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Luís Ferreira

A linha que divide o poder

Há quem apelide o poder como um mal necessário. Porém, outros classificam-no como a necessidade de exercer o bem e o mal, dependendo de quem o exerce. A verdade é que sem poder ninguém consegue governar. Resta saber como se utiliza esse poder.

O Mundo vive hoje momentos demasiado controversos e perigosos e é, substancialmente, governado por quem vai exercendo o poder a seu modo, sem se importar muito com o que os outros possam pensar a esse respeito. Os conflitos a que todos nós assistimos diariamente pelas televisões, consubstanciados em opiniões de pessoas supostamente dentro dos problemas, informam-nos cabalmente do que se passa e, ao mesmo tempo, do que possam pensar os governantes que lideram tanto os conflitos como as possibilidades de os resolver.

No entanto, esses governantes, supostamente sábios e poderosos, brincam aos jogos de poder, impondo linhas vermelhas a quem estiver contra os seus interesses ou quiser ultrapassá-los.

A guerra da Ucrânia, o conflito do Médio Oriente, as invasões da Síria, do Líbano e os ataques ao Irão levam estes acontecimentos para um patamar impensável. As consequências colaterais são enormes para todos os países e aqui não existem linhas vermelhas. O poder passa por cima sem se importar com elas.

A invasão da Ucrânia pela Federação Russa é a demonstração do poder de Putin. Ele próprio impõe limites aos países que podem ajudar a Ucrânia a defender-se desta guerra aberrante e cheia de contradições. A Ucrânia nada fez para merecer ser invadida, mas a sede de poder e de controlo levou-o a tentar algo que, por acaso, lhe saiu muito mal. A Ucrânia estava bem preparada militarmente e tem sabido defender-se, embora com a ajuda de outras potências.

Agora, muito mais debilitada, a Rússia de Putin promete paz, quer negociação, mas bombardeia no mesmo dia que promete negociar. O poder sobrepõe-se e não se subjuga a uma ideia de paz.

E mesmo os supostos compromissos com Trump não são cumpridos. O Presidente dos EUA está farto de promessas. O “amigo” Putin, afinal, tem andado a enganá-lo. Resolve tomar uma posição mais dura e ameaça com ajuda à Ucrânia, mas Putin não se amedronta.

A Europa reúne forças e agrupa frentes de defesa. A Grã-Bretanha, a Alemanha e também a França alinham o seu poder para ajudar a Ucrânia. Acelera-se a produção de armamento. Isto acelera um possível confronto Leste-Oeste e tudo fica mais perigoso. Medvedev já adiantou a hipótese de “atacar preventivamente” a Europa. Loucura completa. Só da cabeça de um fanático! Ou será que é o estrebuchar do moribundo?

Isto porque, quer queiramos ou não, a Rússia está muito debilitada militarmente e tem valido uma certa ajuda da Coreia do Norte, quer em homens, quer em armamento.

No Médio Oriente, especificamente em Israel, assistimos igualmente a uma movimentação desorientada de tropas e de ataques israelitas quer na Faixa de Gaza, quer na Síria, quer no Líbano, quer ao Irão. Apesar do apoio de Trump, este não está a gostar do rumo que Netanyahu está a levar. Este, preso a dois ministros de extrema-direita ou ultraortodoxos que querem a exterminação do Hamas a todo o custo, não sabe bem o que fazer.

O seu limite de poder vai até à possibilidade de sair do governo, caso não cumpra as ameaças dos ministros de extrema-direita que sustentam o governo. Ou Netanyahu cede e continua a guerra, ou o governo cai e ele vai preso pelos crimes de que é acusado. A solução é conseguir apoios ao centro, de modo a manter o poder e ter a possibilidade de rumar a uma paz mais duradoura que permita uma reconstrução da Faixa de Gaza. Mas como? Será que Trump vai permitir?

Negociar com o destino

Nem todos temos a mesma conceção de destino.Uns são fatalistas, como o foi Camões, que acreditam que o destino está marcado e nada podemos fazer para o alterar. Outros são positivistas, acreditando que tudo pode ser melhor e que podemos sempre contribuir para essa melhoria. Ainda há os que não se importam com o destino e nem sequer acreditam nele.

Afinal, o que é o destino? A humanidade sabe que todos caminhamos para um fim, pelo menos terreno, e esse será o destino final. Como chegar até lá é uma incógnita. Os caminhos são infinitos e muitas vezes demasiados sinuosos. Também não sabemos quão distante é esse final. Há caminhos curtos e outros mais longos, mas todos acabam. Têm de acabar. É o destino. Quando esse caminho, que supostamente poderia ser longo e vitorioso, é interrompido abruptamente, leva a um sentimento de abatimento, desânimo e vazio imenso.

Foi esse caminho que foi interrompido a Diogo Jota e ao irmão. Foi esse caminho que levou a um destino terrível, impensável. Um destino criminoso que roubou a vida a dois jovens irmãos e os afastou do amor familiar que tanto partilhavam. Foi esse destino que roubou a três crianças o amor do pai e à mulher, esposa e mãe, o pilar de uma construção que se imaginava segura, forte e duradoura. Como se pode acreditar num destino positivo depois disto?

Não podemos negociar com o destino. Nem com o tempo.
E se pudéssemos negociar com ele, o que lhe pediríamos? O que poderíamos oferecer em troca? Será que o destino aceitaria alguma coisa? Não, porque ele é intemporal, é abstrato, é impessoal. Não tem sentimentos. Se fosse possível, certamente a viúva tentaria negociar de alguma forma com o destino, o reverso da medalha que ele lhe deu.

Do mesmo modo, o tempo é inegociável. O fio do tempo é indelével e irreversível. Mas é pesado. Nem que fosse somente negociar o esquecimento para aliviar o peso imenso que sobrecarrega o corpo entorpecido pela perda e pela tragédia, seria certamente uma possibilidade. Mas o esquecimento é impossível. Esquecer é o suicídio da alma e, como a alma é imortal, esquecer é impossível.

