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O impacto dos eventos desportivos

Gerir eventos desportivos ultrapassa e de que maneira a parte meramente desportiva em que o atleta ou equipa “A” vence ou bate um recorde nacional e o competidor ou equipa “B” perdem. Se fosse apenas isto, os eventos desportivos eram praticamente só para quem joga, corre, salta ou vai nadar.

Gerir eventos desportivos implica ter a noção de todo um conjunto de impactos que este tipo de iniciativas pode gerar para uma cidade, região ou país.

Não conseguir obter o devido impacto directo e indirecto com este tipo de iniciativas é desperdiçar uma ferramenta fundamental para gerar dinâmica económica, autoestima, sentido de pertença, orgulho e projecção mediática por parte das cidades, regiões e até dos próprios países. Veja-se o caso dos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, e da projeção e impulso que foi dado à cidade e região a nível global com este mega-evento desportivo.

O desporto é por excelência um espaço onde se vivem experiências, um conjunto de emoções e onde com alguma facilidade se criam laços afectivos com pessoas, equipas, marcas e locais.

Não aproveitar esta verdadeira força e esta capacidade de criar vínculo com as pessoas é um grande desperdício, sendo que isto é tanto verdade para quem compete como para quem vai apenas assistir.

Uma das grandes diferenças entre quem compete e quem assiste é o tempo-livre disponível entre as diversas competições, pois quem compete por norma aproveita as pausas para descansar e estar focado na preparação do jogo ou prova seguinte e quem apenas vai assistir tem muito mais tempo para conhecer os locais, visitar, experienciar e contribuir para a dinâmica económica local.

Eu próprio já estive por diversas vezes nestes papéis, quer como treinador de equipas, quer como espectador, sendo que enquanto treinador não usufrui praticamente nada da parte boa dos eventos em que participa, pois para o treinador é mais um momento de trabalho e de stress competitivo. Enquanto espectador a participação em eventos desportivos pode ser um momento de grande diversão, convívio e até de aquisição de novas experiências.

Posto isto, gostava de deixar a mensagem que a nossa região tem que ter a capacidade de atrair e organizar eventos desportivos, mas também de conseguir obter o devido impacto direto e indireto com este tipo de iniciativas, ou então corremos todos o risco de inconscientemente fazer tal e qual como na Roma antiga e de apenas andar a entreter as massas através do “espectáculo circense”.

 

 

Escrito por Paulo Jorge Araújo
Técnico Superior de Desporto, Licenciado em Ciências do Desporto pelo IPB e Especialista em Gestão Desportiva pela UP

 

