter continuado.

Consideremos os produtores agrícolas que, na época da colheita, entregam os seus produtos (maçãs, peras, uvas…) a cooperativas e organizações de produtores. A fruta será guardada ou utilizada em processo produtivo e só mais tarde, por vezes no ano seguinte, ocorre a sua valorização. Ou seja, os produtores agrícolas estão, no momento da entrega dos bens, incapacitados para a emissão de fatura, pois o preço a utilizar só é conhecido posteriormente.

Em termos legislativos está previsto que: “…nas transmissões de bens e prestações de serviços de carácter continuado, resultantes de contratos que deem lugar a pagamentos sucessivos, considera- -se que os bens são postos à disposição e as prestações de serviços são realizadas no termo do período a que se refere cada pagamento, sendo o imposto devido e exigível pelo respetivo montante…”.

Importa que exista contrato entre as partes (fruticultores/ viticultores e respetivos adquirentes) que ateste os fornecimentos continuados dos produtos e os posteriores pagamentos sucessivos (durante ou no final da campanha).

Neste caso, considera-se que os bens são postos à disposição do adquirente no termo do período a que se refere cada pagamento, sendo o IVA devido e exigível pelo respetivo montante. A fatura deve refletir o período a que respeita o correspondente pagamento, cumprindo assim com os requisitos necessários.

Ou seja, será permitido, nas condições referidas, que a emissão da fatura e respetiva liquidação do IVA ocorra no termo do período acordado para efeitos de pagamento ou com o recebimento da quantia devida pelo adquirente se anterior ao contratualizado, como exceção à regra geral prevista de exigibilidade do imposto no momento em que os bens são colocados à disposição do adquirente.

A este respeito sugerimos leitura das seguintes informações vinculativas: processo n.º 8126, por despacho de 04/02/2015 e processo n.º 14704, por despacho de 14- 08-2019.

 

Elsa Marvanejo da Costa

Consultora da Ordem dos Contabilistas Certificados

 

Dias de nada

No meu último ano de permanência efectiva em Lagarelhos guardo gratas recordações da depois e agora minha tia Aurinda, da mãe e do pai com quem discutia alegremente as desventuras de Jean Valgean, personagem a par de Javert, de Os Miseráveis, 5 volumes, comprados pelo meu avô antes de ir à procura de libras cavalinho no Rio de Janeiro.

O pai da minha tia, o Senhor Serafim tinha estado em França onde passou as passas do Diabo, também acendrado leitor de Victor Hugo, bom jogador de sueca e melhor conversador. Eu ia fazer oito anos, as férias grandes eram grandes, visitava a torto e a direito a casa da Senhora Maria das Neves, mãe da minha bonita tia, ela dava-me fatias de centeio barradas de açúcar escuro, a vida corria-me bem. Os dias eram curtos de tardes longas.

A solidão atacava os entrevados, acima de tudo os velhos sem forças, improdutivos segundo os padrões rurais. O Dr. Borges e o Dr. “Lixa” esforçavam-se de dia e de noite em minorar o sofrimento dos doentes. Antes ficou célebre o fafense Dr. Leite pelos mesmos motivos.

Ora, entre a minha casa e a da «tia» Neves vivia o Senhor «Tio» Manuel (Manelzimnho), detentor longas barbas patriarcais pintalgadas de nicotina, avançada idade, e com um vassouro de giestas na mão direita. Na Igreja ouvia- -se a sua voz a orar no decurso da missa rezada pelo Padre Aurélio Vaz, antigo combatente durante a I Guerra Mundial.

Os seus parentes mais chegados, o Senhor Amadeu e a Senhora Engrácia alimentavam-no, penso que lhe cultivavam os bocados, e prestavam-lhe a assistência possível.

O referido Patriarca tinha o seu Outono confinado a um talhoco e outro assento cortado de um tronco de árvore colocado no cabanal defronte da sua casa chapeada com folhas de flandres. Na galeria agrupava centenas de caixas de fósforos, vazias, de cem amorfos, cujos rótulos coloridos, de letras sensuais eu cobiçava. Debalde, o dono desconfiava dos meus olhares e estava atento aos meus movimentos de mãos. Aquele património acabou numa das montrueiras existentes na aldeia, ainda hoje lastimo o insucesso nas tentativas de conseguir senão todas, pelo menos algumas dessas caixas, anos mais tarde.

