class="html not-front not-logged-in one-sidebar sidebar-second page-frontpage">

            

“Festa dos Caretos, dos Rapazes e de Santo Estêvão” em debate em Torre D. Chama

ESTA NOTÍCIA É EXCLUSIVA PARA ASSINANTES

 

Se já é Assinante, faça o seu Login

INFORMAÇÃO EXCLUSIVA, SEMPRE ACESSÍVEL

Qua, 01/08/2018 - 18:23


Já foram apresentados, em Torre de Dona Chama, Mirandela, os resultados relativos à inventariação feita sobre a Festa dos Caretos, dos Rapazes e de Santo Estêvão da vila mirandelense.

XV Acampamento regional juntou 300 escuteiros em Carrazeda de Ansiães

ESTA NOTÍCIA É EXCLUSIVA PARA ASSINANTES

 

Se já é Assinante, faça o seu Login

INFORMAÇÃO EXCLUSIVA, SEMPRE ACESSÍVEL

Qua, 01/08/2018 - 18:15


Lobitos, exploradores, pioneiros, caminheiros e dirigentes. Falamos de escuteiros que estiveram no XV acampamento regional dos agrupamentos da região de Bragança-Miranda (ACAREG), no Centro Nacional de Escuteiros, em Carrazeda de Ansiães, desde a última quarta-feira até ao domingo passado.

Santa Casa da Misericórdia de Mirandela celebra 500 anos

ESTA NOTÍCIA É EXCLUSIVA PARA ASSINANTES

 

Se já é Assinante, faça o seu Login

INFORMAÇÃO EXCLUSIVA, SEMPRE ACESSÍVEL

Qua, 01/08/2018 - 18:03


A contar 500 anos de história e vida, a Santa Casa da Misericórdia de Mirandela reuniu utentes, funcionários e amigos para festejar “com a dignidade que a situação exige”, afirmou o provedor desta entidade, Adérito Gomes. 

O reino maravilhoso dos avós

Ter, 31/07/2018 - 15:36


Olá minha boa gente,

É bom saber que há cada vez mais pessoas que nos lêem. Aproveitamos sempre esta página para tentarmos fazer dela o “reflexo” do que semanalmente acontece nos nossos programas radiofónicos. Sinto que também estamos a conseguir fazer nova família através desta página do jornal.

Em forma de balanço do mês que hoje termina já posso dizer que Julho foi o mais participativo de todos, ao longo dos quase 29 anos da nossa existência. Temos tido novas caras e novos corações que estão a dar mais vida à nossa família.

No Domingo passado tivemos mais um dia grande. Comemoraram-se as bodas de ouro matrimoniais do tio Fernandinho Moita e da tia Candidinha, do Felgar (Torre de Moncorvo),“és tão linda, ó minha aldeia!” A cerimónia realizou-se no santuário de Nossa Senhora do Amparo, onde há vinte anos, através do tio Fernandinho Moita, realizámos um Piquenicão. Desde o início do nosso programa que este tio ficou nomeado como presidente do amor e da amizade da família. Foram muitos os tios e tias que estiveram presente na cerimónia, pois os homenageados também têm feito sempre questão de estar presentes em todos os eventos para os quais têm sido convidados. Que o pão da boda continue e a saúde também.

De parabéns também estiveram, na última semana, a Inês Isabel (15), de Rio Frio (Bragança); Júlia (58), de Tuizelo (Vinhais); Fernanda (73), de Penela da Beira (Penedono – Viseu); Hilário (67) e Ana Bela (39), pais e filha, de Nuzedo de Cima (Vinhais); Liberdade Jantaradas (78), de Sendim (Miranda do Douro); Domingos Romão (53), de Caravela (Bragança); Inácio (75), de Santulhão (Vimioso); Manuel (49), de Amendoeira (Macedo de Cavaleiros); José Manuel (67), de Ifanes (Miranda do Douro) e a tia Aurorinha (72), da Póvoa (Miranda do Douro); Guilherme Henrique (83), de Stª. Eugénia (Alijó). Muita saúde para todos e que para o ano voltem a festejar o aniversário connosco.

Porque mais de 80% daqueles que nos ouvem e participam são avós, e o seu dia se comemorou na passada quinta-feira, dedico esta página àqueles que são os segundos pais.

