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Luís Ferreira

Vendavais - O nome das coisas

Não sei, mas possivelmente a palavra “coisa/s” deve ser a que mais usada é na língua portuguesa para nos referirmos a tudo e a nada, especialmente em ocasiões onde a necessidade de nos expressarmos rapidamente falha a expressão conveniente e lá teremos de chamar a “coisa”. Deste modo, todas coisas são coisas e qualquer coisa é uma outra coisa qualquer.
Mas a verdade é que seja qual foi a coisa a que nos queremos referir, o melhor mesmo é chamá-la pelo nome e mesmo quando não nos lembramos dele, fazer um esforço de memória para que ele surja. Mas não é fácil. Tentar não custa! E não adianta rodear o assunto invocando “aquela coisa” uma série de vezes à espera que outra pessoa pronuncie o nome e nos livre de termos sido nós a chamar pelo nome o que deve ser chamado pelo nome. Enfim! Felizmente ainda há quem chame os bois pelo nome.
Todos sabemos o que é a Caixa Geral de Depósitos. Todos sabemos que é um Banco público. O maior Banco público nacional. Todos sabemos que tem uma nova administração que está a dar que falar e muito. Tanto que está a pôr em perigo não só a sua própria credibilidade como a de toda a banca portuguesa e do governo. Todos sabemos que a culpa de toda esta celeuma é a teimosia do novo administrador não querer declarar os seus rendimentos. Todos sabemos que isso “cheira muito mal”. Pois é.
Quando se advogam razões para que tal não se faça, temos de invocar outras que contradigam aquelas e até referir o porquê de elas existirem numa instituição pública que quer ser diferente de todas as outras instituições públicas. Quero eu dizer com isto que o facto de se querer justificar a atitude do senhor administrador com uma legislação que permite ou torna legal a ocultação dos seus rendimentos, não deveria existir pois não se compreende que um banco público não seja objecto de igual legislação que os outros ou tenha de ser diferente. Se todos são “obrigados” a declarar os seus rendimentos em situações análogas, por que razões o administrador da Caixa não é ou não pode ser sujeito ao mesmo procedimento? Que “coisas” haverá por trás de toda esta complicação que tanto impedem o administrador de cumprir o que se lhe exige e continuar a bater o pé, como se de uma birra de garotos se tratasse? Ora como diz o povo e com razão, quem não deve não teme e sendo assim, o senhor administrador, se nada teme, que declare os seus rendimentos e os torne públicos, já que está numa instituição pública e que a todos nós diz respeito. E não adianta o ministro das finanças reclamar de sua justiça, porque ele é um dos culpados de tal situação. O mesmo se passa com todo o governo ao querer defender o indefensável. Não sei se isto tem um nome mais apropriado. Digam vocês. Experimentem, mas não recorram à “coisa”.
No meio de tanta hipocrisia lá apareceu alguém com vontade de esclarecer todas estas “coisas” e adiantou que o melhor mesmo é o senhor administrador declarar os seus rendimentos. Bom Marcelo. É assim que se exprime um Presidente da República. Com verdade e pondo o nome nas coisas. Sempre quero ver o que é que ele vai fazer agora. Como ameaçou que se ia embora se o obrigassem a declarar os seus rendimentos, pode ser que o faça perante esta sugestão presidencial. Caso o não faça, o governo deveria ter a coragem de o demitir do cargo e ir saber que “coisas” estão a impedir que o senhor não cumpra o que lhe pedem ao mesmo tempo que o impedem de ganhar mil euros por dia, ou seja 30 mil por mês, ou seja quase meio milhão por ano. Quem assim faz e corre risco de não receber tal salário, é porque tem muitos outros rendimentos e não precisa de mais. Haja coragem de pôr o nome nas coisas e de dizer o que se passa afinal com este senhor. É assim tão importante e tão brilhante e indispensável na Caixa? Não haverá mais ninguém que não tenha segredos e não queira ocultar certas “coisas” como os seus rendimentos? Certamente que haverá. Ainda temos gente séria neste país e com vontade de ganhar um bom salário. Acabemos com as hipocrisias e já agora com os salários chorudos num país que passa os dias a contar tostões para pagar milhões a quem não deve.