Ora, o antigo negociante de cereais e castanha, andarilho a cavalo de feira em feira, das mesmas falava em termos cronológicos, de mês a mês, para quem queria ouvir, apresentava o saldo diário dos seus esforços de caçador de insectos ao principiar o quente lusco-fusco, não sem antes proclamar em tom acima do habitual: hoje foi um dia nada. Dias de nada? Ante a interrogação, respondia de imediato levantando o vassouro: apanhei tantas avésperas (vespas), tantas varejeiras, tantas moscas: Pousava o fiel vassouro e repetia, «dia de nada!».

Agora, nos prelúdios da epidemia (António Costa dixit), encerrado em casa, como um notável pensador português repete aos amigos acerca da quarentena «sinto-me preso em casa sem pulseira electrónica», penso no ancião de Lagarelhos, forçado a vassourar as muitas moscas provenientes da sujidade de todos os animais incluindo os humanos, resignado, à espera da senhora da Gadanha, confessava o óbvio – dias de nada –, de mansa paciência e sem receio da Megera.

Estamos em quarentena, as televisões massacram-nos, conseguem ser mais incomodativas do que a Mosca varejeira inserida num poema de Alexandre O’Neill. O poeta referia uma escritora portuguesa preponderante em círculos da «inteligência» ortodoxa portuguesa. Tento resistir aos efeitos da camisa-de-forças através da leitura, a disposição esvai-se, ao modo de lenitivo agarro-me ao exemplo de figuras de todos os ramos da ciência, da literatura, da política objecto da nossa admiração por terem resistido a cativeiros, exílios, deportações, estadas e travessias no e do deserto, no entanto, o arrimo é de curta duração. Que fazer? Lenine escreveu e levou à prática a doutrina defendida num livro com esse título. O sanguinário Vladimir teve um início, um meio e um fim. Nós sabemos como começou a peste dos dias de agora, não sabemos quando e o fim da mortífera infecção. Vamos vendo imagens da desgraça global pese o destrambelho de líderes políticos, vamos engrolando imprecações desabafantes, um ou outro inconformista conforma-se e murmura, pode tocar a todos, ricos e pobres, banqueiros poderosos (António Vieira Monteiro) e humildes lavradores da Arada. Façamos como Jó!

Vendavais - Metáforas sobre uma luta desigual

Sem armas, sem balas, sem bombas, sem exército, eis que os assassinos do século XXI não precisam de se mostrar para ganhar as batalhas contra os inimigos que só eles escolhem. Esta é a luta que se trava hoje em todo o mundo.

Temos um inimigo comum e só lhe sabemos o nome. O nome que alguém lhe pôs. Não é o nome de arma, porque ele próprio é arma. Não é nome de exército, porque ele é o exército invisível que se multiplica sem custos de suporte. Não é nome de bomba porque ele é a bomba que detona em qualquer lado a qualquer hora e destrói mesmo. Não tem nome de assassino, porque ele é assassino.

Por obra de alguém ou simplesmente por desígnios da Natureza, este vírus surgiu onde mais poderia causar baixas e conseguiu causa-las, mas não contou com o outro exército chamado determinação, vontade de vencer. Com uma capacidade enorme de se multiplicar, mudou o seu exército para outros locais e, com uma estratégia vencedora começou a atacar em força. Iniciava-se uma luta de contornos macabros e aterradores. Essa luta continua e vai continuar por algum tempo mais. É uma luta contra um inimigo invisível e que se movimenta em obscuridade completa. Difícil de apanhar ou de ser surpreendido. Não há contra-ataque possível, nem movimentos antecipados de espera e de surpresa. Ele não se deixa surpreender.

O Mundo inteiro está a ser atacado por este exército invisível e que se multiplica tão rapidamente como o soprar do vento que passa. Custos da globalização. O que nos agrada e é determinante para justificar, de algum modo, o progresso que reclamamos, é o mesmo que nos ataca agora e nos destrói. Mas o Mundo, este Mundo em progresso e que avança saltando barreiras e mais barreiras, não está preparado para esta barreira. Fomos apanhados de surpresa e demoramos a reagir. Enquanto e não, fica para trás um rasto de mortes que evoluem num gráfico aterrador e exponencial.