Dobrada pela consternação que a morte violenta de Jota lhe causou, agora só sente falta de apoio, de amparo, de consolo, de amor, de carinho, de palavras. O peso do vazio e do silêncio é demasiado. De momento, é invadida pelo entorpecimento. A realidade é sentida dentro de dias. O silêncio torna-se enorme. Terá de enfrentar momentos irrealistas. O luto não é ultrapassável, mas é integrado e terá de aprender a viver com ele. O tempo é grátis!

Um acidente terrível e violento que dizimou dois únicos irmãos e deixou os pais sozinhos para enfrentar um futuro que nunca imaginaram, não tem palavras para descrever. Deixou igualmente três crianças, que não entendem absolutamente nada do que se passa, mas questionarão dentro de poucos anos o porquê de lhe faltar o pai. Vão viver um tempo diferente, um sofrimento diferente e um vazio insubstituível, mas aprenderão a viver com ele. O tempo será um aliado do destino que lhes calhou em sorte.

Alguns críticos referiram-se ao facto de Jota e o irmão terem o impacto que tiveram em todo o mundo, quer na sociedade civil, quer no meio futebolístico. Adiantaram que, se fossem outros jogadores, nada disto se faria e o impacto seria quase nulo. Talvez assim fosse. A diferença está na visibilidade que tinham e para a qual a imprensa e a comunicação social contribuíram. Apesar de não ser um jogador de topo, Jota era conhecido e bem visto como pessoa de fácil relacionamento e amigo de ajudar, além de ser um bom atleta. Muitas vezes ficava no banco de suplentes e, quando entrava, resolvia os jogos, marcando os golos necessários. Era querido no Liverpool e todos conheciam e eram amigos do Jota, o número 20. E assim será eternizado em Inglaterra.

Por cá, foi rodeado de amigos, de colegas portugueses e ingleses, de políticos e por uma família destroçada, sem forças, que o acompanhou até à última morada. Constrangidos por uma morte violenta, avassaladora e demasiado imberbe, que resolveu roubar dois jovens que tinham uma vida pela frente, todos pisaram o mesmo chão que os conduziu a uma morada para a qual ainda não tinham feito qualquer contrato de arrendamento. Demasiado violento.

Na realidade, se fosse possível negociar com o destino, nada disto teria acontecido, mas o destino não se revela e a irreversibilidade dos acontecimentos ainda não está ao alcance dos humanos. Que descansem em paz.

Os loucos do poder

Sentam-se à mesa, mas ninguém quer comer porque o prato servido não se consegue engolir. São os loucos do costume. Não se falam, não se entendem e não querem a paz. Sentam-se à mesma mesa para quê?

O Mundo está a assistir nos últimos dias a um crescendo gigantesco de ações de guerra e de nada mais se fala a não ser disso mesmo. Televisões e jornais de todos os países passam o tempo a referir, quase ao minuto, o que se passa no Médio Oriente e na Ucrânia. É uma loucura pegada.

Israel insatisfeito com as atrocidades que está a levar a cabo na Faixa de Gaza, resolveu alastrar a guerra ao Irão com a desculpa de que este está quase a obter urânio enriquecido suficiente que lhe poderia permitir fazer bombas nucleares. Sabemos bem que essa desculpa não é a única para declarar guerra ao Irão. Apesar de haver razões várias para acusar o Irão de apoio belicoso a grupos como o Hamas, o Hezbollah e os Houties, o certo é que pouco mais fazia além disso, mesmo que isso já fosse demasiado. Mas Israel tinha que agir com esse propósito.

Apoiado pelos EUA, Netanyahu sentia-se à vontade para agir contra a ditadura do Irão. E foi o que fez.

Contudo, Netanyahu para se manter no poder, tem de dar aos israelitas essa noção de poder e de força superior, fazendo com que os partidos que suportam o governo se mantenham unidos. É um objetivo comum e que interessa ao primeiro-ministro, pois quando isso deixar de acontecer, corre o risco de sair do governo, ser julgado e ir preso.

Deste modo, Netanyahu tem de manter o país em guerra constante alicerçando o seu discurso na defesa do país contra os que são inimigos de Israel. Se o Irão tivesse uma bomba atómica, Israel corria um sério perigo e isso não pode acontecer.

Para Trump isso interessa, pois Israel é um dos seus aliados mais fortes no Médio Oriente e é ali que estão grandes interesses económicos e bases militares americanas. Assim, os EUA continuarão a ajudar Israel até conseguir os seus objetivos. Esta comunhão de interesses sustenta esta guerra, ainda que se diga constantemente que se deve negociar a paz. Contudo, Trump refere-o, mas pede uma rendição incondicional do Irão o que implica não continuar o enriquecimento de urânio.

Mas a solução não é fácil. O líder do Irão não cede a chantagens e não quer conversações quando se vive em guerra constante. A não ser que Israel acabe com a guerra, o Irão não se senta a mesa das negociações. No entanto, não se deve subestimar o poder do Irão. Apesar de Israel controlar os céus do Irão, isso não significa que este não cause muitos estragos em Israel, como aliás se tem visto. É uma guerra a que Israel não estava habituado.

Estamos perante três loucos compulsivos que, ambiciosos de mais poder, não se importam com as vidas que dizimam e com o que destroem. Muito embora Trump encha a boca com “as mortes que acontecem” em Gaza, na Ucrânia, na Rússia, na Síria, no Líbano e agora no Irão e em Israel, ele vai enviar uma Task Force para o Médio Oriente e soldados integrados em missões especiais que se desconhecem.

Vai acabar por acontecer uma intervenção dos EUA neste conflito, mesmo que no seu programa eleitoral, Trump tenha dito que iria desviar a América dos conflitos e guerras que não eram as suas. Já estamos habituados às ambiguidades de Trump. Como se pode ser tão louco e insensível? Pelo menos mandou fechar a sua própria Embaixada em Jerusalém. Sabe, com toda a certeza, o que vem pelo caminho, face às ameaças do Irão. Para os EUA, esta guerra não é desnecessária, perante a possibilidade de o

Irão conseguir ter armas nucleares. Seria demasiado perigoso, até mesmo para a Europa. Por enquanto, Trump vai aguardar mais um tempo para que a diplomacia funcione entre os beligerantes. Há fragilidades de parte a parte e pode ser que funcione.