Vendavais - Dinheiro a rodos

Todos sabemos a dificuldade que Portugal atravessa para conseguir sair do buraco financeiro em que está metido há já muitos anos. Todos sabemos quanto tem custado aguentar a austeridade a que todos, ou quase, fomos submetidos para conseguir mandar embora o FMI e continuar a tentar equilibrar o barco completamente sem rumo certo e ainda bem longe do porto de abrigo, ainda em lugar desconhecido. Todos sabemos, mas parece que há quem não se importe muito com isso.
Depois de se terem efetuado cortes nos salários dos funcionários públicos, de haver despedimentos por insustentabilidade financeira em muitas empresas, depois de haver uma redução imensa de empregos e efectivos na maioria das fábricas e empresas em Portugal, poderíamos pensar que agora tudo iria entrar no bom caminho da recuperação, tal como o governo tem anunciado. Realmente já chegava de austeridade! Mas não.
O Orçamento para 2017 está aí e não está fácil haver uma concordância entre os vários players políticos, mesmo os que suportam o atual governo. Hoje disse uma coisa, amanhã outra, hoje está bem assim, amanhã, nem por isso. No entanto, parece que quanto ao facto de o Orçamento ser aprovado, não há dúvidas. Para já as ondas revoltas de uma imensa tempestade para logo a seguir se passar a um mar calmo, plano e sereno onde se pode navegar ao sabor das marés. De facto, o que interessa é estar na onda, na grande, aquela que é imensa e que permite ganhar campeonatos, que o mesmo é dizer estar à frente, comandar, dar o mote.
Pois é. É de bom tom defender o aumento das pensões ainda que seja só de uns míseros 3 euros, ou dizer que o salário dos funcionários fica reposto como estava em 2011 (isso era bom!), ou agendar para 2017 todo um processo de entendimento a três e deixar passar uma quantidade enorme de assuntos graves e que deveriam ser já solucionados. Mas como não interessa entrar em colisão com o governo ou este com os parceiros, levanta-se a lebre e depois vamos a ver quem é capaz de dar o primeiro tiro. Francamente!
Na realidade, como se pode permitir pagar a um presidente do conselho de administração da Caixa Geral de Depósitos mais de mil euros por dia num país que tem uma dívida tremenda, que tem de manter um défice no limiar do lixo e que tem a mesma Caixa Geral de Depósitos a precisar de um financiamento de mais de três mil milhões? Como é que isto é possível acontecer? Afinal, quem analisar isto tudo, pode chegar à conclusão que Portugal tem dinheiro a rodos e que só o governo é que sabe disso. Será que andamos a ser todos enganados?
Eu tenho para mim que ninguém neste país deveria ganhar mais do que ganha o Presidente da República. Mesmo as empresas particulares deveriam reconsiderar os salários dos seus administradores, pois não basta querer não aumentar os salários de quem realmente trabalha e recompensar extraordinariamente os que se sentam à secretária. Todos são necessários, mas não precisamos de abusar!
Nos últimos anos tem entrado muito dinheiro em Portugal para vários projetos, sejam do governo sejam para distribuir pelos vários sectores que o Quadro Comunitário de Apoio comporta. É dinheiro a rodos, mas que não chega à maior parte das regiões deste país. Fica no litoral, em Lisboa, Porto, Setúbal, Leixões e locais semelhantes, mas no interior, despovoado, continua a ser marginalizado completamente por todos os governos. Promessas, muitas. Nada mais. Pois bem, se querem aumentar as pensões e reformas, comecem por retirar aos administradores os milhões que lhes dão e distribuam por quem realmente precisa. Assim, talvez Bruxelas ficasse mais contente, as agências de rating talvez tirassem Portugal do lixo onde o meteram e… os reformados ficariam com mais alguns tostões para além dos três euritos que dão para enganar o pessoal. Nós não somos ricos, metam isso na cabeça.

Vendavais - Alertas vermelhos

Li num diário que o governo e a oposição estavam de acordo e como achei que deveria ser uma piada, acabei por ler mais um pouco para perceber que premissa me estaria a falhar para ter uma conclusão tão óbvia. Fiquei decepcionado.
Na verdade, estavam de acordo sobre a queda do investimento público, o que é um enorme problema. Mas mais admirado fiquei ao ler que o PS assegura que as coisas vão melhorar com a execução do Portugal 2020. Caramba! Exclamei para mim próprio. Então temos de esperar mais quatro anos para ver crescer o investimento público e a economia nacional? E será que os portugueses vão ficar sossegados à espera desse momento? E como irá funcionar a geringonça daqui para a frente com um Orçamento à porta para aprovar?
A oposição acredita que “neste momento” o primeiro-ministro está a travar a fundo para conseguir as tão almejadas metas do défice. A verdade é que parece que há uma série de pagamentos em atraso e a economia está mesmo a asfixiar. Como é possível o Estado estar com pagamentos em atraso? Então não é suposto ser uma pessoa de bem?
Seja como for, nem as desculpas com os atrasos na execução dos fundos comunitários que o governo está a usar, servem para acalmar a onda enorme que se está a levantar contra esta geringonça. Nem Costa ainda encontrou a forma de lhe dar a volta! Embora tenha andado a aprender, a verdade é que não é um mestre do surf. Esta onda é pior que a da Nazaré que deu fama ao americano. Aqui, na Europa, os surfistas andam mais por baixo.
António Costa está cercado. Nem os parceiros do entendimento “pouco sustentável” lhe dão o apoio esperado. Da Europa vêm exigências para mais austeridade em 2016. Como é que ele se vai acomodar com as exigências de toda a extrema-esquerda? Ela não quer mais austeridade. Antes pelo contrário. Já pedem aumentos para inserir no Orçamento. É preciso ter em conta as promessas feitas.
Nos últimos dias, o Parlamento foi palco de uma esgrima confusa. Enquanto a oposição acusava o governo referindo que a economia está em estagnação, António Costa defendia-se dizendo que está em recuperação. Assim, a economia estaria a crescer segundo o governo, mas do outro lado dizem que o investimento está a cair e as exportações a descer. Quem fala verdade?
Se tudo estivesse bem, Costa não se sentiria cercado por todos e acossado pelos próprios parceiros e ainda mais por Bruxelas. Estes pedem mais austeridade, a estrema-esquerda pede aumentos e a oposição acusa Costa de não saber entender-se com ninguém.
O primeiro-ministro tem de se defender de qualquer modo e para isso servem também as crises que se vivem no Brasil e em Angola, que diminuíram as suas importações. Talvez tenha razão, pois a esse nível houve um decréscimo das importações, mas a economia de um país não se restringe às importações e exportações de dois países. Há muito mais do que isso.
Não sei se os portugueses já se aperceberam de todos estes alertas que são realmente vermelhos. A verdade é que nem tudo o que parece é. Se por um lado os portugueses ficam agradados com as promessas de reposição de salários e aumentos de pensões e descida de impostos, outros vêm aí o perigo de ter de suportar tais encargos quando a Europa exige que se façam cortes. Os sinais vermelhos piscam constantemente e quando o sinal está vermelho, manda o bom senso, que se pare. Parar para reflectir e decidir bem.
De um modo ou de outro, as coisas não estão bem para os lados do governo. Costa tem um Orçamento para apresentar e aprovar e os seus parceiros só aprovam se lá constarem as suas exigências e até este momento ainda não se vislumbram. A quem Costa vai dar ouvidos?