A Europa pensava que estava longe do epicentro da guerra, mas não estava. A guerra movimentou-se demasiado depressa e saltou de um continente para outro e mais outro e ainda outro. A Europa foi mais um. Só mais um. É uma guerra com várias frentes. Tal como um fogo que devora tudo por onde passa. Mortos e feridos são demasiados já. No campo de batalha Itália, trava-se uma das maiores lutas e não se adivinha o seu términos. O exército assassino é ainda o vencedor. No campo da Alemanha, trava-se outra frente de luta terrível e sem vislumbrar que vai vencer. O vírus mortal continua a atacar sem misericórdia. Mata sem piedade. E ele avança por Espanha e Portugal sem encontrar exército capaz de o enfrentar e vencer. Ninguém estava preparado para esta luta. É uma luta desigual. Completamente.

Na verdade, só a vontade de muitos, a perseverança e a vontade de vencer, poderão dar um passo para a vitória. A arma que pode derrotar esta bomba, ainda não foi descoberta, segundo parece. Se o foi, ninguém o diz. Paira no ar o medo e o pânico, vertentes de uma luta que aceleram a derrota. Usa-se simplesmente os artefactos arcaicos como máscaras e luvas. Proteção para prevenir. Prevenção para não ser atingido. Uma defesa fraca e permeável ao vírus invisível.

O caricato de tudo isto é que este exército invisível é um exército de luxo. Viaja de avião e em todas as classes. Viaja de carro e de barco e não paga bilhete. Aterra onde lhe apetece e apanha boleia com quem está mais perto. Não pede autorização. É um viajante de gostos requintados! Como combater semelhante exército? As quarentenas não servem de muito.

Na realidade, a obrigatoriedade da quarentena serve para pouco e é o que é. São quinze dias de isolamento e nada mais, porque ao sair da compartimentação pode facilmente encontrar na esquina um agente inimigo que o atinge sem sequer dar por isso. E eis que a quarentena para nada serviu. Foram somente quinze dias com alguma segurança e recato no seio da família. O futuro não está dentro da quarentena.

Uma coisa poderá ficar entretanto como aprendizagem. É que é urgente o Mundo preparar-se para estas eventualidades. Nada voltará a ser igual. Temos a certeza disso. Até porque não sabemos, ninguém sabe, se no final do ano não haverá outra vaga assassina. Também não sabemos quando será o pico do avanço destas tropas destruidoras. E o pico não é igual para todos os países. Quanta incerteza.

Parece, no entanto, que tanto Trump como Bolsonaro, consideram este ataque um pouco ridículo e sem razões para alarme. Coisa que está de passagem! Certamente que está de passagem, mas qual os custos deste furacão? O que sobrará depois do tsunami passar? Trump já está a engolir sapos e Bolsonaro não tardará a fazê-lo igualmente. O que mais incomodava Trump em questões de saúde e que ele queria destruir era o Obamacare, mas agora já está a preparar a execução do programa de saúde para enfrentar a calamidade. Quando isto acontece, algo o justifica. É que a luta é mesmo desigual e só se vence com determinação. Tudo vai acabar bem!