Vimos como o escudo de defesa de Israel também é falível. O Irão conseguiu entrar e destruir bairros em Haifa, Telavive e Jerusalém. Os israelitas contabilizam já algumas dezenas de mortes e muitas mais vão acontecer certamente. O Irão é demasiado grande para se dominar em pouco tempo. Terá de haver uma insurreição de dentro para fora que seja capaz de derrubar o poder dos Aiatolas de modo a levar o país a uma alteração de regime, talvez uma democracia. Fácil não é. A grandiosidade da antiga Pérsia não voltará tão depressa.

Mas esta guerra tem uma componente surreal. É que antes de atacarem, avisam o país inimigo quando e onde vão cair os mísseis. Claro que isto evita muitas mortes, mas não deixa de ser caricato. Parece um jogo de crianças que só acaba quando um dos contendores ficar sem munições.

Identicamente acontece na guerra entre a Rússia e a Ucrânia. Putin não quer perder a face embora esteja com dificuldades óbvias, mas desistir não é seu feitio. No entanto, continua a estar disponível para negociar a paz, mas não quer perder o poder que tem dentro da Rússia e, talvez, fora dela. Manter o carisma de segunda grande potência mundial, é primordial. Mas do outro lado, o invadido, também não cede e com razão, às exigências de paz que Putin impõe na mesa de negociações. Demonstrações de poder de loucos que, sendo loucos, não se apercebem da tamanha loucura que teimam em manter.

Entretanto, nas ruas de Teerão, de Telavive, de Haifa, de Kiev ou de Odessa, continuam a ouvir-se gritos de quem tudo perdeu sem culpa das ambições dos loucos do poder.

O que se serve ao jantar quando os loucos se sentam à mesma mesa?

É difícil escolher e decidir uma ementa que agrade a todos. Mais difícil é engolir o prato que se serve. Ainda mais custoso é se os loucos são mesmo loucos e não estão dispostos a comer seja o que for.

A segunda ronda de negociações entre emissários russos e ucranianos que teve lugar na Turquia, sentou à mesma mesa, pessoas que não se suportam e que á partida, deveriam tentar engolir o prato demasiado temperado que colocaram em cima da mesa. Não passaram das entradas. Não engoliram mais nada e deixaram na mesa a sobremesa, pouco apetitosa, que certamente se estragará até ao próximo jantar.

Talvez por ser demasiado agreste para engolir as sobras deixadas na mesa pelos loucos russos, os ucranianos resolveram mostrar que não deveriam ser ignorados e serviram uma sobremesa surpresa aos russos, deixando-os de boca aberta. Engoliram em seco.

A verdade é que ninguém esperava que tal sucedesse. Foi uma vitória extraordinária e bem estruturada. Dias antes, os loucos russos que não se serviram dos aperitivos que lhes foram servidos, devem ter pensado que mal fizeram não o terem feito.

Longe, do outro lado do Atlântico, o senhor americano também ficou surpreendido e sem palavras. A verdade é que foi ultrapassado e bem. Quem quer fazer, faz, não leva nem trás. Mas este louco nunca se sentou à mesa com os outros. Ainda anda em busca de apetite.

A Putin custou-lhe engolir o prato venenoso que a Ucrânia lhe serviu e por isso resolveu retaliar com o que tinha mais à mão. Sem estratégias estudadas, mandou enviar mísseis e drones sobre o território ucraniano.

Uma dinâmica de guerra em que Putin aposta, bem distante do cessar-fogo ou da paz que tanto apregoa, numa ladainha de entretenimento infantil, que faz lembra os jogos de PlayStation. Mas a realidade é diferente e morrem muitas pessoas. Muitas crianças.

Incapazes de qualquer sentimento, tanto Putin como Trump, continuam a jogar com a vida dos outros, esperando que os contendores se cansem e cheguem a um ponto em que tenham de negociar a paz. Não será fácil. A Europa não pode deixar que a Ucrânia perca a guerra. A América é da mesma opinião, mas Trump está demasiado longe e como não lhe toca na pele diretamente, também não lhe dói.

Está a nascer uma economia de guerra na Europa o que não agrada nada à Rússia. Esta está a ficar com os seus efetivos militares, tanto exército como armamento, muito desgastados. Quase sem aviação de guerra, sem tanques e com soldados inexperientes, vê-se cada vez mais sem tempo e sem possibilidades de ganhar a guerra. Assim, vai tentando adiar o cessar-fogo e a paz, com a apresentação de Memorandos inaceitáveis e com reuniões de loucos à volta de uma mesa onde nada é servido que interesse à Ucrânia ou lhe abra o apetite.

Mas a Rússia sabe que nada disso seria aceite pela Ucrânia. É tudo uma perda de tempo que só interessa a Putin. Ao mesmo tempo engana os ucranianos e Trump que ainda acredita que consegue obrigar Putin a engolir um dos pratos que são servidos à mesa na Turquia. Eles nem devem gostar dos pratos turcos!

Mas a curiosidade é que o Presidente americano está agora a ser atacado pelo seu grande amigo sul-africano Elon Musk. Fora da administração Trump, Musk ficou muito aborrecido e resolveu atirar-se contra o Presidente, dizendo que foi à sua custa que foi eleito, pondo a descoberto mais umas quantas realidades que, a serem verdade, podem pôr Trump em maus lençóis. E por falar em lençóis, uma das setas apontadas por Musk, revela algo relacionado com abusos sexuais e pedofilia. Será?

Parece mais uma zanga de garotos num jardim infantil do que outra coisa. Bem, também Musk é acusado do consumo de drogas durante a campanha a par deoutras asneiras graves. Como diz o povo, zangam-se as comadres, descobrem-se as verdades. A realidade é que eles se zangaram e não se falam. Trump ameaça retirar os subsídios às empresas de Musk e este diz que o projeto do presidente é uma aberração.

A Rússia, sempre atenta a estas desavenças e, mesmo em jeito de brincadeira, tenta retirar dividendos e, nesse sentido, não se importa de dar asilo a Musk em troca de ações da Starlink.