Vendavais - Os caminhos da corrupção

Todos os dias ouvimos falar de corrupção e dos malefícios que ela arrasta consigo e dos protagonistas que tão bem a sabem manobrar como se fossem timoneiros de um imenso barco que apesar de navegar num mar revolto, não se quer afundar nunca.
Por todo o Mundo, os caminhos da corrupção são imenso e têm encruzilhadas terríveis para enganar quem se aventurar sem ter licença para os percorrer. Para conduzir é necessário ter licença, carta de condução e, quem não tiver é apanhado, mais tarde ou mais cedo. Por esses caminhos sinuosos, fluem os que conhecem bem esses meandros e é difícil apanhá-los fora de mão. No entanto, quando são descobertos, esses prevaricadores nem sempre são condenados.
Muito recentemente o Ministério Público concluiu que Sócrates recebeu 21 milhões de euros do GES. Investigações nos caminhos estranhos e um pouco desconhecidos da corrupção ligada à Operação Marquês, uma auto-estrada formidável, levaram à descoberta de imensas encruzilhadas onde encontraram a PT, a Telefónica espanhola e o Grupo Lena, entre outros. Mas, apesar do Ministério Público concluir alguma coisa, nada sai em termos acusatórios contra ninguém. No final todos vão sair ilesos e chegar ao fim da estrada sem culpas formadas, estacionando numa Offshore formidável, bem longe de Portugal.
Mas não se pense que isto se passa só neste belo país à beira-mar plantado. Não. Na Rússia de Putin, prestes a ser escrutinado para nova eleição, ele resolveu fechar o único Instituto de sondagens independente que, por sinal noticiava uma redução nas sondagens e anunciava que havia quem quisesse vender o seu voto pela quantia de 70 dólares. Ao que chega a corrupção! Claro que ele vence do mesmo modo e a Rússia terá de novamente o seu presidente, o mesmo que anexou a Crimeia e se envolveu na guerra da Ucrânia e, possivelmente ainda terá pensado que poderia inverter a História e anexar umas quantas nações vizinhas como antigamente fizeram os seus antecessores comunistas.
Pelas bandas da Alemanha, Merkel anda aflita, não só com os imigrantes, como com as sondagens que mostram o partido anti-imigração como vencedor para a assembleia regional de Berlim. Mais de dois milhões de eleitores pronunciaram-se e a segunda derrota em duas semanas está aí para Merkel pensar como resolver a situação complicada em que está metida. Aqui não há corrupção, mas a ideia de como se poderia inverter estas sondagens, já terá atravessado alguns caminhos sinuosos certamente. E não me espanta nada se ela já não se terá arrependido de ter sido tão tolerante nesta encruzilhada.
Realmente os caminhos da corrupção são imensos, tomam formas variadas e espalham-se por diversas regiões com cruzamentos infinitos. É uma forma de despistar. Todos sabemos os propósitos, os objetivos, até algumas formas de a praticar, mas perdemo-nos pelos caminhos que ela percorre. Enfim!
Como já veio a público, até no Vaticano a corrupção se instalou. O Papa Francisco já tentou fechar todos os caminhos e tirar a licença a quem por eles circulava sem autorização. A criminalidade parece ter diminuído enormemente, mas não terá acabado. A vigília continuada é uma promessa e quem se arriscar está sujeito à pesada mão de Deus. Mas para os que se mantêm na sua mão, sem desvios e sem encruzilhadas, o Papa Francisco agradeceu a sua honestidade. É o caso dos polícias do Vaticano. Disse que muitos os queriam comprar e elogiou-os por não caírem em tentações e demonstrarem uma enorme honestidade e concluiu dizendo que lhe fazia impressão ver como a corrupção se espalhou por todo o mundo. Pois, e a quem não faz impressão? O que a mim faz impressão é não castigar severamente os que a praticam. Os caminhos da corrupção só acabam quando houver coragem para admitir que são caminhos ilegais e que ninguém por lá pode circular. Quem disser o contrário, é corrupto. Condene-se.