Vendavais - Barba rente

O homem faz a barba desde que é homem. Primeiro com pedras aguçadas, com conchas e outros objetos cortantes. Para facilitar a operação e proteger a pele, mais tarde, usou o azeite, a banha e outras gorduras.
Com a descoberta dos metais apareceu a faca que, neste domínio, prestou muito bons serviços, durante séculos. 
Em finais do século XVIII, a grande descoberta deve-se ao francês Jean Jacques Perret que criou uma navalha especial, dobrável e de aço extraordinariamente fino e cortante. Foi a navalha que todos ainda conhecemos, mas que poucos usam. Só nos barbeiros e não é em todos, é que ainda se faz a barba com a célebre navalha.
Esta navalha foi já objeto de grandes discussões e análises e já esteve proibido o seu uso em alguns locais e épocas variadas devido ao uso ameaçador do proprietário quando alguém mais comprometido se sentava na cadeira do barbeiro. 
Realmente ter a navalha no pescoço, era estar a um passo da morte pois a ameaça do manejador sentenciava muitas discussões e também igual número de chantagens. Coitados dos que tinham alguns rabos-de-palha.
Hoje, seria talvez um bom instrumento para endireitar caminhos menos claros que muitos dos nossos políticos percorrem. Tal como a necessidade aguça o engenho, também o medo faz arrepiar caminhos.
Todavia, considerando o elevado preço desta navalha, o americano King Kampfe Gillette fez a grande descoberta que havia de chegar ao mundo inteiro e conquistar todos os mercados: a lâmina de dois gumes, de usar e deitar fora.
Esta não trazia ao mundo nenhuma ameaça e era de uma ligeireza extraordinária, quer no desfazer da barba, quer no seu tempo de utilização e não precisava de ser afiada constantemente como a célebre navalha ameaçadora de pescoços.
Instalada numa pequena máquina de baixo custo, para uso individual, facilmente conquistou os utilizadores. Contudo, os barbeiros não se desfizeram do antigo instrumento de barbear. Resta saber se por comodidade ou se para sua defesa e não só. O barbeiro com a navalha na mão, é juiz em sede própria, ainda que a sentença possa tombar para qualquer lado.
Apesar de tudo, o espírito de economia e poupança breve levou à criação de uma maquineta capaz de afiar estas lâminas já em fim de vida, prolongando-lhes o tempo de duração. A fábrica Allegro, na Suíça e também em Inglaterra, entre os anos 30 e 60 do século XX, criou e difundiu este dispositivo de fácil utilização e de resultados satisfatórios. Tinha o inconveniente do seu custo, relativamente elevado, razão por que a sua generalização se ficou pelas pessoas com maior poder aquisitivo. E se ao tempo, alguns se dedicavam nos tempos mortos a afiar essas lâminas da Gillette, outros que não tinham tempo para essas modernices, limitavam-se a usá-las mais tempo e depois deitá-las fora.
Entretanto, a criatividade do homem encontrou outras alternativas, mais baratas e descartáveis e que não oferecem perigo de maior.
Contudo, o homem imbuído nas andanças das modernices e do progresso, inventaria de seguida a máquina eléctrica de barbear. Mais cara e menos versátil, não é de todo o instrumento preferido para fazer a barba.
A velha navalha de barbear, essa sim, continua a marcar pontos quer no desfazer da barba, quer nas ameaças para quem se senta na cadeira da justiça popular que no dizer do barbeiro, “aqui só senta quem não está comprometido”. Pudera!

 