Os loucos nem sempre se entendem, mas... nunca se sabe. Isto está a servir para desviar as atenções americanas da guerra da Ucrânia, o que até convém a Trump e a Putin. Não há notícias, não há interesse, não há decisões, nem mais jantares de loucos, pelo menos para já. Mas como esta rixa de garotos pouco interessa à Europa, esta continua a viver momentos de incerteza, já que Trump não toma decisões, sejam a favor ou contra. Aliás, estamos habituados a que ele diga uma coisa hoje e amanhã o seu contrário.

Na União Europeia continuam a sentar-se à mesa, não os loucos, mas os interessados na obtenção de um plano de paz para a Ucrânia. É o único prato que se serve e que quase todos apreciam. Continua a faltar servir a sobremesa. Esta, só será boa se for uma cereja no cimo de um bolo que se chame paz. Quem o irá cozinhar?

A noite das facas longas

As últimas eleições nacionais, que ninguém desejava, mas onde todos queriam tirar dividendos, foi tudo menos o que se esperava. Revelaram-se uma enorme surpresa, até mesmo para a AD. A campanha foi, como todos se aperceberam, uma triste rapsódia em sol menor onde a música se repetiu eternamente pelas ruas e ruelas das cidades portuguesas. A mensagem era sempre a mesma, desprovida de ideias e de objetivos. Uma repetição constante que enervou os portugueses de tão repetitiva que foi. O dia das eleições trouxe uma noite repleta de ansiedade, de incertezas, de espectativas. O resultado foi inesperado. As sondagens a desfilarem em todas as televisões aumentavam a ansiedade de cada um e de todos os partidos. Na sede do PS faltava a habitual animação. Nas outras a mesma coisa. As horas foram passando e as certezas esbatiam-se quanto à formação do Parlamento. No final da noite, uma faca longa ficava suspensa sobre todos os partidos. O Chega igualava o PS e poderia mesmo ficar em segundo lugar com os votos da Europa e fora da Europa, ainda por contabilizar. A direita tinha a maioria no Parlamento. Durante toda a campanha o mesmo slogan, as mesmas críticas, o mesmo vazio. Isso irritou os portugueses ao ponto de alterar o seu voto. Foi um voto de protesto, especialmente contra o PS que fez muito pouco para alargar o seu eleitorado. Conseguiu precisamente o contrário. Foi uma derrota enorme de um dos mais carismáticos partidos do espetro nacional. O mesmo vazio se verificou no BE que, sem ideias novas e sem mudanças de mensagens, quase desapareceu do Parlamento, reduzindo-se a uma só representação. Mariana Mortágua não fez uma campanha aceitável e bateu sempre na mesma tecla, acabando por afastar os mais próximos. O povo português cansou-se de tanta falta de ideias na campanha. Os partidos limitaram-se a criticar Montenegro e nada mais disseram do que isso. Faltaram compromissos com ideias novas e novos objetivos estruturais de governação. O povo português esperava por isso. A CDU repetiu a cassete habitual e, não tendo capacidade para mudar o teor da mensagem, afastou os que habitualmente depunham o voto em quem poderia lutar pelos seus direitos mais prementes. Reduziu a três os deputados da Assembleia. Dos partidos da esquerda só o Livre subiu a sua representação parlamentar. Contudo, insuficiente para formar qualquer tipo de maioria à esquerda. A JPP da Madeira conseguiu eleger um deputado e pela primeira vez um partido regional vê-se representado no Parlamento. A grande vencedora, apesar de tudo, foi a AD, que não tendo feito uma boa campanha, conseguiu passar uma ideia de modernidade e promessa de transformação económica, social e política do país, através de um governo mais consistente, mesmo não conseguindo mais do que uma maioria relativa. Atacada por outros partidos, como o PS, acabou por superar a aparente crise e afirmar-se no meio de tanta incerteza. O Chega conseguiu alargar a sua representação parlamentar e foi um dos vencedores. Poucos acreditavam nisso, mas aconteceu e, se for líder da oposição no Parlamento, muito há que esperar dele. As pretensões de Ventura não ficam por aqui. Disse-o na noite das eleições após a contagem final dos votos. E até fez ameaças, coisa normal neste partido. A AD sabe que tem de contar com o Chega ou contar com o apoio do PS para levar a estabilidade governativa avante. Inicialmente esperava-se que a Iniciativa Liberal conseguisse fazer maioria com a AD, mas não chegou lá. Subiu, mas não o suficiente. Rocha foi um vencedor, mas o sonho de entrar para o governo gorou-se. Terá de fazer o seu caminho sozinho. Agora, no meio da euforia das pequenas vitórias, levantou-se mais uma enorme faca pronta a cortar a direito a Constituição portuguesa. Ventura embandeirou em arco e até fala em castração química e pena perpétua para alguns criminosos. Ao que chegámos! Perde-se o bom senso por tão pouco! O que faz o poder! Falso poder. Este passa de mão em mão e amanhã já não é nosso, ou vosso ou do outro. Perde-se e ganha-se de um momento para o outro. Alcandorado ao patamar governativo uma vez mais, a AD tem pela frente barreiras enormes para derrubar. Uma delas é o Chega. Isso só é possível com a anuência do partido socialista. Desfeito e num processo de reconstrução nacional, não tem tempo para fazer oposição ao governo. Mas se ajudar o governo aprovando as medidas essenciais a começar pelo Orçamento, o Chega começará a ficar de lado, quase inútil, como a direita necessária para mexer na Constituição. Desta vez, Ventura ainda não chegou onde pretendia. Talvez um dia. Talvez. Por agora fica a aguardar ainda se será ou não o líder da oposição no Parlamento. Mas esta faca continuará apontada à cabeça dos portugueses durante mais algum tempo.

