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Erros de pronúncia

Se estão a ler este texto com recurso a uma ferramenta de tradução, abandonem. Não é nenhum tipo de discriminação. Só que isto só faz sentido em Português. Estou apenas a poupar-vos tempo. E “time is money”, como diz o povo.

Brincadeiras à parte, feita a depuração, ficamos a sós. De falante da língua portuguesa para falante da língua portuguesa. Pareceu-me ligeiramente romântico, posto assim. E fiquei até agoniada, com tanto mel que escorre desta relação cronista-leitor. Deve ser do raio do mês do amor, que me está a deixar avariada. Tive que parar de digitar para ir vomitar. Agora já estou bem, obrigada. Subiram-me os açúcares em demasiada, não fui capaz de me aguentar a esta bronca. Que enjoo!

É que eu sou mais das ferroadas do que dos favos. E, já que estamos a falar de insectos que picam e fazem maleita, fica mais um aviso - hoje vamos mexer num vespeiro.

O amor está a destruir-nos. A nível de ortografia e de dicção. O amor pode vir a ser, de acordo com esta especialista que vos escreve, o final do legado de Camões. Dramático? Drama são todos os diminutivos que chamam à vossa cara-metade, a maneira como os escrevem e a vozinha ridícula com que os dizem. À vossa cara-metade ou a quem dedicam a vossa maior atenção. Maior, não toda. Retenham esta ideia. Vai fazer falta mais adiante.

Porque às vezes há um ser que, quando entra no mesmo espaço onde nós estamos, faz sair o ar todo, até custa respirar. E o que importa quem mais está ali? O epicentro passa a estar mapeado. “Quando estás, não há para mais ninguém”. Já alguma vez esta frase terá sido dita. Com muito álcool à mistura, claro. Mas, quando não está... bem... Há sempre quem esteja. Temos os estrangeirismos. “Sweetie”, que podia ser só um “querido/querida”. Depois há o “love”, “baby”, “babe” e outros tantos que me fazem entrar no “Brilhantina” e libertar a Sandy que há em mim, perdida nos refegos.

Procurei uma lista destas alcunhas. Para eles, entre as mais comuns estão “Rei” (e aqui nasce uma frase de engate épica que posso usar - “se queres que te chame Rei, casa comigo”. Vou experimentar mal possa. Depois conto), “Coração”, “Sonho”, “Encantado” (presunçoso), “Pudim” (por favor, não usem esta em público). Para elas, claro, “Princesa”, “Flor”, “Gatinha”, “Boneca” ou “Pêssego” (e isto faz-me lembrar que, certa vez, me comparei a esta fruta - redondinha, fofa e com boa cor).

Dizemos estas barbaridades como se estivéssemos a dirigir-nos a uma horda de bebés de fralda ou como se tivéssemos uma deficiência na fala. E porquê escrever “lindo” quando podemos escrever “windo” e encher tudo de bonecada?

De propósito, guardei o mais comum para o fim. “Mor”. Redução de “amor”. Curioso, o que é para dar sem limite é o que encurtamos. Mor |ô|. Ajuda para saber como se pronunciar. Porque, neste idioma traiçoeiro, temos também o Mor |ó|. Redução, sim, mas de “maior”.

No outro dia vi uma publicação nas redes sociais que dizia “Parabéns, mor”. Aliás, vejo quase todos os dias. Só que nunca ninguém deixa indicação de como se lê aquilo que escreveu. Por isso, se um dia descobrirem que quem vos escrevia “mor” andava com mais 20 pessoas além da vossa “relação”, não lhe chamem nomes feios nem lhe dediquem ódio. Se calhar, foi só um erro de pronúncia, e nunca ninguém vos enganou.

À procura de soluções

Acabaram as eleições legislativas, mas ainda se está à procura de resolver muitos problemas que ficaram em aberto e necessitam de resolução e um deles é a realização de novas eleições para os círculos de fora da Europa.