Estação maluca

Maluca se designa a estação estival porque asneiras estripadas, atitudes insólitas, acções estúpidas, enfim, todo aquilo que nos fere a sensibilidade, nos vai moendo, devagar, devagarinho, o juízo, levando-nos a súbitas manifestações de mau humor, quando não a iracundos esbracejamentos a provocarem surpresa a quem nos conhece, com quem convivemos. Os antigos diziam serem os efeitos do imenso calor, serem zoeiradas a passarem mal chegavam os ventos vindos da festa em honra de Nossa Senhora dos Remédios de Tuizelo.
Esses mesmos antigos mediam o tempo de acordo com o calendário litúrgico, soletravam datas de festas, feiras, trovoadas e demais ressonâncias estrídulas em função da sua própria vida numa cadência provinda dessa enorme conquista que foi a contagem do tempo expressa na Torre sineira, ali o sino de voz varonil fazia-se em ouvir nas redondezas alertando os atrasados, os dorminhocos, os relapsos ao aforismo – deitar cedo e cedo erguer dá saúde e faz crescer –, agora crescemos a caminho da finitude carregando equipamentos de guia dos nossos passos obrigando-nos a lastimar o tempo perdido (leiam o Proust), a fungar pingos do nariz por não termos prestado mais e melhor atenção às nossas avós na altura de elas recordarem os moços de cegos, autênticos alfobres de novidades.
Agora, as novidades atropelam-se nos telemóveis, nefandas algumas, chamo a atenção para a excelente reportagem da TVI relativa à valsa lenta de horrores perpetrados contra doentes e idosos na Santa Casa da Misericórdia de Ponta Delgada, sucedendo o mesmo na de Angra do Heroísmo, ver e ouvir os miolos daquele rosário de infâmias provocou-me a mesma repulsa sentida ante a contemplação de sinistras memórias do holocausto, levando-me à interrogação: como é possível? E, interrogo-me ante a passividade do governo regional. O secretário de Estado regional já devia estar demitido, os irmãos (com minúscula) evidenciam execrável comodismo pois não consta terem suspendido os Provedores, e ordenado rápido e honesto inquérito aos acontecimentos denunciados nas referidas reportagens. Só na estação maluca? Claro que não, porém como a TVI decidiu (e bem) avinagrar a quentura dos dias, conviria dedicarmos algum tempo à análise das nossas instituições de todo o género, principiando por elencar as existentes, visitá-las fazer perguntas, pedir relatórios de contas e avaliações, fazê-lo é um dever de cidadania, mais a mais estas Organizações recebem e gastam dinheiros vindos do Orçamento de Estado.
Por mais de uma vez saliento a acuidade dos editoriais de Teófilo Vaz, pois bem, o estarmos no auge da estação da toleima, leva-me a pedir-lhe o favor de recapitular os grandes temas/problemas a atrofiarem o Nordeste, associando-lhe os esforços e tomadas de posição dos deputados na resolução dos mesmos. Eu sei da quase nula eficácia do detergente – requerimentos –, por isso interessa-me conhecer outras diligências e efeitos no decorrer da temporada de trabalho agora finda dos nossos honoráveis.
A degradação do transporte ferroviário é chocante, clamorosa, digna de chamada de atenção do Senhor Presidente Marcelo. Bem sei, outro tema louco é o golpe de Tancos e o Presidente não tem logrado grande esclarecimento, no entanto, os comboios gastam muitos dias em férias (greves), os défices são do tamanho dos Himalaias, os passageiros pagam passes e bilhetes, viajam quando viajam numa clara cópia do velho trem “lhega, quando lhega”, devemo-nos envergonhar, não por acaso somos anfitriões da Senhora que cantou a populista Evita, possui uma frota de quinze carros (Ronaldo possui mais penso desprovido de malícia), e já terá visitado o vizinho, o Museu de Arte Antiga, todavia não consta ter deixado um cheque ao Dr. Pimentel.
Eu gosto de visitar e estudar Museus, a escritora Natália Nunes escreveu Assembleia de Mulheres, acídulo romance polvilhado de mulheres (muito antes da guerra das quotas), sempre que leio novas e velhas fórmulas de massa levedar no Museu Abade de Baçal, recordo a Dra. Maria de Lourdes Bártolo, ela tinha classe, autora de textos bem escritos (possuo alguns) de doutrina museológica e adorava antecipar-se aos acontecimentos. 
Caríssimos leitores: num tempo de alta volubilidade das notícias, hei-de escrever relativamente às falsas, duvidei do interesse dada a rusticidade cómica do tema – a estéril natalidade – porque se fazer meninos no feitio só o Jeco se obriga a esforços, brotá-los é dolorosa incumbência da Jeca, criá-los é constante obrigação dos dois, este somatório leva à rarefacção daí a astúcia da Senhora Merkel, a receita está testada desde sempre, as moleirinhas sabem-no, falar em vez de fazer ultrapassa a sazão calorenta. Os comentaristas fingem não saber! O fingimento é extensivo às restantes matérias desta crónica escrita à beira-mar. Nas proximidades veraneiam vários comentaristas. Daí o contágio. Desculpem!