Fumo branco

Na Praça, a multidão esperava o anúncio do novo Papa. Mais de quarenta mil pessoas, ansiosas, bamboleavam-se de um lado para o outro, com a esperança de assistir à saída do fumo branco na chaminé colocada no telhado da Capela Sistina. A curiosidade era tremenda. A ansiedade consumia aos poucos a paciência de cada um com o receio de não conseguirem ver nada e sair de Roma sem ter essa oportunidade única na vida de assistir ao anúncio do novo Papa e poder vê-lo na sua primeira aparição na varanda mágica da Basílica de S. Pedro. Os que ficaram, tiveram a sorte de ver o novo Papa. O Mundo estava suspenso e suspirou de alívio, como se este facto fosse a libertação das apreensões gerais, como se ele fosse o a solução urgente para acabar com as guerras e as angústias de tantos seres humanos. E, subitamente, ali estava ele, anunciado como Leão XIV. O nome a adotar também era uma incógnita. A sua origem era outro segredo que todos queriam conhecer. Norte americano! Inesperado certamente. Mas quem é este novo líder da Igreja Católica? Porque adotou Ângelo Roncalli o nome de Leão XIV? Quem foi Leão XIII? Há continuação? Possivelmente sim. E também haverá uma continuidade do apostolado de Francisco, segundo se pensa e se espera. Leão XIII foi o Papa do Concílio Vaticano II em 1962, da crise dos mísseis em Cuba, do diálogo e do ecumenismo. Simples, amigo das crianças, gentil e diplomata, assim era Roncalli. Conseguiu focar o seu apostolado no aspeto teológico, cultural e histórico conjugando tudo com o seu enorme coração pastoral. Mediou o conflito, após a ocupação nazi, entre o Estado francês e a Igreja. Foi um profeta da dimensão específica de uma igreja ao lado do povo, tal como Francisco. Foi a sua intervenção que evitou o agravamento da crise dos mísseis de Cuba. Teve um pontificado curto, morrendo a 3 de junho de 1963. Foi beatificado por outro importante Papa, Wojtyla, João Paulo II, no ano 2000 e viria ser canonizado pelo Papa Francisco a 27 de abril de 2014. Dois meses antes de morrer, fez a Encíclica Pacem in Terris, uma bênção de serenidade e que nos dias de hoje se mantem bastante atual. Num dos trechos, diz “As relações entre os indivíduos, devem-se disciplinar não pelo recurso à força das armas, mas sim pela norma da reta razão, isto é, na base da verdade, da justiça e de uma ativa solidariedade”. Depois do que vivemos com Francisco durante o seu papado, pensaríamos que seria difícil alguém substituir o seu legado e a sua simplicidade, honestidade, candura, solidariedade, carinho e amizade pela juventude, mas talvez as vivências que Leão XIV teve até aos dias de hoje, pode bem servir de exemplo a um caminho paralelo ao de Francisco e próximo do de Roncalli. Vinte anos de permanência no Peru e a aquisição da nacionalidade peruana, apesar de nascido na América do Norte, dão-lhe essa experiência, segurança e proximidade do povo, entre o qual viveu e de quem foi amigo. Francisco confiava nele. A Igreja Católica necessita de uma viragem sustentada e de uma modernidade face às vicissitudes dos dias que hoje se vivem. A afirmação dos valores humanistas é mais do que nunca, uma necessidade premente para consciencializar as mentalidades mais controversas. A pacificação das belacidades que alguns teimam em manter, é urgente. O chamamento à realidade está nas mãos da igreja. Está agora nas mãos de Leão XIV. Uma tarefa enorme e tormentosa. Só será conseguida com a união de todas as igrejas e de todos os credos. Afinal, Deus é só um, chamem- -lhe o nome que chamarem. Leão XIV, agostiniano, tem em Leão XIII o mentor escolhido, o exemplo necessário para alicerçar a sua tarefa e cimentar o seu pensamento. Robert Francis Prevost é o 267.º Papa da Igreja Católica, mas é o primeiro norte-americano e o primeiro da Ordem de Santo Agostinho. Consigo traz ideais de comunidade, com base em estudos científicos, na continência e castidade e na autêntica pobreza. Santo Agostinho é o doutor da graça, o mestre da interioridade. Acredita-se que ele será um continuador entusiasta do processo sinodal que Francisco iniciou. Disse já que pretende “estender pontes, o encontro, a paz”. Aliás “Pontífice” significa fazedor de pontes e essa será, sem dúvida, a sua enorme tarefa no pontificado que agora começa. Depois de um franciscano devoto e muito bem aceite no mundo inteiro, resta saber se este agostiniano também o será. Resta-nos a esperança de que assim seja. O Mundo inteiro está de olhos fixos no novo representante de Pedro, o escolhido, confirmado pelo fumo branco saído da capela Sistina. Que seja o arquiteto das novas pontes.