Vendavais - Ping-pong político latino-americano e europeu

Passaram quase duas décadas desde que a esquerda avançou e tomou o poder na América Latina com a promessa de uma nova política para um novo século. A chamada "maré rosa" - por ser mais moderada do que os vermelhos comunistas revolucionários da Guerra Fria - alcançou 15 países, a começar pela Venezuela, com a eleição do falecido Hugo Chávez, em 1998.
Mas foi o Brasil que verdadeiramente tingiu de vermelho o contingente, com o carismático e popular Lula da Silva e Dilma Rousseff, quando o PT chegou ao poder em 2010.
Lula - um metalúrgico e ex-líder sindical - e Dilma - uma ex-guerrilheira que foi presa e torturada durante o regime militar (1964-1985) - mudaram e revitalizaram a imagem da velha esquerda latino-americana e o seu modelo foi admirado em muitos países.
Através de uma aplicação de políticas ortodoxas e harmoniosas ao mercado com programas sociais revolucionários, Lula sonhou com um Brasil de classe média impulsionado pelo consumo. Teve a sorte de chegar ao poder com o 'boom' dos mercados emergentes nos anos 2000, quando a procura voraz da China impulsionou os preços das matérias-primas, diminuindo a dependência do crédito externo. Este sonho, no entanto, foi frustrado.
Quando passou o poder a Dilma após dois mandatos, o Brasil registava um crescimento de 7,5% e mais de 40 milhões de brasileiros tinham saído da pobreza.
Em toda a América Latina, mais de 75 milhões de pobres superaram, numa década, o limiar da pobreza. Gerou-se a sensação de que a América Latina estava finalmente a emergir.
Mas tudo desmoronou, não só para o Brasil, como para toda a região, que vive agora o seu segundo ano de recessão. Obviamente a dependência das matérias-primas é maior do que alguns pensavam.
Mas o certo é que as más notícias foram-se acumulando para a esquerda latino-americana.
Na Venezuela, a oposição obteve maioria parlamentar nas eleições legislativas de dezembro. Rico em petróleo, o país está à beira do colapso económico.
Na Bolívia, o líder indígena Evo Morales perdeu em fevereiro uma consulta sobre a possibilidade de se candidatar a um quarto mandato na Presidência, enquanto no Equador, o economista de esquerda Rafael Correa desistiu da ideia de um terceiro mandato perante sondagens nada favoráveis.
A maior parte destes governos afirmaram-se porque deram ênfase à redistribuição, mas faltou-lhes fomentar a criação de riqueza e o investimento. Se não se produz, não se pode repartir.
Além disso, uma série de escândalos de corrupção alimentaram o mal-estar da população.
A saída do poder do PT de Lula e agora a destituição de Dilma mudam definitivamente os ventos na região. Alguns dos seus seguidores consideram que o Partido dos Trabalhadores ficou muito rosa, coligando-se a partidos que só queriam acesso aos fundos públicos para benefício próprio. O PT foi isolando lentamente as suas bases, interrompeu a formação de novos líderes, e foi-se aliando a partidos de centro e direita para garantir a governabilidade.
Se a chegada ao século XXI foi um novo começo para a esquerda - após um século XX que a condenou à marginalização com golpes de Estado, a América Latina pode estar agora a viver o surgimento de uma nova direita, mais pragmática, comprometida com a democracia e com uma agenda social muito diferente do habitual.
A boa notícia para a esquerda, é que a direita nunca provou ser muito melhor na gestão das crises económicas. No entanto, não nos podemos esquecer que os partidos de centro-direita e de direita que estão a beneficiar do colapso da esquerda em toda a América Latina sofreram, eles mesmos, um colapso semelhante há uma década.
Do outro lado da mesa política, está a Europa, onde se está a manifestar um jogo político idêntico. A democracia afirma-se com uma esquerda cada vez mais titubeante e com partidos de centro-direita a percorrerem o caminho que há décadas já percorreram. No meio estão os Estados Unidos que teve impacto mundial com uma ligeira viragem política e com sorrisos de boa convivência mas que está a esgotar os seus trunfos, agora ameaçados por um lunático que a todos ameaça, inclusive a América Latina e a Europa. E é nesta Europa que se vai jogar o grande jogo de ping-pong. Numa mesa nada plana e onde a rede central está muito mal esticada, é natural que a bola política não faça o seu percurso normal em todas as jogadas. A Espanha não tem governo e está à beira das terceiras eleições, por teimosia de partido socialista que quer governar sem ter ganho as eleições, tal como sucedeu em Portugal; a França onde o regresso de Sarkozy é uma hipótese e onde Marie Le Pen avança de espada em riste; uma Inglaterra que se afasta da União por interesses ancestrais e é governada por quem até defendia a manutenção e ainda uma Turquia que, não querendo mais do que ajudas externas da Europa, não quer deixar de ser o que sempre foi, criando problemas internacionais gravíssimos.
Com um cenário destes, não sei como acabará o jogo, mas que não está fácil, não está certamente.

Vendavais - Para onde estás a olhar?

A subjetividade das coisas está sempre no modo como as vemos e como as interpretamos e como nem todos as vemos e interpretamos da mesma forma, tudo acaba por ser subjectivo. Mas há sempre maior ou menor subjetividade sobre o que se nos depara no dia-a-dia das nossas vidas.