Donos disto tudo

Conviver com alguns alunos chineses há um par de anos revelou-se-me uma experiência extremamente agradável. Em teoria, pelo menos desde os tempos dos aventureiros Marco Polo e do nosso Fernão Mendes, todos temos noção das diferenças entre as nossas culturas e as daquele lado do mundo. Mas uma coisa são ideias extraídas daquilo que se ouve ou lê e outra, bastante diferente, a realidade que de repente nos surpreende como um sopapo na cara. E neste caso a minha admiração iria ultrapassar em muito o que um olhar mais desatento talvez considerasse simples particularidades raciais sem significado.
Embora isso já fosse imenso, não era só por aqueles adolescentes exibirem invulgares dotes de serenidade, simpatia, correção e educação que entre a malta de cá quase se perderam. Também porque se entregavam ao trabalho com o mesmo afinco e perfecionismo às oito e meia da manhã como às cinco da tarde, virtude a que vinha juntar-se uma resistência à fadiga como, em mais de quarenta anos, escassas vezes vi. Porém o que fazia as minhas delícias era algo ainda mais raro e a que não estava de todo habituado: o seu visível sentimento de gratidão. Como aprender era para eles claramente uma questão para levar muito a sério, nos seus rostos transparecia em permanência a honra de terem ali alguém à frente a dar o seu melhor para os ensinar, assim como o reconhecimento por essa dádiva. 
É bonito constatar existirem no mundo criaturas agradecidas pelo que alguém lhes oferece de bandeja.
De qualquer modo, naquela turma de sétimo ano onde os chinocas foram metidos passou a haver muitas mais coisas em que reparar, mesmo porque saltavam à vista. E, oh meu deus, que abismo medonho a separá-los da grande maioria dos filhos da nossa gente! A serenidade dos primeiros desafiando o desassossego dos segundos; a simpatia de uns a realçar a frieza dos outros; a correção lado a lado com a indelicadeza; a educação a cotejar a grosseria. No plano da ação concreta, era difícil ignorar uma dedicação às tarefas sem qualquer tipo de reservas de uma parte, e a preguiça e o ar de enfado de quem está a ser vítima de exploração da outra; a busca da perfeição contra a negligência como regra; o autodomínio a fazer inveja à precipitação; a resiliência humilhando a deserção ao primeiro obstáculo. 
A partir daquele restrito universo de sessenta metros quadrados, e sem perder de vista as devidas cautelas para evitar induções abusivas, não pude inibir-me de pensar nas mentalidades que necessariamente  alimentavam duas maneiras de estar tão diversas e palpáveis: já por colocarem maturidade, sensatez e seriedade num prato da balança e puerilidade, parvoíce e sobranceria no outro; já por revelarem metas traçadas e ideias bem definidas de par com desordem e deriva, a lembrar folhas no vento de outono; já por traduzirem ora o desejo de reservar lugares na linha de partida para a luta que é a vida, ora a indiferença de quem nem sequer sabe que vai haver luta. Na parte final da carreira, e quase como um balanço que punha em causa muitos anos de esforço (meu e de tantos outros), sentir-me professor, português, europeu, ocidental naquela circunstância foi sentir-me na fossa. Não apenas por aquela minha epifania, mas por saber bem de mais o que se passa na maioria das aulas da nossa escola pública: espaços onde uma parte significativa da rapaziada, cagando-se soberanamente para a sociedade que procura educá-la gastando recursos que tem e não tem, se dedica quase em exclusivo a representar até ao tédio a tradicional rábula do tontinho. Onde o desvario e o caos ditam as suas leis e não falta tudo para poderem ser comparados a manicómios. 
De modo que eu seria a última pessoa a ficar surpreendida com a notícia de um dos últimos números da revista Visão intitulada “novos donos de Portugal: a China tomou de assalto as empresas estratégicas do país e prepara novos investimentos milionários”. Ao mesmo tempo que a lia, as impressões colhidas nesses adoráveis miúdos de olhos em bico começaram a passar-me pela cabeça como num filme. No fim, e mesmo se apenas produto de um fugaz vislumbre da sua maneira de estar na vida, pareceu-me natural e justo que o mundo deles se esteja a preparar para dominar outro em visível decadência, o nosso: é que parecem ter os pés bem mais assentes na terra.