Franciscus, o Papa sorriso

Despediu-se depois de abençoar o Mundo inteiro na bênção Urbi et Orbi desta Páscoa. Talvez fosse uma despedida anunciada ou esperada. Foi, no entanto, inesperada para todos nós. Com a voz arrastada e quase impercetível, abençoou todos os presentes na Praça de S. Pedro e todo o Mundo. Foi um momento curto, mas pesado, que a sua doença mais não lhe permitia. Mas quis mais e desceu à Praça e andou por entre os que lá estavam para o ver e cumprimentar. Foi a sua última viagem. Agora todos o queremos recordar. Reviver os momentos marcantes do seu pontificado, as suas frases mais emblemáticas e com maior significado. Fazemos comparações com os que o antecederam, inseridas na validade subtil de cada uma delas. São opiniões pessoais, simplesmente. E nesse aspeto, será difícil que o seu substituto seja um seguidor idêntico, com as mesmas diretrizes, a mesma força, os mesmos valores e o mesmo sorriso. Penso que não queremos uma cópia, mas a genuinidade da essência global de Francisco. Foi o Papa dos jovens. A juventude foi, quase sempre, o objetivo da sua mensagem e foi entre os jovens que sempre se sentiu seguro, fiel e à vontade. Falou-lhes com o coração, sempre com um sorriso na boca e levou-os a confiar na palavra da Igreja. Brincou com eles e fê-los rir coloquialmente. Foi assim nas Jornadas Mundiais da Juventude em Lisboa. Todos vivemos essa faceta bem de perto. Vimos o Papa alegre, humorista e brincalhão. Foi o Papa dos simples, dos mais fracos e desamparados. Ele era simples. Era franciscano. Recusou usar os sapatos vermelhos cardinalícios e usou sempre os sapatos pretos de couro feitos pelo sapateiro de Buenos Aires. Foi humilde. Não quis usar o ouro e as vestes vermelhas bordadas a ouro e com pedras preciosas. Trocou tudo isso pela prata e pelas vestes brancas. Dizia que “O homem só deve olhar de cima para baixo, se for para dar a mão a alguém que precisa de se levantar.” Era contra todos os que não sabem repartir o muito que têm, pelos que menos possuem. Fazia questão de dizer, rindo, que iniciava todos os dias com a oração de Tomás Moro – “que eu tenha uma boa digestão, mas que tenha algo para digerir”. De um bairro da classe média de Buenos Aires para o Vaticano, foi um salto enorme. Contudo, não voltou mais à terra natal e isso talvez os argentinos não lhe perdoem. Mas ele não esqueceu o seu clube do coração – o S. Lourenço, de Almagro. Foi um Papa corajoso. Enfrentou sem medo os desvios da Igreja e condenou os abusadores sexuais. Falou com abusados e expulsou alguns dos condenados por crimes de abuso sexual. O Papa Bento XVI resignou ao aperceber-se que era demasiado pesado o fardo que teria de carregar para tomar decisões justas neste âmbito. Faltou-lhe a coragem e Francisco teve-a, pelo menos em parte. Reformou o Direito da Igreja. Reformou a Cúria. Abriu um processo sinodal e aproximou- -o do clerical, dando à Igreja um modo diferente e mais aberto de refletir e decidir. Deu importância às bases incluindo os laicos. Foi uma desclerização da Igreja. Deu à mulher um lugar importante no mundo católico. Hoje há muitas mais mulheres na Igreja. Mesmo brincando e com o sorriso aberto, dizia que tudo sai melhor quando é a mulher a mandar. Abordou o capítulo sensível do celibato clerical. Aqui a coragem tinha de ser enorme, mas iniciou o caminho que outros deverão percorrer. Deu a entender que era necessário dar esse salto, mas que teria de ser cauteloso para não se cair. Aceitou a homossexualidade. Clamou pela igualdade entre todos. Quis derrubar barreiras e muros e criticou Trump, sem o nomear, ao dizer que quem cria muros não é verdadeiramente cristão. Abriu a Igreja a todas as religiões e aproximou a Igreja Católica à religião Islâmica. Foi ao Iraque. Um passo enorme. A Igreja necessita ser renovada, dizia. O dinamismo de transformação da Igreja católica que ele imprimiu, tem de ser continuado. Fez quarenta e sete viagens pelo mundo, clamando pela paz, pela fraternidade, pela igualdade, pela esperança num mundo melhor. Enfrentou os maiores do planeta com as armas da humildade e da humanidade. Os maiores que estiveram presentes na missa de homenagem e despedida. A despedida, não poderia ser mais humilde. É dentro desta humildade, que ele deixou escrito o modo como queria ser sepultado. Queria ficar sepultado à sombra de uma mulher – Virgem Maria. Sempre a importância da mulher. Escolheu a Basílica de Santa Maria Maior, em Roma para descer à terra e esperar pela Ressurreição. Foi o 8º. Papa a ser sepultado fora do Vaticano. Quis cerimónias simples na hora da despedida. Um caixão simples de madeira e na lápide, simples, apenas a palavra “Franciscus”. Dentro de dias o Conclave reunirá para escolher o novo Papa. O tempo dirá se será fácil ou difícil a escolha. O fumo branco que vai sair da chaminé da Capela Cistina, ditará a hora da escolha e o nome escolhido para representar Cristo nesta terra cada vez mais abandonada e desprezada pelos homens. Vestidos com as roupas do poder e do luxo, esquecem-se que é urgente olhar para o lado e ver o resultado da sua pouca humildade. A ganância é um pecado mortal. É necessário valorizar o ser humano. Este é o legado de Francisco. O próximo que o siga, sorrindo. 

Quem quer esta guerra?