Ultimamente temos estado em contacto com acontecimentos demasiado negativos. Um rol de desastres imenso tem-nos sido brindado neste mês de agosto, trazendo a terreiro um peso demasiado negativo num tempo em que todos nos deveríamos libertar por algumas semanas, dessas preocupações sempre tão presentes ao longo do ano. Mas não.

Quando os ministros estão de férias e numa época em que pensamos que nada nos vai incomodar vindo dos lados do governo, eis que nos bate à porta uma alteração do IMI. Alteração de uma subjectividade tão grande que ameaça o ridículo e a incompetência de quem quer ser mais esperto do que o mais comum dos mortais. E porquê? Pela simples razão de que esta alteração se prende com as vistas que se tem de nossas casas. Pasmem! Se da minha janela vejo um lameiro, coisa sem importância, pago menos IMI, mas se vejo uma avenida movimentada onde proliferam as lojas de marca, então pago mais IMI. Pois bem, e quem é que disse que eu gosto de ver a avenida cheia de lojas e de barulho quando vou à minha janela? E quem lhes disse que eu não prefiro ver o lameiro onde pululam as cegonhas e os rebanhos ocasionais que por lá vão em busca de alimento? Quanta subjetividade! É claro que este tipo de análise já estava comtemplado na anterior legislação, mas tinha somente um peso de 5% no valor do IMI. Agora agravou-se 15%, passando para 20% do imposto, mas com a alteração mais acentuada das vistas que se têm e da localização do prédio onde se mora. Pois é, diz-me para onde está a olhar e eu dir-te-ei quanto vais pagar de IMI!! Francamente!

Mas o negativismo deste dia-a-dia não fica por aqui. Não vale a pena referir o desastre que atingiu 423 automóveis no festival de Castelo de Vide. Inacreditável! Mas o caso é que nenhum deles era certamente de algum amigo de Sócrates, pois se assim fosse, poderia ter sido oferecido pelo Grupo Lena, como se vem dizendo na comunicação social.

E para não fugir ao tema, fomos abalroados pela informação de que a Galp andou a oferecer passagens a secretários de estado para irem ao futebol! E eles aceitaram! Mas quando a comunicação social levantou a lebre, não se atrasaram a dizer que iam devolver o dinheiro das passagens. Levantou-se o problema da legalidade e da legislação e sua interpretação e a necessidade de dar um jeito aos decretos de modo a que não houvesse segundas interpretações. Pois claro, era só o que faltava. Mas o azar não acaba aqui. É que enquanto uns foram ao Euro ver jogar a seleção, outros foram aos olímpicos e … foram assaltados. Azar dos Távoras. Alguém disse aos brasileiros que o ministro da Educação andava de bolsos cheios, mesmo na praia de Copacabana e eles acreditaram.

Felizmente nem tudo tem sido negativo ou mesmo subjetivo. Há coisas que sorriem aos portugueses no meio de tanta adversidade. A Volta a Portugal foi ganha por um português. Rui Vinhas conseguiu escrever essa proeza nos anais da História recente, coisa que já não acontecia há muitos anos. Mourinho, um português dos maiores, ganhou a supertaça inglesa ao serviço do Manchester United. Foi entrar e vencer. Nos jogos olímpicos, a seleção nacional de futebol, soma e segue. Depois de ganhar à Argentina, ganhou agora às Honduras. Que contente está o treinador Rui Jorge. Valha-nos o desporto. Por acaso o desporto não paga IMI.

Se assim fosse, não chegaria aos nossos campeões o que ganham para pagar ao Estado as vistas que vão tendo dos locais onde vão abrindo as janelas das suas habitações ou das bicicletas que os levaram a ver a Meta do final da Volta. 

 