Nós trasmontanos, sefarditas e marranos - Catarina Henriques (Torre de Moncorvo, 1593 – Coimbra, 1660)

António Júlio Andrade
Maria Fernanda Guimarães
Catarina Henriques nasceu em Torre de Moncorvo pelo ano de 1593, numa casa da Rua dos Sapateiros, sendo filha de Pedro Henriques Julião e Francisca Vaz. Tal como as suas duas irmãs, aprendeu a ler e escrever, o que era bastante normal entre as mulheres hebreias de Torre de Moncorvo e outras comunidades.
Casou com Manuel Francisco da Mesquita, natural de S. João da Pesqueira. O casal fixou residência “na Rua Nova de Baixo, da Vila Nova do Porto, integrando-se bem na elitista classe mercantil da Invicta, constituída, em grande parte, por gente oriunda de Trás-os-Montes, conforme ressalta da lista de quase uma centena de prisioneiros que a inquisição fez naquela cidade pelo ano de 1658, contando-se entre eles a nossa biografada.
Não sabemos muito bem qual o modo de vida do casal. Adivinhamos que fossem mercadores pois se fala de lotes de baetas recebidos de países do norte, de vendas de pólvora, de mercadorias embarcadas para o Brasil. E também de umas letras não aceites e dívidas difíceis de cobrar, indiciadoras de atividades prestamistas.
Facto é que tinham em casa uma criada cristã-velha, chamada Francisca Gramaxa, um escravo negro, um moço flamengo e um criado vindo da China, que depois que a patroa foi presa, aprendeu a sapateiro e se tornou conhecido no Porto como “o sapateiro de Lisboa”.
Dissemos já que o casal morava em Vila Nova (de Gaia), certamente em uma das “duas moradas de casas, ambas juntas, sitas na Vila Nova do Porto, que de uma banda partem com casas de Inácio de França e de outras com casas de João Garcia, ambos da cidade do Porto, as quais casas houve seu marido, Manuel Francisco da Mesquita, por título de arrecadação de uma dívida em preço de 500 mil réis, pouco mais ou menos”.
Para além disso, tinha “um armazém, sito defronte da porta da travessa de Santa Maria, igreja matriz de Vila Nova do Porto, que é livre e foi feito de novo pelo marido dela declarante, não sabe quanto vale, mas anda alugado aos ingleses”.
 E tinha também “um campo cercado de per si, com uma casa térrea pequena, sito na estrada que vem de Vila Nova do Porto para a ermida de São Roque, o qual campo chamam do Pinheiro, que de uma banda parte com terras de Bento Nunes, já defunto, que vivia de sua fazenda, e da outra banda com Madalena Francisca, que houve o marido dela declarante por arrematação de Frutuoso de Faria”. 
Para além do mais, estas notas do inventário dos bens de Catarina, terão algum interesse para o estudo da evolução urbana da Vila Nova e talvez haja registos notariais que possam ser investigados com vista à identificação do armazém construído por Francisco Mesquita que já então trazia alugado aos ingleses.
O casal teve 5 filhos, mas só uma filha, chamada Francisca Vaz, como a avó materna, chegou à maioridade, vindo a casar com António Mendes de Almeida, (1) mercador, natural de Trancoso, com casa comercial estabelecida no Porto, filho do médico Belchior Mendes. Filha e genro moravam com Catarina Henriques.
Entre os muitos familiares do santo ofício existentes no Porto havia então um que se chamava Domingos Rodrigues Chaves. Obtivera carta de familiar em março de 1656 e, desejoso de mostrar serviço, em 24 de abril de 1657, escreveu para Coimbra “advertindo que hoje são nesta cidade do Porto tanta gente da nação que são mais que os cristãos-velhos” e informando que corriam rumores de práticas judaicas, nomeadamente em casa de Catarina Henriques. Ouvido oficialmente sobre o assunto, em 7.5.657, pelo comissário Manuel Seabra e Sousa, a mando dos inquisidores, concretizou tais rumores:
- Disse que estando conversando algumas vezes com Manuel Pereira, mercador, morador no Terreiro, o dito Manuel Pereira, em presença de sua mulher, Margarida Cardosa, lhe dissera que ouvira dizer a uma criada que fora de Manuel Francisco da Mesquita, defunto, o qual é tido e havido por cristão-novo e sua mulher e sua filha, que faziam cerimónias que lhe pareciam judaicas (…) e que a dita criada referia que Manuel Francisco da Mesquita, sua mulher e filha se despiam algumas vezes nus, sem camisas e punham os braços em cruz e assim estavam orando algum espaço, o que lhe parecia mal… (2)