As guerras não se compram nem se vendem. No entanto, há sempre interessados em fabricá-las. Porquê? Talvez porque não é necessário montar uma fábrica para fabricar os moldes e as linhas de produção. Elas são de várias espécies. Podem ser bélicas, económicas, políticas, todas desafiantes e perigosas. Se umas matam milhares de pessoas, outras arrastam para a lama, igualmente, outros milhares. Vivemos hoje um tempo demasiado belicoso, perigoso e insustentável a vários níveis. Nos quatro cantos do mundo, como se o Mundo fosse quadrado, vivem-se guerras que aparentemente ninguém quer, todos criticam, mas parecem eternizar-se como se o tempo se prolongasse somente para que elas existam. Os continentes estão em ebulição contínua. O planeta, exausto, parece desanimado e sem vontade de se manter vivo. Os sinais são mais do que evidentes. Através do clima, completamente alterado, dá sinais de aviso frequentes, mas parece que os homens não se incomodam muito com isso. Furacões, tempestades, sismos, tsunamis, tornados, vulcões, tudo se conjuga num aviso intenso que ninguém quer perceber. É o planeta a dar o sinal vital da sua existência. É o estrebuchar de quem se sente aflito e quer chamar a atenção. É uma guerra contra o tempo e contra a estupidez dos homens. Parece, contudo, haver pessoas interessadas nesta guerra. Quem perderá? As guerras bélicas, outra vertente que ninguém quer, mas em que todos entram, estão bem patentes diariamente nos noticiários dos meios de comunicação. Da África à Ásia, passando pela Europa, ela aí está para assinalar a sua presença, com determinação e sem vontade de se extinguir, como se fosse necessária. Não é! Mas são muitos a querer. Porquê? Do Sudão ao Congo, do Congo ao Iémen, do Iémen a Israel, de Israel à Síria e ao Líbano, do Líbano à Ucrânia e à Rússia e daqui para o Pacífico, o belicismo atroz mantém-se como se fosse preciso matar muitas pessoas para que outras possam sobreviver. Nada disso. Por um lado, a fraqueza dos homens e por outro a sua estupidez intrínseca, levam a que se aceite este estado de guerra interminável que se alastra cada vez mais. Ninguém compra e ninguém vem estas guerras, mas alguém as financia. E aqui é que está o que as mantém sempre vivas. As grandes indústrias de armamento precisam de ganhar dinheiro, mas só ganham se venderem o que fabricam e para isso têm que criar situações de guerra onde se gasta esse armamento. É o círculo perfeito onde os investidores ganham se outros forem mortos. Eles têm de sobreviver. As guerras económicas sempre estiveram presentes nas sociedades ao longo de toda a nossa História. Desde os tempos mais remotos em que a simples troca de produtos era o sistema económico vigente, até à invenção da moeda e do papel moeda, sempre o ganho foi intencional e o motor principal de funcionamento dessas sociedades. Com a globalização parecia que tudo iria ser diferente e mais facilitado. E com o aparecimento das comunicações por satélites, com a Internet e todos os sistemas aí ligados, tudo é mais facilitado, mais rápido, mas também mais perigoso. A evolução que o homem consegue fazer tem o seu lado negro. O reverso da medalha. A facilidade dos negócios também se pode complicar de um momento para o outro. Não se vivem hoje os tempos em que a economia assentava essencialmente nos princípios mercantilistas e no protecionismo. Contudo, estes princípios mantêm-se, só que alargados a outras vertentes, com variantes subtis e com a facilidade de alterações instantâneas das condições económicas e dos acordos estabelecidos entre os parceiros. Veja-se o que está a acontecer com a política económica que Trump está a levar a cabo. O seu protecionismo, que até poderia ser de louvar, está a estrangular os mercados internacionais através de tarifas extraordinárias que está a impor. As consequências serão desastrosas para todo o mundo porque todos os países estão ligados economicamente através das importações e exportações que fazem, necessárias às suas economias e à sua sobrevivência. A China que parece ser a mais atingida, replicou, mas não quer a guerra. Contudo avisou que está preparada para ela se for necessário. Com a cimeira económica marcada entre a UE e a China para o próximo mês, os EUA, especialmente Trump, parecem ter tremido um pouco e alguém terá avisado o Presidente dos EUA que abrandasse a sua política já que a mesma poderia ser fatal e levar mesmo a que perdesse as eleições intercalares no próximo ano. Os próprios republicanos, já se mostraram céticos e alguns, mesmo contra esta guerra de tarifas. Conseguiram um adiamento de 90 dias. Será suficiente? Parece que esta guerra não interessa muito aos EUA se continuar a ser travada deste modo. Afinal a quem é que ela interessa? O resultado vai ser catastrófico se ninguém for capaz de parar esta guerra. E se ninguém a quer comprar, parece que alguém a quer vender. Será que consegue? No fundo, não se trata senão de uma só guerra. Uma guerra global com várias vertentes e vários ramos de atividade bélica. Perde o planeta e perdem os homens. A estupidez humana e a ganância são os fabricantes do desespero mundial que se vive. Ninguém compra guerras!

As exigências servidas à mesa

As intenções de Trump, antes de tomar posse e depois de ser Presidente dos EUA, quanto à paz na Ucrânia, foram um falhanço. De uns dias passou a semanas e depois já não dá certezas nenhumas porque as não tem. Na política nada é certo e nada é fácil. Mas isto já Trump devia saber. O quero, posso e mando, nem sempre funciona. Mas parece haver exceções lá para os lados de Moscovo. Por enquanto, Putin ainda pode dizer quero, posso e mando. Prova disso mesmo é o controlo constante sobre o que à mesa se deveria discutir entre os presentes para chegar a um efetivo cessar-fogo entre a Ucrânia e a Rússia. Em cada reunião entre os interessados, mais uma proposta é apresentada por Putin, que vem alterar o alinhamento da reunião. Ele não quer discutir a paz nem o cessar-fogo. Ele quer protelar a situação enquanto continua a bombardear o território ucraniano. Perante isto, Trump, ainda não chegou à conclusão que Putin controla tudo e que os EUA não têm voto na matéria. Afinal o que conseguiu Trump com estes encontros em prol da paz? Nada. O suposto cessar-fogo, que o não é na realidade, só interessa a Putin, devido à possibilidade de escoamento dos cereais russos pelo mar Negro que, em princípio, não haverá ataques nesse espaço. E uma coisa é certa: Moscovo não vai atacar nada no Mar Negro pois estaria a prejudicar-se, já que ele é controlado pela Ucrânia. Assim, tem todo o interesse em manter aí o cessar-fogo. Esta é a única vertente válida das tréguas. O adiamento interminável das discussões que estão na mesa das negociações, de pouco valem, já que Putin envia sempre mais uma exigência para que se percorra o caminho para o cessar-fogo real. Não é caminhar para a paz. Não. Putin não quer a paz, pelo menos não sem antes obter o que pretende através das exigências que vai pondo em cima da mesa. Trump está a ser completamente embrulhado por Putin e o que ele pretende, não é assunto de discussão. Putin quer discutir o que lhe convém e isto é muito vasto. Mas, aos poucos, Trump vai perceber que está a ser levado pelas ondas russas e se vai afastando cada vez mais da praia de areias brancas onde deveria residir a paz ucraniana. Estão longe as férias. O esforço que a UE está a fazer com tantas reuniões, também não está a resultar como deveria e para Putin, isso nem é assunto com que se deva preocupar. Nas suas declarações ocasionais, nem sequer menciona a Europa. As preocupações da Europa vêm tarde. Demasiado tarde. Claro que é sempre tempo para se acautelar a segurança europeia e agora cada vez mais. Mas isto demora muito tempo. Não é para amanhã e a guerra já cá está. Trump é um homem de negócios e só. De político tem pouco. Parece demasiado inocente ao lado de Putin, ao aceitar certas exigências, sem sequer estar presente, confiando nos que envia para a cabeça do touro, sem ter a certeza de que são capazes de o segurar pelos cornos. Não são. Acabam por discutir tudo menos o que deveria estar em cima da mesa. Putin serve, assim, à mesa, as suas exigências para que se entretenham com elas e não discutam o prato principal. São as entradas que acabam por tirar a fome para o que se segue. Entretanto, continuam a bombardear as cidades ucranianas, deixando de lado o espaço energético de um lado e de outro, pois Putin também quer evitar perder mais centrais de energia, especialmente de petróleo e derivados, os quais já vai tendo necessidade de importar. Só por isso. As aldeias e pequenas localidades, vai atacando sem dó nem piedade para mostrar que está a toda a força e que, mais tarde ou mais cedo, a Ucrânia terá de se render ou sair da guerra com perdas bastantes. Será assim? O que fará Trump para evitar tal disparate? Putin está a passar de inimigo a parceiro de negócios e compincha de Trump e este não se dá conta do caminho que está a percorrer. Trump está a var o fosso que o vai engolir. A população americana já está contra as suas propostas. Cerca de 60% dos americanos não aprovam a política que ele está a seguir no que se refere à Ucrânia, especialmente ao abandono da defesa que os ucranianos esperavam. É por isso que a Europa está a tentar substituir os EUA nesse aspeto, mas não é fácil, porque há tecnologias que só os EUA têm e que permitem a Ucrânia defender-se melhor. A verdade é que Trump está a ficar farto das exigências que Putin põe em cima da mesa cada vez que se juntam para negociar o cessar-fogo. Putin diz que este já começou, mas ele ainda não parou de atacar a Ucrânia. Cumprir acordos nunca foi apanágio dos russos e aqui é mais um dos casos que o prova. Trinta dias de cessar-fogo, mas quando começa? Com começo dia 18 de março, como diz Putin, só faltam mais uns dias para recomeçar a guerra a sério e mostrar a Trump que está a ser comido de cebolada, sem dar conta. Em cima da mesa está tudo menos o que deveria estar. É sempre assim. Zelensky tem razão e tem … medo. A comida não se lhe engole.