Vendavais - Juventude desnorteada

A Europa está sob uma pressão enorme e implacável. Os últimos tempos têm sido terríveis, repletos de vivências inimagináveis e de incontroláveis atitudes por parte de quem não tem qualquer noção sobre o valor da vida humana.
A verdade é que o velho continente é cobiçado quer pela sua cultura, quer pela sua situação no contexto económico mundial, pela importância estratégica que inegavelmente usufrui e além disso, como objeto de uma vingança desmesurada de base racista e religiosa. Se aparentemente isto poderia ser justificável em termos normais, deixa de o ser a partir do momento em que se influenciam mentes jovens incultas e desnorteadas para ações tão execráveis como as que acabámos de ter em Nice e em Munique, para não falar de outras menos mediáticas.
Se em Nice houve uma ligação entre o indivíduo que resolveu atropelar a multidão que festejava o dia da liberdade e o auto proclamado estado islâmico, já em Munique parece não existir tal conexão. Contudo, a juventude do primeiro, está bem patente no segundo, pois se um tinha cerca de trinta anos o outro tinha dezoito, ou seja, se o primeiro se deixou manipular por um ideal atópico, o segundo deixou-se influenciar por uma tendência recalcada que resolveu extroverter em quem não tinha culpa nenhuma. Afinal que juventude é esta?
Indiscutivelmente, a Europa está sob um fogo cerrado de indivíduos criados em cativeiro como se de animais se tratasse, com o único objetivo de servirem de armas de arremesso contra tudo o que habita neste continente. Como não se conseguem mentalizar facilmente as mentes já formatadas e mais velhas, agarram-se as mais novas, as mais desnorteadas e desequilibradas, que mais facilmente podem ser formatadas a seu bel-prazer para, sem qualquer pudor, se atirarem aos leões em pleno circo para gozo deles próprios e para mal dos que quase não chegam a vê-los desfazer-se em pedaços. Estes jovens têm de estar forçosamente muito desnorteados!
Realmente, o que leva um jovem a pegar numa arma e começar a atirar sobre as pessoas que passam à sua frente? Que gozo poderá retirar dessa atitude? E que quereria ele provar com essa maluquice? Pior do que isso, que pretendia ele demonstrar se a seguir se suicidou? Nada, absolutamente nada. Somente a prova de que era completamente desnorteado e o seu desequilíbrio serviu para matar nove pessoas, não retirando daí nenhum benefício próprio.
Em todos os casos de atentados que temos visto na Europa, nenhum dos protagonistas retirou qualquer benefício ou qualquer outro estímulo posterior já que simplesmente foram mortos ou se suicidaram para não serem apanhados e julgados. Isto é o que eles não querem. Isto é obra de uma juventude equilibrada? Não, com toda a certeza. Mas se isto mostra desequilíbrio o mesmo demonstraram os Kamikaze japoneses da segunda guerra mundial, muito embora estes não tenham sido possivelmente mentalizados numa espécie de cativeiro de guerra para se suicidarem a seguir contra os navios inimigos e, também não tinham a esperança de conquistar esta Europa onde os aliados se encontravam. Mas a juventude estava lá como agora está nestes desequilibrados. Uns e outros não provaram nem provam nada a não ser o seu desequilíbrio. É pena gastar a juventude em tão pouco tempo e sem benefício algum, numa altura em que a juventude é mais necessária para tantas coisas bem mais profícuas do que estas atrocidades.
Podemos condenar muitas coisas que a juventude faz como o casal que foi apanhado a fazer sexo na rua em pleno dia em Minsk ou mesmo o chamar ao aeroporto do Funchal, aeroporto Cristiano Ronaldo, o nosso jovem de trinta e um anos, mas estas atitudes têm um propósito de alguma forma válido, embora condenável, mas não matam ninguém. Somente irreverência no primeiro caso e presunção no segundo, já que não foi o Ronaldo que pediu que o seu nome fosse dado ao aeroporto, mas a esse respeito uns concordam e outros não. É o povo a pensar. Mas o desnorte anda por aí. É pena!

Vendavais - A força de um povo

Espalhados pelos quatro cantos do globo, os portugueses marcam a sua presença e integram-se onde quer que estejam e sabem adaptar-se perfeitamente de tal modo que são respeitados por toda a parte. Levámos connosco desde tempos imemoriais esse hábito de conhecer tudo e ensinar o que sabíamos aos que de nós nada sabiam. Marcámos território.
Assim, espalhados por este globo imenso, conseguimos impor-nos aos poucos, e levar os outros a considerar-nos como um povo com características muito próprias eivados de uma força imensa que só se consegue quando funciona em uníssono. E quando assim foi, vencemos sempre.
Foi esta força enorme, a força de um só povo, que conseguiu vencer este Europeu. Foi essa força enorme que derrotou os franceses, ciosos das suas capacidades, mas sem a força necessária para suplantar a força do povo português.
Os franceses criticaram a seleção portuguesa e disseram que Portugal nada tinha demonstrado como equipa e que estava ao alcance da França. Disseram mesmo que éramos porcos a jogar. Que jogávamos mal. Afinal o que dirão agora os franceses que desse modo criticaram Portugal?
Pelo que vimos, eles levavam a lição bem estudada. Era preciso acabar com Ronaldo, fosse como fosse. Aos vinte e cinco minutos acabaram com ele. Devem ter respirado de alívio. Mas uma seleção não é só um homem. É um povo, uma vontade, uma esperança, uma força imensa. Não havia Ronaldo, mas havia química secreta que é desconhecida dos franceses e de todos os outros povos. Uma química chamada Pátria, chamada ambição. Laços de união fortíssimos entre todos os que em campo batalharam para representar mais de onze milhões de portugueses espalhados pelo mundo desde o Minho a Timor, passando pelo Brasil e mesmo pela Austrália. Isto, a França não pode exprimir porque não tem.
Quase todos pretenderam denegrir a nossa seleção, todos a criticaram. É verdade que não começámos da melhor forma, mas como diz o povo, não se louva quem bem começa, mas quem bem acaba. Acabámos muito bem. Ganhámos o título que nos fugia há muitos anos. Vingámos a Grécia e vingámos a França. Diria mesmo que vingámos também a Alemanha, embora não se trate propriamente de vinganças. São formas de expressar o sentimento que nos vai cá dentro. Um sentimento que os emigrantes portugueses em França bem conhecem, porque vivem e convivem no meio dos franceses todos os dias e são por eles amesquinhados muitas vezes. Mas como noblesse oblige, há que aguentar e calar. Chegou o momento de falar, de gritar bem alto o nome de Portugal e enaltecer o valor de um povo, o povo português.
Parabéns aos valorosos guerreiros que, apesar de ficarem sem o seu capitão dentro das quatro linhas, manteve-se atento e sofredor fora delas, ocupando espaços que não podia para incentivar os colegas e dar-lhes a receita da força que o povo português tem e que ele bem conhece: a força da união.
Sofremos todos, como sempre sofremos. Eles ensinaram-nos a sofrer, mas também a ter esperança. Sofremos muito, mas o final valeu a pena. Como diziam os emigrantes portugueses, “temos de comer os galos” e cumprimos. Comemos na mesa deles e em casa deles.
Agora os que criticaram a seleção portuguesa, desde os espanhóis aos alemães, passando pelos franceses têm de se reverenciar e olhar para dentro de si próprios e fazerem o seu acto de contrição, se forem capazes disso. O seleccionador tinha razão quando dizia que só viria dia onze e que seria recebido em festa. Claro. Mesmo que perdesse, merecia essa festa na sua receção. Fez de tudo para garantir a manutenção e a vitória. Conseguiu. Pragmático e racional quanto baste, soube equilibrar o barco para que nunca se afundasse e chegasse a porto seguro. Teve mérito. Foi um ótimo timoneiro. Fez de Portugal Campeão Europeu pela primeira vez na História e isso ninguém lhe pode tirar.
Agora podemos dizer todos juntos e a uma só voz “somos campeões europeus”. Em evidência esteve a força de um povo com uma alma maior que o próprio mundo.