Pedras de afiar

Deus vos dê bons dias, boa gente. Espero que estejam a atravessar este momento com optimismo e sentido de responsabilidade. Todos sabem já o que têm a fazer e todos já perceberam a proporção deste problema, cuja resolução depende do contributo activo de cada cidadão. Nunca é demais consciencializar as pessoas para este fim. Introdução feita, mudemos um pouco de assunto. Desanuviemos, dialoguemos. Para provar que também se podem encetar vivos diálogos por entre o papel das páginas de jornal, vou pegar num tema do amigo Luís Ferreira, que há tempos escrevia aqui sobre a pequena “navalhita prateada” que seu pai trazia no bolso e da qual o Luís, querendo seguir o mesmo hábito, sempre dela se esquecia, mesmo quando a ocasião mandava cortar um cacho de presunto ou algum cibo de pão. Creio que a navalha era parte da indentidade socio-económica trasmontana como objecto multifuncional, imprescindível para quem passava os dias (e às vezes, no Verão, as noites) no termo a tratar dos gados e das terras. Quão desprevenido estaria um homem nesses afazeres se não tivesse uma faca para cortar um baraço que fosse, para merendar ou para qualquer outro improviso que a vida do campo requeresse. E, claro, para defesa ou segurança, pelo menos psicológica, em relação a algum perigo que pudesse surgir nessas andanças. Uma boa navalha era uma fiel amiga do homem. Nos comensais momentos de convívio dir-se-ia com orgulho “esta não falha”, “a minha até corta papel” ou “já a trago há mais de 20 anos”. E das navalhas, vamos às profissões que puntuavam os dias preenchidos das aldeias do Nordeste. O carpinteiro que fazia as mesas e os bancos, o taberneiro que tinha sempre um copo de vinho à mão e onde o ambiente por vezes tomaria proporções de cortar à faca quando os jogos de cartas subiam de tom. Andava também pelas aldeias muita gente de passagem, o peleiro, a comprar as peles dos animais, os carvoeiros, a vender carvão, o azeiteiro, que trocava azeite por outros bens. Muitas vezes era mais trocar do que vender. Ouvi dizer que a minha avó costumava trocal mel por azeite. Outros cirandavam pelas aldeias a pedir a quem muito não teria para dar. Pedir lenha, no Inverno, por exemplo, para conseguir dar calor aos filhos. Sinto que Portugal tem uma certa aversão ou embaraço em se debruçar sobre estes temas, sobre o quotidiano desses tempos. Talvez tenham sido anos e décadas duras, mas assim nos construímos há tão pouco tempo. No nosso pensar de agora fomos sempre uns pós-Europa, todos aprumadinhos com wifi em todo o lado, já nascemos todos no hospital e usámos todos fraldas descartáveis. São questões de identidade que eu creio que ainda iremos desempoeirar e procurar mais adiante. Mas eu queria chegar ao ferreiro. O ferreiro, por trabalhar o ferro e produzir, entre muitos outros utensílios, a navalha, seria das profissões mais importantes de uma aldeia. O meu pai contou-me que antes de ir para a tropa o ferreiro de Avelanoso, que se chamava tio Isaque, lhe ofereceu uma faca de qualidade ímpar, com a qual se manteve inseparável de Santa Margarida aos planaltos dos Macondes. O movimento migratóio ou diáspora das navalhas trasmontanas também daria um tópico de afiado interessante. Falta referir as pedras de afiar. Havia quem as tivesse à porta de casa junto ao banco de pedra, em alguns sítios ainda hoje lá estão. Muitas vezes eram motivo para se dar os bons dias, parava-se, afiava-se a navalha, trocavam-se dois dedos de conversa com quem estivesse à porta de casa a descansar ou a debulhar alguma vagem. Algumas destas pedras de xisto tinham melhor qualidade que outras para afiar as navalhas segundo os entendidos do assunto. Enfim, todo um tempo, uma história e uma organização social que se pode aguçar em torno deste pequeno objecto. E não falei de Palaçoulo, incontornável, uma aldeia que se fez e que se faz do fabrico de icónicas facas. Voltando ao amigo Luís e às suas palavras certeiras sobre as perniciosas intenções que continuam a servir-se deste objecto para pautar os nossos dias mais infames. Más intenções que não são de agora, claro está, a “faca e o alguidar” teimam em deixar de se apresentar como solução irracional para alguns seres humanos resolverem os seus problemas. Este lado negro ou “Bairro Negro”, recorda- -me também o Fado e os seus primórdios, já que as navalhas eram igualmente leais companheiras dos bolsos e das noites dos fadistas, nome dado aos rufias ou marginais lisboetas daquele tempo. Aliás, o fado, o tango, o blues e toda a arte que um dia nasceu marginal. O Museu do Fado tem uma vitrine onde se podem apreciar alguns desses toscos espécimes confiscados pelos quadrilheiros. A navalha, parte da iconografia do fado trasmontano, embora em desuso para os fins apropriados, tal como muitas outras coisas que fazem parte dessa iconografia. Ironicamente, a espaços, continua ainda a ser usada para fins mais próximos dos do fado lisboeta de há dois séculos. Enfim, o que faz falta é acalmar a malta e não nos esquecermos da navalha na hora H, ou seja, na hora de atacar a fogaça, o queijo, a chouriça, a tabafeia, a posta de vitela... Um forte abraço e protegei-vos bem!

 

* Leitor de Português na Universidade de Sun Yat-sen Cantão Guangdong – China