Mas há muitos outros e algumas eleições a serem feitas no curto prazo. Os resultados inesperados revolucionaram o Parlamento e mesmo até a sociedade civil. Os partidos sofreram na pele, poruma razão ou por outra, as consequências dos seus desmandos. O PS ficou agradecido com a maioria recebida e inesperada, de igual modo que foi inesperado o resultado para todos os  outros partidos. O desaparecimentodos Verdes e do CDS e quase do PAN do Parlamento foi, não só inesperado como um grave problema a necessitar de resolução urgente. Também o Chega tem o seu problema que é saber se a sua representação se vai consolidar depois da legislatura prestes a iniciar-se. E o PS? Pois também tem, já que será difícil manter a maioria depois da legislatura que vaicomeçar.

Problemas idênticos vão ter tanto o Pan como o PCP ou mesmo o Livre. Faz parte do ADN dos partidos. Temos assim, um espetro alargado de procura de soluções várias para muitos partidos. Mas não vai ser fácil resolvê-los já que cada um tem vicissitudes diferentes. Mas porquê todos estes problemas? O que motivou toda esta alteração? Penso, como muitos outros analistas, que a explicação está em quem votou e como votou, ou seja, no voto das mulheres e no dos homens. Dirão vocês “claro, quem mais poderia ser?”. Sim, mas é o sei conjunto que conta. Se só tivessem  votado mulheres, a esquerda teria mais deputados e o PS teria uma maioria mais largada. Mas se só votassem homens, o PS já não teria maioria absoluta e até o Chega teria mais votos e deputados. Mas também a idade interfere nos resultados. Se votassem só pessoas menores de 35 anos, o PS e o PSD ficariam empatados e haveria uma maioria de direita. Neste caso a Iniciativa Liberal seria a terceira força política. Quer isto dizer que houve uma assimetria de género nas votações de 30 de Janeiro. O voto feminino mais à esquerda que o voto masculino, não tinha chegado ainda a Portugal, mas chegou agora.

Neste momento andam todos à procura de soluções. O CDS já tem candidato que está disposto a reposicionar o partido e levá-lo de novo para o Parlamento de onde nunca deveria ter saído. A palavra de ordem é “União” e tem razão. Só a união faz a força. Nuno Melo já apelou a essa união e muitos dos que abandonaram prematuramente o partido ou se afastaram da anterior liderança, já manifestaram intenção de regressar. Um partido fundador da democracia em Portugal, não pode deixar o seu lugar livre para usurpações alheias. A dispersão dos votos de mulheres e de homens, mais novos e mais velhos, acabou por ditar o resultado. Não agradou a muitos, mas em democracia tem de se saber aceitar o que o povo determina. Hoje foi assim, amanhã será certamente diferente. O caminho é espinhoso, mas terá de ser feito. E para isso é necessário abrir horizontes, criar novas dinâmicas.
Também os sociais-democratas estão em ebulição. Rui Rio não quer culpas e também não quer continuar à frente do partido. Para Rio, as razões do descalabro eleitoral, são essencialmente
quatro: voto útil à esquerda para evitar que o PSD ganhasse as eleições; muita gente dependente de subsídios e muitos funcionários públicos; as promessas em catadupa do PS e finalmente a deturpação e a máquina de propaganda do PS. E balizando o partido entre duas posições para a resolução, acabou por dizer que ou o partido deveria comportar-se como uma máquina eleitoral
ou manter-se com os objetivos partidários que sempre teve não se desvirtuando do seu papel social-democrata inicial. E com isto, disse tudo. Luís Montenegro será o principal candidato à liderança do PSD, segundo parece. Derrotado no confronto com Rui Rio em 2020, Montenegro deverá voltar a ir a jogo e está a reunir apoios em todos os setores do partido. Não terá tarefa fácil.
Outros poderão posicionar-se nesta corrida, mas todos correm o risco de serem as lebres da próxima caçada. A travessia do deserto será enorme para todos.

Quatro anos de abstinência. As soluções não se compram ao virar da esquina. É preciso equacioná-las, elaborá-las e desenvolvê-las. A sua posta em prática será a prova da sua aprovação ou não. De uma forma ou de outra, a procura de soluções é inevitável para todos os partidos, muito embora o percurso seja longo e difícil. Cabe-lhes a eles procurá-las.