Vendavais - Quando cai o pano

A expressão é muito antiga e deixa sempre no ar, uma intriga, um enigma ou a descoberta de algo interessante. Ficar a descoberto nem sempre é bom sinal e quando o pano cai pode descobrir muitas coisas, agradáveis ou não, que estavam encobertas. Assim, nem sempre é desejável ficar a descoberto.
O pano encobre sempre alguma coisa ou alguém. Seja como for, a expressão é deveras interessante, independentemente do objetivo com que se aplique.
Esta semana finda, o pano caiu e deixou a descoberto uma série de coisas deveras desagradáveis. No centro está Sócrates e o PS. O pano que acaba de cair era imenso. Não cobria só Sócrates, se assim fosse não seria necessário ser muito grande, apesar de tudo. Sobre ele muita coisa está descoberta, mas muito mais continua a ser destapada. Sobre tudo o que tem vindo a público sobre o antigo primeiro-ministro, já muito se disse e até se julgou. Todos julgam, todos tecem críticas e opiniões. Haja liberdade! Nada foi admitido por ele que se tem limitado a negar tudo de que é acusado, mas também nada foi proferido com sentença definitiva. As coisas transitam em julgado quando é necessário e depois nada se sabe. Por parte do Partido Socialista, Sócrates não recebeu nunca o apoio que esperava, mas estava com essa esperança na manga, até porque, alguém adiantou que seria um trunfo para as eleições presidenciais. Possivelmente também ele esperava isso mesmo. Esperava. Mas o PS cansou-se e não aguentou mais. Com o desastre do ex-ministro da economia, o tal dos corninhos, e todo o drama que ficou a descoberto e que o liga ao BES e a Ricardo Salgado, o PS puxou o resto do pano que faltava cair. E todos ficámos a saber que o PS ficou envergonhado com as atitudes e trafulhices que se descobriram acerca de Pinho. A venda da casa de Lisboa por cerca de 2 milhões, a compra da casa em Nova Iorque por mais de um milhão e a nova vida que leva em Manhattan e na China, para além das ligações a Sócrates e a Ricardo Salgado, foram demais. A tudo isto juntaram-se as transferências de muito dinheiro para offshores. O PS não aguentou mais e deixou cair o pano de tanta vergonha que tinha e a que se expunha. Foi o mais ajuizado.
Depois do pano cair e já todo descoberto um e outro, também Sócrates, percebendo que todo o apoio que esperava lhe faltou, abandonou o barco e lançou-se a nado em direção a terra. Saiu do PS e caiu por terra todo o sonho que alimentou durante algum tempo de vir a ser candidato às presidenciais.
A verdade é que o Partido Socialista nunca se quis comprometer com a situação do antigo primeiro-ministro. Aliás Costa foi visitá-lo, lembramo-nos bem, quando já se lhe apontava o dedo por não o ter feito logo no início. Foi o último a ir até à prisão visitar o correligionário, como uma obrigação que se impunha e não um desejo que devia satisfazer. A partir daí, nada mais disse. Pronunciou-se agora depois de Sócrates dizer que ia sair do Partido Socialista. E pouco disse a esse respeito.
Mas o PS está ferido de morte. Não sei se consegue aguentar tanto desatino dos seus ex-ministros e mesmo dos atuais, já que alguns estão na porta de saída com tanta farpa que lhes atiram e podem ferir gravemente. Possivelmente o pano que acaba de cair ainda não destapou tudo.
O palco onde toda esta gente se movimenta e contracena, parece ser demasiado grande e isso permite-lhes uma movimentação extraordinária, tão grande que é muito difícil segui-los. Deste modo, mesmo com o pano todo aberto, eles conseguem fugir aos olhares de todos os que estão no recinto. No Teatro, assistimos a peças maravilhosas e conseguimos perceber e entender todas as movimentações dos artistas. Todos têm um papel primordial na trama. Normalmente gostamos de ver, de assistir e aplaudimos no final a enorme representação dos artistas. É normal que assim seja. E quando o pano cai, não fica nada a descoberto. A peça acabou e nós percebemos tudo.
Mas no palco onde se movimentam estes outros artistas, tudo é diferente. O pano caiu para descobrir o que não se devia saber. A peça não estava bem escrita ou era desconhecida. Nós não a conhecíamos. O mal foi o pano ter caído antes de tempo!