UMA RAPARIGA SEM PRETENDENTES

Nem todas as raparigas bonitas têm pretendentes e nem todas se casam. Por isso mesmo muitas permanecem solteiras a vida inteira e morrem sem que ninguém as olhasse com olhos de ver. Mas há algumas que sendo menos bonitas, sempre conseguem ter pretendentes, casar e deixar descendentes. Enfim. Há, contudo, uma que ninguém quer. É uma rapariga airosa, sábia, atrevida e que poderia ser cobiçada por muitos, mas na verdade ninguém a quer. Independentemente do nome que as raparigas possam ter ou do nome se adaptar ou não à cara laroca da sua aparência, o certo é que isso tem conotação diferente. A rapariga chama-se culpa. Poderia ser um nome como qualquer outro, mas é tão intenso que ninguém o deseja ter ao seu lado, mesmo que o possível companheiro se pudesse habituar à sua companhia. Não, definitivamente. São poucos os que admitem ter por companheira essa rapariga. Infelizmente, ou não, ainda há quem admita ter por companheira essa carinha laroca. Há gostos para tudo. A recente aventura vivida nos meandros da política portuguesa e que levou à dissolução da Assembleia da República, teve por base, além da desconfiança, a não aceitação do casamento com essa rapariga tão carismática. Depois de esgrimidos os argumentos tendentes a justificar o possível casamento com um dos dois pretendentes, nenhum deles a quis aceitar e o casamento ficou adiado. Outras núpcias! No início, a rapariga andava por aí, passeando pelos corredores da política, deambulando pelas vielas da desconfiança e da suspeição, procurando noivo jeitoso, fiel e atencioso, mas nada encontrava. Eis senão quando ao virar da esquina se deparou com dois ou talvez três possíveis pretendentes. Ficou indecisa e esperou para ouvir o que tinham a oferecer cada um deles. Não tinham muito que dar em dote, mas, mesmo assim aguardou. Travaram-se de razões os dois, mas nenhum quis assumir a rapariga como parceira para a vida. Nada disso. A culpa que ficasse solteira. A contenda teve de ser resolvida pelas instâncias superiores e assim, o juiz decidiu que não haveria casamento possível e que deveriam todos fazer um exame introspetivo profundo durante dois meses. Assim disse e assim ficou escrito. Caberia ao povo decidir se algum deveria ficar com a culpa ou não. Mas o povo não poderá ajuizar tão levemente. E a culpa pouco poderá dizer em seu favor. Agora, em tempo de discussão política, os dois contendores, irão exibir os seus dotes para prendar ou não, essa rapariga airosa que afinal ninguém pretende. É, no entanto, contrário ao normal, a exibição dos dotes perante a culpa. Ela não quer dotes, quer injurias. Ela quer perjúrios. O seu pretendente deve exibir o lado mais negro do seu temperamento para que ela fique suficientemente satisfeita. Ela não quer um pretendente bem- -comportado. Pelo contrário. Isto torna mais difícil o casamento. Ela, além de exigente, é perseverante. Desconfiando um do outro, os dois pretendentes à culpa, buscam testemunhas credíveis para justificar as suas atuações. Exibem feitos anteriores que, à partida lhes poderão dar créditos para fugir da rapariga atrevida. Não interessa aproximar- -se, mas afastar-se. Cada vez mais distante, a culpa vê a sua situação cada vez mais difícil. Nem o líder do PS, Nuno Santos a quer por companheira. Do mesmo modo, também Montenegro, líder do PSD, a não pretende. No entanto, todos os partidos a querem dar em casamento a Montenegro que, não pretende casar de novo e muito menos com uma rapariga tão airosa e que lhe poderia causar problemas graves. Nada tem a ver com ela. Nunca andou atrás dela e ninguém pode dizer o contrário. Não há nada que prove tal tendência. Mas, este quer atirá-la para os braços de Nuno que, continua a rejeitá-la apesar de tudo. Coitada da culpa! No meio de tanta incerteza, andam todos a atirar a culpa para os braços uns dos outros. Ela continua a não ter cama onde se deitar. Talvez fique mesmo solteira. É uma guerra desnecessária cuja razão é tão banal como as pretensões da rapariga atrevida que não arrasa com quem casar. Mas poderá ter esperanças, já que esta é a última a morrer. A vontade de Nuno em conseguir provas para casar a culpa, talvez não seja conseguida, mas o PGR vai tentar, pelo menos saber quem tem os argumentos mais válidos para casar com ela. É atraente e airosa, mas mesmo assim não é apetecível para ninguém. Com culpa ou sem ela, o certo é que conseguiu derrubar um governo que fazia o seu trabalho bem feito. Teve esse defeito. Agora vamos esperar pelo veredicto final. Talvez alguém casa com ela.