Estranha coincidência! No mesmo dia, no convento de S. Domingos, no Porto, uma escrava forra de Ângela Cardosa, apresentou-se perante o padre superior denunciando como judaizantes e que faziam jejuns judaicos um conjunto de 18 pessoas das relações da sua patroa, entre elas Catarina Henriques.
De seguida, foi um arraso: dezenas de pessoas foram presas e levadas para a inquisição de Coimbra, entre elas Catarina e Francisca, sua filha. A generalidade desses prisioneiros logo confessaram suas culpas e, pelo menos 33 delas, lançaram denúncias de judaísmo sobre Catarina Henriques, muitas deles dizendo que era em sua casa que se reuniam para fazer cerimónias e jejuns judaicos. António Fernandes, por exemplo, acrescentou que Catarina Henriques, na páscoa, cozia bolos de pão asmo e os mandava a casa de alguns amigos e correligionários, “por guarda da lei de Moisés”. Nicolau de Oliveira, natural de Madrid, morador no Porto, filho de Luís Oliveira, natural de Vila Flor testemunhou o seguinte:
- Disse que, haverá 5 anos, em Vila Nova, no Porto, em um quintal de Catarina Henriques, cristã-nova de Torre de Moncorvo e moradora no Porto, se achou com ela e com Francisco Brandão, de Torre de Moncorvo, cristão-novo, mercador, não sabe onde era morador porque naquele tempo tinha sido reconciliado no auto da fé de Coimbra, por ocasião de o dito Francisco Brandão pedir a Catarina Henriques que deixasse ficar em sua companhia uma filha sua, enquanto ele dali passava a Castela e, estando juntos, se declararam.
Metida no cárcere, em companhia de Maria Cardosa e Maria Ledesma, suas conhecidas e amigas do Porto, as três mulheres meteram-se ali a fazer jejuns judaicos, certamente não imaginando que eram vigiadas.
Também Catarina confessou que judaizava e que fora ensinada 20 anos atrás, no Porto, por sua comadre Ana Gomes de Morais, que depois fora para Madrid que, entre outras, lhe ensinou a seguinte oração, que devia rezar no primeiro dia de lua nova de cada mês: 
- Lua nova valerosa / pela pubeira que tendes / me alcançai de Deus / tal e tal coisa que lhe peço.
O que mais impressiona no processo é a descrição dos gestos de amor de Catarina com o marido. A criada que a denunciou disse que quando ele chegava a casa, a mulher vinha para ele “salmodiando, dizendo: meu escolhido na limpeza, meu limpo e outros nomes”. E quando saía, rezava ao Deus do céu, dizendo: “guardai-mo, trazei-mo e livrai-mo”. A própria filha “chamava a dita criada e lhe mostrava o modo como seu pai estava com sua mãe”. 
Não vamos falar dos interrogatórios e “exames da crença” a que foi submetida pelos inquisidores, dizendo ela que rezava orações cristãs em honra da lei de Moisés. Aliás, era mesmo dentro da igreja cristã que ela e outras se declaravam judias. Muitos outros factos poderíamos apontar em prova da sua forma de viver marrana. Por outro lado, as contraditas que apresentou revelam um quadro bem colorido da sociedade mercantil do Porto naquele tempo.
Ao fim de quase dois anos de cárcere, em 16.3.1660, foi-lhe comunicado que estava condenada a ser relaxada. Vomitou confissões, nomeadamente os muitos jejuns judaicos feitos pela alma de seu marido, falecido por janeiro de 1656. Tais confissões não satisfizeram os inquisidores que, em 22 de maio seguinte, confirmaram a sentença de morte, nos seguintes termos:
- E depois das confissões, a sentença não foi alterada, porque a ré não denunciou a sua filha Francisca Vaz, nem declarou os jejuns que fez no cárcere, que eram os principais fundamentos do dito assento.
Saberia a Catarina que a filha falecera em 12.11.1658, poucos meses depois de dar entrada nas masmorras da inquisição? A propósito, refira-se que o seu processo só foi despachado 25 anos depois, no auto da fé de 21.2.1683! Veja-se o teor da sentença: 
- Confisco de bens, absolvida na forma de direito, sepultura eclesiástica, ofertar a Deus por sua alma os sacrifícios e sufrágios da igreja. (3)

 

Notas:
1-ANTT, inq. Coimbra, pº 3645, de António Mendes de Almeida, apresentado em 1667, casado em segundas núpcias com Ana Mendes de Brito.
2-IDEM, pº 7575, de Catarina Henriques.
3-IDEM, pº 1860, de Francisca Vaz, falecida aos 23 anos de idade.