Cantarinhas

A propósito de um qualquer despropósito ouvia-se Praça da Sé a intimação – vai fazê-lo a Pinela – ordem consubstanciada na existência de uma indústria artesanal/artesanal cuja matéria-prima era e é o barro, já no tocante à arte artesanal tenho sérias dúvidas. Vou tentar explicar a minha opinião colhida nos ensinamentos de especialistas de vários saberes e orientações, correndo o risco de me repetir.
Na Grécia antiga o technikos “era essencialmente o artista, não havendo então destrinça a arte desinteressada e a arte útil ou utilitária. Com o rodar dos séculos. Porém os artistas ou technikos vão-se estabelecendo em campos separados e, por vezes até, opostos.”
No primeiro grupo estão os artistas cujo motivo primacial é p prazer de produzirem coisas belas, o segundo não tanto por preocupações estéticas sim no intuito de honrarem os seus deuses, ou através desse meio lhe pedirem apoio e proteção e paz na vida eterna. Deles derivam as artes religiosas.
Por fim vem os que fabricam objectos úteis para conforto pessoal deles e dos outros homens, “que eles valorizam, pintando-os ou esculpindo-os, para os tornar agradáveis à vista. Não é outra a origem das chamadas artes decorativas.”
Ora, na Feira das Cantarinhas que eu conheci, flanei, namorei, percorria vezes sem conta, coexistiam peças desprovidas de decoração, julgo que primacialmente de Pinela, todas diferenciadas, umas das outras, no volume e na forma embora minimamente, mas diferentes, a provar quão certos estão os defensores da tese que o artesão nunca concebe duas peças milimetricamente iguais, e as cantarinhas, lisinhas, decoradas conforme a ideia e vontade do artesão que sendo-o já emprega instrumentos a auxiliarem-no na fabricação das peças.
A importância a cerâmica na vivência do Homem está representada em Museus e Centros Artísticos de todo o planeta, as sinuosidades da fabricação de cerâmicas decorativas ou não, transmontanas, não sei se figuram de forma escalonada e científica no Distrito, tenho alguns documentos a referirem-nas, da autoria da Senhora Dona Carolina e Alfredo Forjaz Sampaio, de modo transversal de Solange Parvaux, das edições do Instituto de Emprego e Formação Profissional, artigos de Belarmino Afonso e num inocente livro das edições Terra Livre, para além daquelas obras de espalhafato espumoso e pouca substância. Porque Bragança ganha respeito e consideração de teor cultural mesmo na área difícil da Cultura/Inculta (Alain Bloom) julgo séria e capaz de gerar retornos, estudar-se a possibilidade de ser criado uma Oficina/Centro/Ateliê/loja cujo elemento primacial seja o barro e barros do Nordeste.
Acerca da Feira o facto de não a viver há vários anos inibe-me de opinar, relatar impressões colhidas noutras não acrescenta muito porque a ânima é diferente, leio o programa, revejo refulgentes imagens dos idos de outros tempos, a ilusão traz-me de volta os perfumes primaveris vindos do extinto Mercado Municipal, a rua Direita envolta em picante alacridade, um formidável ambiente de festa. É melhor desvanecer a ilusão que para isso o cineasta Jean Renoir foi e é o grande Mestre, o dia das Cantarinhas sendo grande tornava-se pequeno pois passava pela ida a Cabeça Boa visitar o Senhor. Ia a pé, enrolado na namorada imitando os soldados que faziam guarda de honra ao túmulo de Dimitrov como vi mais tarde em Sofia, onde na cave da Catedral Alexandre Nevski contemplei precioso núcleo de ícones.
Agora duvido que se vejam as cabazes e cabazes merendeiros a verterem molhos e a desencadearem deliciosos odores a comida, o progresso também se encarregou de produzir transformações nesta matéria, felizmente, o apetite continua e os relvados prontos a receberem mantas merendeiras ainda não terão desaparecido.
As paisagens festivas estão muito valorizadas no nicho do turismo ambiental, os impressionistas deixaram deslumbrantes quadros a registarem festanças ao ar livre, Manet, Monet, Renoir por si só dão substância a inúmeras acções culturais de aglutinação de cromatismos, em Bragança também existem obras capazes de tal, no concelho os fundos patrimoniais noutros segmentos são excelentes, por assim ser entendo que a feira/festa das Cantarinhas, todas as festividades devem servir de forma e fundo à exaltação da nossa herança cultural. Os ingleses vendem os casamentos da realeza desde a caneca de cerâmica até à flauta de madeira aludindo aos enlaces, nós não somo ingleses, mas não podemos ser ingénuos, eles aproveitaram valentemente a nossa fraqueza, tal como as saudades que tenho da Feira dos anos sessenta por todos motivos, fiquemos com as recordações de modo a servirem de acicate a exaltarmos (e vendermos) as expressões que a terra dá, no caso concreto argila moldada, ou não ostentássemos a faixa do reino maravilhoso. E, por aludir ao «reino» áspero que nos empurrou para as sete partidas do Mundo, nos finais deste mês das cantigas do Maio e das Maias misteriosas, vai realizar-se em Lisboa um Congresso Transmontano, veremos se será outro Congresso Transmontano, ou mais um!

NÓS, TRASMONTANOS, SEFARDITAS E MARRANOS - Francisco Rodrigues da Silva (1554 – 1584 Relaxado)