Vendavais - E agora amigos?

Os britânicos têm destas coisas! Nunca quiseram ser verdadeiramente europeus ou melhor, continentais europeus. A verdade é que não são, ou então as ilhas passariam a ser uma outra coisa diferente. Serão sempre as Ilhas Britânicas e o espaço onde se inserem, será sempre o Atlântico Norte. Paciência.
Já Napoleão tentou derrotar essa arrogância britânica com o célebre Bloqueio Continental que arrastou Portugal para três invasões francesas e não conseguiu.
A verdade é que os ingleses são muito conservadores e não conseguem virar as costas aos velhos hábitos como por exemplo, o leiteiro deixar à porta de cada um a cantarinha de alumínio ou a garrafa com o leite do dia.
Arrastados para uma união europeia onde grande parte se identificava, nunca se tornaram, contudo, verdadeiros europeus da união já que não aceitaram o euro como a sua moeda, mantendo a eterna libra. Ao longo dos anos, várias foram as negociações que foram feitas, sempre para acomodar o Reino Unido nesta falsa União. Mas compromissos são compromissos.
A União Europeia tem já 56 anos de existência e a sua construção tem sido difícil e mais difícil ainda a sua manutenção como tal. Tratados atrás de tratados têm sido assinados para envolver suscetibilidades e tendências e foi preciso, passados 56 anos, criar o célebre artigo 50 no Tratado de Lisboa em 2007 que permitia que um estado membro pudesse iniciar um processo para sair da União. Aconteceu agora. Mas os britânicos saem já? Não. Não podem.
O ponto 3 desse artigo, explica que “os Tratados deixam de ser aplicáveis ao Estado em causa a partir da data de entrada em vigor do acordo de saída ou, na falta deste, dois anos após a notificação” do desejo de saída. E o mesmo ponto ainda prevê que o “Conselho Europeu, com o acordo do Estado-membro em causa, decida, por unanimidade, prorrogar esse prazo”.
Significa isto que a Grã-Bretanha continua presa à União Europeia durante mais alguns anos. Aliás, Michael Gove, o ministro da Justiça que se tornou o principal representante do governo entre os defensores da saída, disse no início do mês que o país “não sairá da União Europeia até ao fim desta legislatura”, previsto para 2020. Mas o processo não acaba aí e pode prolongar-se por mais de dez anos. Portanto, o Reino Unido está para ficar, ainda que alguns pensem que vão ser independentes já amanhã. Há ainda toda uma política interna britânica a discutir antes de uma decisão final, até porque as leis nacionais que foram adotadas na transposição de leis europeias, continuam válidas até que as autoridades nacionais decidam alterá-las. E mesmo aqui, Bruxelas continua a ter uma palavra.
E Portugal? Como é agora a dança dos tratados e das alianças? Será que Costa vai esfregar as mãos de contentamento e querer livrar-se também das exigências de Bruxelas? Não será bem assim. As coisas tornam-se um pouco mais difíceis para nós já que contamos com a Inglaterra como um dos maiores parceiros do comércio externo e também porque o nosso turismo assenta em muitos milhares de ingleses que se deslocam principalmente para o Algarve, nas suas férias de verão e não só. São muitos milhões de euros a entrar nos nossos cofres e precisamos deles. Por outro lado, há uns milhares de enfermeiros portugueses a exerce no Reino Unido e muitos que se preparam para ir para lá com base nas leis europeias da livre circulação de pessoas e bens. Será que tudo vai mudar? Algumas coisas já mudaram como sabemos, com as últimas negociações e imposições entre o Primeiro-ministro David Cameron e Bruxelas e que incluía as prestações sociais dos trabalhadores entre outras coisas. Pelos vistos, não foram suficientes para quase 52% dos ingleses. Esperemos que para estes, o nosso vinho do Porto continue a ser o melhor de todos.
Agora, meus amigos, aberto este precedente, a Europa vai viver momentos desagradáveis e contenciosos, capazes de gerar conflitos tremendos entre países membros e não só. Os independentistas da Escócia, os catalães e mesmo os franceses de extrema-direita, querem agora referendos e marcar também as suas posições. É que a Escócia, por exemplo, é pró-europeia e não pró-Inglaterra. A Espanha já está a viver um problema de independência há uns anos e agora vê agravada a situação e os independentistas da Catalunha têm agora mais força perante esta separação do Reino Unido. E a Bélgica? E a Suíça? Que papéis irão desempenhar estes países que até agora se mantiveram à margem da União Europeia? Será que a construção de uma Europa Unida vai cair por terra? Se assim for, uma vez mais, os países europeus falharam nas suas políticas, nas suas economias, nas suas exigências absurdas e não foram capazes de afirmar o que realmente os une. A Europa aberta e desimpedida foi, talvez, o ponto de toque de toda a viragem. Foi a partir daí que a Europa foi invadida por outros povos, foi a partir daí que se deu o colapso económico e foi a partir daí que se desencadeou toda a onde terrorista que se vive hoje na Europa e no Mundo.
A Europa ainda não estava preparada para esta mudança. Quando estará? Se é que algum dia vai estar.