 A mãe era originária de Barcelos e dava pelo nome de Benta Dias. O pai, Garcia Álvares, nascido em Bragança, formou-se em medicina. O casal residiu algum tempo em Bragança e ali terá nascido o filho Luís Álvares. Mudaram-se depois para Vila Flor, onde o Dr. Garcia exerceu as funções de médico do partido. (1) E em Vila Flor, pelo ano de 1554, nasceria o segundo filho do casal, batizado com o nome de Francisco Rodrigues da Silva.
Certamente que se tratava de uma família importante, pelo que, feitos os estudos preparatórios, os filhos rumaram à universidade de Salamanca. Luís formou-se em medicina, enquanto o Francisco se licenciou em advocacia.
Os dois irmãos casaram com duas irmãs, filhas de um advogado de Moncorvo, o Dr. André Nunes. E se Luís Álvares e a mulher, Branca Nunes foram morar para Vila Flor, Francisco Rodrigues da Silva e Ângela Nunes ficaram vivendo em Moncorvo, em casa de André Nunes.
Em Setembro de 1580 na vila de Moncorvo houve “alevantamentos” populares pelo Prior do Crato. A liderar o movimento estaria o Dr. André Nunes e, por isso, foi preso, por ordem do corregedor Diogo Dias Magro, que passou também ordem de prisão contra Francisco Rodrigues da Silva que, entretanto se ausentou para Vila Flor e viajou para Viana do Castelo onde seu irmão Luís e a cunhada tinham, entretanto, estabelecido morada.
Com o “juramento de bandeiras” pelo rei Filipe II de Espanha e a saída do corregedor Magro, em outubro seguinte, a tranquilidade voltaria a casa de André Nunes e Francisco Rodrigues regressaria também. E ele e o sogro retomariam a atividade profissional de advogados; este como proprietário do cargo de procurador da correição e aquele nomeado pelo sogro, coadjuvando-o ou substituindo-o. Adivinhava-se, pois, um futuro profissional muito brilhante para o jovem advogado Francisco Silva.
E como procurador, competia-lhe acompanhar o corregedor pela comarca, significando isso que ele se tornava conhecido nos auditórios dos vários concelhos da região. A título de exemplo, e porque foi acusado de guardar o Kipur de 1582, veja-se a seguinte declaração por ele proferida:
- Provará que no mês de setembro de 1582 o réu andou pela comarca da Torre com o corregedor dela, desde o princípio de setembro, e partiram a uma sexta-feira e chegaram um sábado à vila dos Cortiços e no domingo estiveram em uma boda do licenciado Gaspar Dias e na dita vila estiveram e residiram todo o mês de outubro e ele réu se achou ali sempre presente e não saiu dali, requerendo nas audiências e sendo este lugar 8 léguas da Torre. (2)
Situemo-nos agora em Moncorvo em março de 1583, quando ali esteve em visitação o inquisidor Jerónimo de Sousa (3) e no seguimento da qual se deu início a uma enorme vaga de prisões em Vila Flor e Moncorvo, nela se incluindo toda a família de André Nunes, (4) à exceção da filha Isabel da Mesquita e do genro e sobrinho, o Dr. Gaspar Nunes, médico, que se abalaram para a Galiza e dali chegaram ao Perú.
Acompanhemos agora Rodrigues da Silva, que foi conduzido pelo solicitador do fisco, Domingos Camelo, à cadeia da inquisição de Coimbra, onde foi entregue em 19.7.1583.
Impossível analisar aqui o seu processo que consideramos verdadeiramente exemplar. Na verdade as denúncias de judaísmo feitas contra ele são débeis, se as compararmos com as dos outros membros da família. Uma delas foi feita pelo irmão, Luís da Silva, dizendo que os dois “algumas vezes praticaram sobre a vinda do Messias e diziam que não era vindo”. Outras foram feitas por Diogo Nunes, tio de sua mulher, irmão de André Nunes, dizendo:
- O ano passado, na véspera de S. Miguel de Maio, foi ele denunciante em companhia de Francisco Rodrigues da Silva à feira de Vila Nova de Fozcôa e se tornaram para a Torre e vieram jantar à Veiga de Vila Nova (Pocinho) na Venda da Judia e a merenda que uma cristã-nova lhes deu foi toucinho para comerem e eles comeram. E depois de jantar, vindo pelo caminho, lhe veio dizendo o dito Francisco Rodrigues da Silva que comia toucinho por não poder deixar de o fazer para o não entenderem e que lhe sabia muito bem (…) E poucos dias antes que prendessem ao dito André Nunes, se achou em sua casa, à tarde, às horas da ceia. E o dito Francisco Rodrigues da Silva ceava um coelho e Ângela Nunes, sua mulher, não queria comer dele e posto que ele a importunava e agastava por ela não querer comer; e André Nunes disse que comesse e que fizesse o que lhe mandava seu marido; e então ela comeu (…) e André Nunes andava maldisposto de cólica e comia galinha cozida.
Resta dizer que todas as denúncias contra o jovem advogado foram feitas por familiares seus, igualmente presos. De contrário, ele não denunciou ninguém e sempre negou todas as acusações que lhe faziam, apresentando uma defesa verdadeiramente assombrosa. Dela, vejamos apenas um ponto, que põe em causa a própria justiça inquisitorial, contrária à justiça episcopal.
Com efeito, argumentou R. Silva que em cada 3 anos, a vila de Moncorvo era visitada pelo arcebispo de Braga e em cada ano era visitada pelo vigário-geral do arcebispo. Pois, continuava ele, nessas visitações todos os cristãos eram obrigados a denunciar todos os casos de práticas judaicas. Acontece que a última daquelas visitações terminou poucos dias antes da visita do inquisidor Jerónimo de Sousa. Como explicar que ele e os outros nunca, em nenhuma das visitações do “ordinário” fossem denunciados por ninguém e, de repente, aparecerem tantas denúncias? Das duas, uma: ou sempre andaram a mentir e a pecar à face de Deus e da Igreja, ou agora mentiram e as denúncias foram feitas por ódio e vingança e não por zelo e fervor cristão. (5)
De resto, a sua defesa constitui um verdadeiro libelo acusatório de algumas famílias da nobreza e da governança da terra e um vivo reportório das lutas políticas e dissensões sociais entre as elites cristã-nova e cristã-velha de Torre de Moncorvo e até dos vizinhos concelhos de Vila Flor e Freixo de Espada à Cinta, na medida em que as diversas famílias e comunidades se interligavam. 
Acresce que, logo depois das primeiras prisões, foi elaborado um documento enviado ao Inquisidor-geral, como defesa coletiva das pessoas que foram presas em Torre de Moncorvo, na sequência da visitação do inquisidor Jerónimo de Sousa. Tudo indica que o autor principal deste documento fosse o Dr. Francisco Rodrigues da Silva. (6)
E aqui, encontraremos talvez a explicação para o estranho facto de todos os outros presos terem sido libertados, com penas mais ou menos leves e apenas o Dr. Francisco Rodrigues da Silva fosse queimado, no auto da fé de 25 de novembro de 1584. Ousou enfrentar a máquina inquisitorial!
O inquisidor geral, D. Jorge de Almeida, ter-se-á sentido incomodado com aquela exposição. E por isso ordenou aos inquisidores de Coimbra especial empenho no despacho dos processos dos presos de Torre de Moncorvo. (7)

Notas:
1-Em Vila Flor, casada com Bernardo Lopes, morava também uma irmã do Dr. Garcia, chamada Maria Álvares, a qual foi presa pela inquisição em 1557 – ANTT, inq. Lisboa, pº 2893.
2-IDEM, inq. Coimbra, pº 8450, de Francisco Rodrigues da Silva.
3-IDEM, Livro 662 da inquisição de Coimbra, pg. 60v – 100v; ANDRADE e GUIMARÃES – Subsídios para a História da Inquisição em Torre de Moncorvo, ed. Câmara Municipal de Torre de Moncorvo, 2007.
4-Não encontrámos nos ficheiros do ANTT o processo do Dr. Luís Álvares da Silva.
5-Provará que de 20 anos a esta parte, sempre o arcebispo de Braga visitou a vila da Tore de Moncorvo cada 3 anos, em pessoa; e os seus vigários visitaram todos os anos e o ano presente de 83, a visitou o vigário-geral da dita vila e acabou a visitação poucos dias antes que a ela fosse o senhor inquisidor (…) ele réu foi culpado em visitação, por onde se vê claramente que se algumas pessoas o culparam, não foi com zelo e cristandade, senão por ódio e inimizade sua e de seu sogro, porque o houveram de dizer nas ditas visitações ou a seus confessores, mas não o disseram, na verdade por não haver culpas; e o fizeram na visitação do santo ofício porque sabiam que não se saberia quem eram.
6-Este documento (Petição dos cristãos-novos de Torre de Moncorvo) encontra-se transcrito no processo nº 89 da inquisição de Coimbra, folhas 84-87, de Francisca da Silva. MEA, Elvira Cunha de Azevedo – O procedimento inquisitorial garante da depuração das visitas pastorais de Braga (Século XVI), in: Actas do Congresso Internacional do IX Centenário da Dedicação da Sé de Braga, Volume II/2, pg. 67-95.
7-ARCHIVO HISTORICO PORTUGUEZ, Vol. IX, p.342: – Senhores. Os treze presos que trouxe Inofre de figueiredo se despacharão em conselho com a diligencia que puder ser, por que parece bem que o auto se não defira mays tempo e se escuse a despesa que se faz com os presos, e ey por bem que os reconciliados da torre de Moncorvo e doutras partes, que tem perdido suas fazendas, se provisão do fisco per tempo de hum mês, ou dous, que me escreveys poderão andar nessa çidade, e quanto aos filhos dos reconciliados folgarey de saber quantos são, e sua idade e o modo em que vos parece se pode prover sobre sua criação e doutrina… Lisboa, 9 de Agosto de 84. O Arcebispo Inquisidor geral.