VENDAVAIS - Redonda, mas com dois lados

Há já muitos séculos alguém conseguiu inventar uma coisa tão simples como a roda, mas que revolucionou absolutamente todo o sentido da vida que até esse momento se vivia. Foi uma questão de perspicácia apurada, observação e necessidade. Diz-se que a necessidade aguça o engenho e a prova é toda uma panóplia de invenções que ao longo dos séculos foram surgindo redimensionando o dia-a-dia de todas as comunidades em todo o mundo.
Possivelmente quem inventou a roda viu muitas vezes rolar pedras e troncos pelos campos ou pelas encostas dos montes e daí surgiu a ideia de ser ele a fazer algo parecido com mais utilidade e que servisse para os seus afazeres. Acabaria por revolucionar tudo o que é possível imaginar ao cimo da Terra. Hoje tudo roda sobre rodas e quando empregamos esta frase, é precisamente para dizer que tudo está a andar muito bem. Claro!
Sabemos bem que nem tudo corre sobre rodas hoje em dia e estamos fartos de o referir diariamente a propósito de quase tudo. Mas basta uma simples coisa correr bem para melhorar o sentido de tudo o resto e consolarmo-nos com isso.
Começou há dias o Euro 2016 onde depositamos toda a nossa esperança na equipa das quinas com a esperança de conseguirmos o que nunca foi conseguido. Vinte e três bravos vão iniciar uma batalha enorme contra uma Europa imensa, em nome de um só país, pequeno, mas com uma alma do tamanho do mundo, aquele que conseguimos descobrir e aculturar. A vantagem é que a bola que eles vão movimentar é igual para todos e aí somos iguais. O contra é que a mesma bola que eles vão movimentar, apesar de ser redonda, como as pedras que levaram à invenção da roda, tem dois lados. Precisamente. É redonda, mas tem dois lados. Pois isto não é nenhuma invenção. É que só ganha um dos lados que movimenta a bola!
Os portugueses sempre gostaram de futebol e de fado e durante muito tempo arvorámos as bandeiras destes símbolos e em todo o mundo foram reconhecidos como tal. Amália e Eusébio mantiveram acesas as chamas de um Portugal que a muito custo queria afirmar-se entre os grandes, mesmo que fosse cantando o que os outros não sabem cantar ou chutando uma bola bem redonda que encantava ver passar para dentro de redes alheias. Desses tempos gloriosos ficaram as recordações imensas que continuamos a reviver.
Hoje temos igualmente entre os seleccionados, um símbolo mundial e nele depositamos aquela esperança que nos caracteriza. Cristiano Ronaldo não necessita de muitas referências ou exaltações, pois todos conhecem a sua capacidade e o seu valor, mas vai precisar do valor de todos os outros que com ele vão enfrentar essa Europa que tanto nos amedronta, embora por outras razões! Mantemos a esperança. Por que não?
Não vamos precisar de cantar diferentemente a não ser o nosso Hino sempre que entrarem em campo os valorosos onze da frente da batalha. Não há que temer. Nuno Álvares Pereira quando enfrentou os espanhóis, seis vezes mais do que nós, apesar de muito receio e um medo atroz, acabou por ganhar. Valeu-lhe a coragem de todos e, possivelmente, uma ajuda divina. É disso que continuamos à espera. Uma ajuda divina que aliada à nossa coragem e valentia, mas também muito saber, nos ajude a ganhar o que sempre nos escapou. Há sempre uma primeira vez para tudo e pode ser que desta vez o tal caneco nos calhe em sorte.
Pois é, sendo a bola redonda e igual para todos, basta que saibamos fazê-la rodar e encaminhar para o lado certo, porque, quer queiramos, quer não, só um dos lados vai poder dizer que ganhou. Esta bola da esperança tem um peso enorme, sem dúvida, mas como são vinte e três e mais uns quantos a aguentar com ela, talvez o peso seja bem repartido e possamos trazê-la para este país pequeno de tamanho, mas enorme na ambição.